[Resenha] O último sorriso na cidade partida

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Capa do livro. A capa é toda azul, com tons mais escuros para sombra, e amarelo para os reflexos de luz. No centro um homem de sobretudo caminha para o fundo. O fundo é composto por um mapa urbano podendo notar os trajetos das ruas. Silhuetas de morcegos e corvos compõem parte do fundo. Em primeiro plano, em branco o titulo do livro, e na base, em amarelo, o nome do autor
Capa do livro. A capa é toda azul, com tons mais escuros para sombra, e amarelo para os reflexos de luz. No centro um homem de sobretudo caminha para o fundo. O fundo é composto por um mapa urbano podendo notar os trajetos das ruas. Silhuetas de morcegos e corvos compõem parte do fundo. Em primeiro plano, em branco o titulo do livro, e na base, em amarelo, o nome do autor

O último sorriso na cidade partida é o livro de estreia do australiano Luke Arnold. Ele também é ator, sendo bastante conhecido por interpretar o pirata John Long Silver na excelente série Black Sails. O livro é o primeiro de uma série de fantasia urbana chamada Os arquivos de Fetch Phillips cujo terceiro livro acabou de ser escrito recentemente, conforme informado pelo autor em sua conta no twitter.

Segundo a inscrição na porta de seu escritório, Fetch Phillips é um “Faz Tudo”. Ele realiza diversos tipos de trabalho, desde procurar cachorros perdidos até ser guarda-costas, mas os negócios não vão bem. Fetch mora no próprio escritório e mal tem dinheiro para suas necessidades básicas: café e bebida.

O livro começa com Fetch sendo contratado pelo diretor de uma escola para encontrar um professor desaparecido. O diretor é um mago e o professor, um vampiro. Os alunos da escola são crianças de diversas raças de seres mágicos: elfos, anões, vampiros, fadas, ogros, etc. O que todos têm em comum é que eles não tem mais seus “poderes” porque a magia do mundo acabou abruptamente seis anos atrás.

Um mundo partido

O melhor de O último sorriso na cidade partida é a criação do universo no qual a história se passa. Antes do evento que ficou conhecido como Coda, o mundo era cheio de magia. Todo tipo imaginável de raça mágica estava presente no mundo junto com os humanos e tudo funcionava a base de magia. É claro que os humanos tinham inveja disso.

Como ficamos sabendo logo no primeiro capítulo do livro, os humanos foram responsáveis por destruir a fonte da magia. Então o mundo simplesmente se transformou de um momento para o outro: elfos envelheceram em questão de segundos, trolls viraram pedra, dragões caíram do céu, entre outras tragédias.

Mudanças

Sunder City ou Cidade Partida é o local onde se passa a maior parte da história do livro. Foi uma cidade muito importante por abrigar diversos seres mágicos e onde, agora, alguns deles tentam recomeçar a vida depois da magia acabar.

Algo que gostei bastante no livro foi a discussão de como seguir em frente quando tudo muda radical e abruptamente. É muito difícil recomeçar a vida quando se perde aquilo que definia sua existência. No livro encontramos personagens totalmente agarradas ao que foram um dia e revoltadas com a realidade. Outros tentam seguir em frente, se adaptar a nova vida e fazer algo de bom.

Eu li este livro na mesma época em que maratonava a série Black Sails pela segunda vez e não pude deixar de fazer uma conexão entre os dois. Ambos abordam “poder da história”. No livro, vemos como os humanos manipulam a narrativa para que os seres mágicos sejam os vilões e, com isso, buscam justificar os atos terríveis que levaram ao Coda. Num momento do livro, Fetch compara museus que ele visitou em cidades diferentes e fica claro como a história é manipulada para favorecer quem a está contando. Em Black Sails, a narrativa que a coroa inglesa cria, faz dos piratas monstros sanguinários que só merecem a forca, um mal a ser temido e que justifica a aplicação de altas taxas comerciais devido ao perigo de ataques. Como disse o Capitão Flint: todo mundo é um monstro para alguém.

Nada permanece igual por muito tempo, Fetch. Cada tragédia eventualmente se torna o entretenimento de alguém.

O primeiro arquivo

O primeiro livro da série Os arquivos de Fetch Phillips serve de introdução ao rico universo criado por Luke Arnold. Apesar de começar com uma investigação, o livro não foca muito na mesma. Ela é usada mais como uma motivação para ir apresentando o passado de Fetch, os fatos que levaram ao Coda e, principalmente a ligação entre os dois.

A narrativa prendeu muito minha atenção e a leitura fluiu rapidamente. Fetch narra a história e eu adorei seu humor sombrio e autodepreciativo. Ele é um homem cheio de problemas em um mundo ainda mais problemático, mas que está tentando se adaptar e fazer algo de bom.

A investigação que dá início ao livro se encerrou, mas a história de Sunder City e desse novo mundo me deixou querendo mais. Sem dúvida, lerei os próximos livros da série.

Nota

Quatro selos cabulosos e meio. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.
Quatro selos cabulosos e meio. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.

Garanta a sua cópia de “O último sorriso na cidade partida”!

Ficha Técnica

Título: O último sorriso na cidade partida
Autor: Luke Arnold
Tradução: Giu Alonso
Editora: Trama
Ano: 2021
Páginas: 304
ISBN: 978-6589132073
Sinopse: Fetch Phillips carrega nas costas uma imensa culpa, maior do que muita gente pode acreditar. Estando no fundo do poço, como último recurso ele aceita investigar o desaparecimento de um professor vampiro em uma escola das redondezas. É isso ou a morte. A tentação de se atirar pela janela de seu escritório está ficando cada vez mais difícil de resistir. Enquanto isso, Sunder City está devastada.
Nesta cidade distópica, enfrentando a aridez do pós-guerra e a falta de magia, as criaturas imortais vão desaparecendo e dando lugar a grotescas formas inacabadas, retorcidas: a sociedade, a indústria, a política e a cultura se corrompem, as raças mágicas caem… e os humanos têm uma nítida ascensão. O que fazer para que a magia volte? As esquinas sombrias de Sunder escondem todo tipo de segredos, e Fetch, um sujeito inescrupuloso, irônico e nada confiável, está prestes a encontrar um problema que talvez seja grande demais.