Diversidade é uma palavra que vem a mente quando terminamos de ler Redemoinho em dia quente de Jarid Arraes, mas não a única. Pois, nos contos que compõe esse livro, a autora nos mostra a imensa diversidade que há dentro da ideia do que é “ser mulher”, através de narrativas únicas e muito marcantes sobre personagens mulheres .
Muitas mulheres, mulheres diversas
Entre as personagens retratadas no contos há mulheres idosas, jovem adultas, crianças e adolescentes. Mulheres cis e trans, de sexualidades diferentes. E a autora transita entre diversas formas de narrar também, utilizando estruturas variadas, inclusive há um conto todo de verbetes como um dicionário. Ou seja, é um livro de contos que não cai na monotonia.
Assim, é muito interessante observar como cada personagem tem sua própria voz nas histórias. E as vivências típicas de ser mulher numa sociedade machista são tratadas de maneiras bem singulares. Violência doméstica, abuso sexual, lgbtfobia, saúde mental, entre outras questões, são alguns dos temas que aparecem nos contos.
Por exemplo, em Moto de mulher, a personagem finalmente consegue comprar sua tão sonhada moto e sai para trabalhar pela primeira vez como motoboy, mas se depara o tempo inteiro com o preconceito, Além disso, tem que lidar as dúvidas que surgem devido a própria falta de autoconfiança.
E em Gilete para peito uma mulher bissexual perde sua irmã mais velha e tem que lidar com o ressentimento devido ao preconceito sofrido quando contou para a família sobre sua sexualidade.
E Voz conta a história de Janaína, uma mulher trans que tem o sonho de ir no programa do Silvio Santos. Para isso, começou a vender salgados na rua. Enfim, são muito contos e todos trazem mulheres de todos os tipos, com vivências de todos os tipos.
Hoje percebo que se apegar ao seu eu destruido é mais comum do que os outros pensam
Cariri: local e personagem de Redemoinho em dia quente
Todos os contos se passam na região do Cariri, no Ceará. E, além de ser pano de fundo e ambientação para todas as histórias, a sensação é que o local também poderia ser o personagem que liga todo o livro.
As paisagens, costumes, vizinhanças aparecem (em alguns contos mais que em outros) e nos apresentam a região através da visão de cada personagem. Por isso, é incrível reparar nesses detalhes e conhecer esse local, que é, ao mesmo tempo, tão único e tão parecido com qualquer cidade de interior no Brasil.
Único e universal
A autora trata de temas que, na maioria das vezes, são comuns na vida de todas as mulheres. Então, cada história acaba sendo muito relacionável, pois é fácil se identificar com as personagens e suas vivências.
Tem histórias de amor e desamor, histórias que mostram aquela que todos no bairro chamam de “a doida”, histórias com cachorros e gatinhos. Há, ainda, histórias em que a gente não sabe se são fantasia ou realidade. Ou seja, tem contos para todos os gostos.
Redemoinho em dia quente foi uma leitura deliciosa de fazer, ainda que alguns contos fossem mais sofridos e me demandassem uma pausa antes de continuar. Além disso, cada história é bem curtinha, então é um livro rápido de se ler. Enfim, recomendo a todos que conheçam a escrita da Jarid Arraes, essa autora nordestina que já ganhou prêmios por suas obras e, com certeza, ainda vai fazer muito mais sucesso!
Nota
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Ficha Técnica
Nome: Redemoinho em dia quente
Autora: Jarid Arraes
Edição: 1ª
Editora: Alfaguara
Ano: 2019
Páginas: 128
ISBN: 8556520898
Sinopse: Escritora conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos em Redemoinho em dia quente. Focando nas mulheres da região do Cariri, no Ceará, os contos de Jarid desafiam classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres.
Uma senhora católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios que seu gênero representa ― Jarid Arraes narra a vida de mulheres com exatidão, potência e uma voz única na literatura brasileira contemporânea.