Sempre que falo sobre essa minha coluna aqui no Leitor Cabuloso eu digo “eu publico textos sobre cinema e literatura”, bom, hoje vou mudar um pouquinho isso, mas continuarei no universo audiovisual. Falarei sobre “Maldição na Residência Hill” e do livro que inspirou a série, “A Assombração da Casa da Colina” de Shirley Jackson.
Estava querendo ler Shirley Jackson há muito tempo, afinal, sempre lia os elogios de Stephen King e outros autores sobre ela. Os elogios e os ótimos comentários iam desde a sua escrita até as histórias que ela criou. Nesse sentido é triste ver que não temos tantas publicações diferentes dela. Apesar disso, temos boas edições disponíveis nas livrarias e ao alcance de um click.
O horror não é só horror
Nenhuma obra de horror é apenas para dar medo. Todas têm algo a mais para dizer. Se pegarmos os livros do Stephen King como exemplo, veremos que na verdade, muitas de suas obras tratam de questões mais complexas do que o mal ou um monstro. “It – A coisa” e o conto “Conta Comigo” falam sobre amizades, infância, lembranças e crescimento. “O Iluminado” fala sobre dependência e alcoolismo, entre outros. Enfim, essas obras (e seus respectivos filmes) tratam sempre de algo a mais, sempre há um subtextos interessante ali.
“A Assombração da Casa da Colina” fala muito sobre crescimento e independência, além, é claro, de ser uma ótima história de casa mal assombrada. Não é muito comum que pessoas larguem tudo o que estão fazendo para passar um tempo em uma casa estudando efeitos paranormais. Acompanhando todas as personagens observamos o crescimento delas, principalmente de Eleanor, que é o fio condutor de toda a história.
Vemos não só como ela vai crescendo enquanto pessoal, como também os seus medos e inseguranças. E observamos como a casa utiliza dessas inseguranças para enlouquecer Eleonor.
Enquanto o livro de Shirley Jackson é sobre pessoas diferentes que se encontram em uma casa para um propósito em comum, a série dirigida por Mike Flanagan conta a história de uma família que foi devastada pelos eventos ocorridos durante a estadia nessa mansão mal assombrada. Vemos o quanto cada um dos integrantes da família (todos com os nomes das personagens de Jackson) mais velhos e tendo que lidar com o trauma daquela situação e com novos acontecimentos relacionados a casa da colina.
Adaptação de A Maldição na Residência Hill e nova abordagem
Na adaptação não temos mais crescimentos individuais, mas sim um estreitamento das relações familiares. “A Maldição da Residência Hill” me parece mais um drama de como um evento traumatizou uma família e a série está ali mostrando como eles superaram isso. Sem se perder e respeitando o gênero em que a obra se insere. Esse hibridismo dentro da série, de hora ser um horror de não nos deixar dormir sem nos cobrir dos pés a cabeça e hora ser um drama que nos faz querer chorar agarrado com o travesseiro é o que faz ela ser tão boa quanto todos estão cansados de dizer. A forma como Flanagan consegue misturar os elementos de cada gênero é simplesmente fantástica.
Jackson consegue desenvolver muito bem as individualidades de cada um e da casa. Da mesma forma, Flanagan consegue desenvolver as relações familiares e dos traumas vividos naquele período por toda a família. São duas obras diferentes, apesar da série ser inspirada no livro. E claro, de ter o mesmo tema de casa mal assombrada. Mesmo assim, com todas as diferenças, elas conseguem cada uma a sua maneira captar aquele que assiste e lê.
“A assombração da Casa da Colina” e “A Maldição da Residência Hill” são ótimos exemplos de como o horror consegue falar de diversos temas sem perder sua característica de assustar e causar medo. Fica a esperança de que tenhamos mais obras de Shirley Jackson traduzidas aqui no Brasil, merecemos ter acesso a mais livros dessa escritora maravilhosa.
