Parece que, quanto mais caótico o mundo, menos importância as pessoas dão para a arte. Afinal, quando tudo está à beira do abismo, temos coisas mais importantes com que nos importarmos, certo?
Errado.
Não vou aqui defender que a arte está acima das necessidades básicas de subsistência das pessoas, mas que ela é também uma necessidade básica. Você pode achar vazio e até utópico quando colocado dessa forma, porém, não tenho medo de dizer: a arte salva.
Nos momentos em que as garras do fascismo se apoderaram (e se apoderam) da nossa existência, bradamos “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Quando existências são descredibilizadas e pessoas morrem simplesmente por serem quem são, defendemos que “Um milhão de finais felizes” são possíveis e válidos.
A arte é um espaço (ou, pelo menos, deveria ser) de acolhimento para a diversidade de vivências. É claro que ainda há muito o que caminhar no que se diz respeito à abertura para diferentes vozes e, por isso, é importante valorizar iniciativas que tentam quebrar a hegemonia do homem-branco-cis-hétero no meio artístico. Para citar alguns exemplos, há a editora Escureceu, que vem resgatando textos clássicos de autores negros, e a antologia Farras Fantásticas, da editora Corvus, com autores de todos os estados do Nordeste, ou até mesmo a Livraria Maracá, especialista em literatura indígena.
Nesse mais de um ano que o mundo enfrenta a pandemia do coronavírus, eventos online, lives, filmes, séries, livros, músicas e podcasts foram, muitas vezes, um alento para enfrentar a loucura que se tornou viver. E esse foi um dos assuntos abordados no décimo primeiro episódio do podcast Leia Novos BR, em que recebemos a escritora Camila Loricchio. E, para aprofundar o papo, trazemos aqui a opinião dela sobre como tem sido criar arte nesse momento de caos:
“Tem sido ao mesmo tempo um parto difícil e de autoauxílio, acredito.
Embora isso pareça bem contraditório, é mais ou menos por aí que tenho caminhado.
Estou tendo de achar um equilíbrio entre produzir pra mim, produzir pra outros, e não encarar isso como de fato uma obrigação. Não era pra estarmos fazendo nada, não era pra estarmos tendo de seguir em frente pra uma situação que não acabou (até porque pra seguir em frente algo precisa ser superado né). E mesmo assim cá estamos.
Fazer as pazes com não conseguir fazer nada e aí sentir uma urgência de fazer tudo logo no instante seguinte, de ver uma frase que não consegue ser escrita logo depois de um dia que as coisas se encaixaram tem sido… bem. Tem sido quase a mesma coisa que durante outros períodos da vida, mas mais intenso desde o ano passado. A questão chave é essa na verdade, intensidade. Pro bem e pro mal. Tenho feito as zines que sem querer caminharam pra uma vertente mais autobiográfica (pensar sobre si e sobre os outros tem sido um fantasma recorrente), embora bem ficcional. Tentar ir pro desenho pra sentir algo novo caminhando, tem sido bom. Tem sido. haha
Ano passado teve Cummulus, e nossa, ler sobre ele ser uma companhia boa pra algumas pessoas num período tão solitário, tão nebuloso (uso intencional da palavra!), me fez uma companhia incrível. Saber que algo que fiz, que uma arte feita, consegue fazer companhia quando eu mesma não consigo, foi um alento que não sabia que precisava, e que me deu, e ainda tem dado, gás pra conseguir lidar com todo esse caos. Um caos que a gente só vai processar bem com mais arte. Seja a que fazemos, seja a que lemos, vemos, ouvimos e sentimos. Continuamos sempre.“
Esperamos que nossa livraria mágica esteja ajudando vocês a ter um pouquinho de diversão em meio a tudo isso que estamos passando. Adoraríamos que nossas traças de estimação pudessem eliminar todo o caos impregnado no mundo, mas, enquanto isso não é possível, oferecemos nossa disposição em fazer chegar a vocês histórias maravilhosas. Defendam e valorizem a arte.
Créditos
Nem só de duendes e sacis é feita a equipe da LeiaNovosBr!
Esse capítulo da nossa livraria só foi possível pela ajuda dos nossos colaboradores incríveis.
Texto: Carol Vidal
Arte da Vitrine: Daielyn Cris Bertelli
E pela ajuda das pessoas que nos apoiam:
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