Nos últimos anos tivemos uma grande quantidade de obras de Howard Phillips Lovecraft publicadas e republicadas, como também diversos produtos derivados do universo criado por um dos maiores expoentes do horror cósmico, inclusive “A Cor que caiu do espaço”. Tivemos quadrinhos adaptando os seus maiores contos, como reimaginação das suas histórias. E tivemos também um filme realizado em 2019 dirigido por Richard Stanley e com Nicolas Cage, mas voltaremos a essa obra mais tarde.
A obra de Lovecraft como um todo tem alguns pontos que merecem discussão, e vamos a eles agora.
Cancelamento, separação da obra e o autor
Os contos e novelas de Lovecraft são sempre cheios de passagens com demonstrações nítidas de racismo e de xenofobia. Muitos, buscam defender o autor dizendo que isso acontece por ele ser um homem do seu tempo e está reproduzindo os preconceitos da sua época. Outros também dizem que há a necessidade sempre de separar a obra do autor.
Discordo das duas espécies de defesas que já me foram apresentadas. Primeiro, sempre que alguém me fala que determinado autor é “um homem do seu tempo” parece que está dizendo “tudo bem ele escrever coisas racistas, ele é do início do século passado” e não é bem assim. Todas as pessoas, de todas as épocas, são pessoas do seu tempo, isso não é nenhuma autorização para que esse autor seja racista ou coloque nas suas obras algum tipo de preconceito. Uma coisa é dizer que esses assuntos não eram tão discutidos naquela época como é hoje, mas não, não era e não era uma coisa normal. Sem falar que, nós também somos pessoas da nossa época e não podemos deixar de pensar e discutir esses assuntos.
A segunda afirmação que diz que temos que separar o autor da sua obra, mas o racismo e a xenofobia não eram assuntos apenas de sua vida pessoal. A própria obra é composta por essas questões. Não há como fazer tal separação, afinal, o racismo está na obra.
Antes de fecharmos esse assunto – que acredito que não está nem próximo de estar, de fato, esgotado – essas afirmações não fazem parte de uma espécie de “cancelamento” do autor. Ninguém, muito menos eu, acha que as pessoas devem parar de ler, comprar e consumir as obras do Lovecraft e os produtos que são derivados dela. No entanto, é necessário sim que discutamos todos os assuntos que fazem parte da obra, e os preconceitos fazem parte disso.
Adaptação cinematográfica e uma referência ao horror
Chegamos enfim a adaptação de “A Cor que Caiu do Espaço” para os cinemas. A história é de quando, em uma certa noite um objeto colorido caiu em uma fazendo, isso faz com que as plantações e os animais sofram um tipo de mutação genética causada por essa estranha presença.
Dirigido por Richard Stanley e protagonizado por Nicolas Cage, o filme foi muito aguardado pelos fãs do gênero e pela curiosidade de ver Cage em um papel como esse. Não que esse tenha sido o primeiro filme de horror do ator, que anos antes havia feito o psicodélico “Mandy” (2017).
No geral o filme é bem interessante, cheio de cores que nos remetem imediatamente a novela original. Além, de nos remeter também a cenas de horror dos anos 80, como por exemplo, uma que parece estarmos vendo os huskys siberianos todos amontoados no clássico filme de John Carpenter “O Enigma de Outro Mundo” (1982). Há também diversas cenas de objetos e seres vivos que estão sendo absorvidos por outros e se juntando para se tornar figuras horripilantes.
“A cor que caiu do espaço” não é só um bom filme de terror, como também é uma ótima adaptação. Stanley conseguiu captar o que era importante e essencial na obra de Lovecraft e, ao mesmo tempo, consegue criar novas cenas para construir um nova obra com suas próprias especificidades.
Stanley tem planos de continuar adaptando obras de Lovecraft para o cinema, aguardemos.