A ficção científica e o imaginar de um futuro plausível; um gênero perfeito para extrapolar uma ideia e conhecido pela coragem de não se conter nas críticas sociais. Leviatã Desperta de James S. A. Corey toca em cada um destes elementos e nenhum deles é o ponto central da curiosidade. O simples fato de querer entender a história do começo ao fim foi o que me deixou mais curioso.
Premissa cativante
O livro acompanha Holden, alguém em uma posição de liderança na nave Canterbury que é responsável por fazer a extração de crateras de gelo. Também vemos o narrar através do olhar de Miller, um policial de Ceres (planeta do cinturão de asteróides) com o objetivo de encontrar uma garota desaparecida. Enquanto os problemas surgem o leitor conhece toda a estrutura social do universo imaginado. Esta harmonia me prendeu na leitura. Além disso, fica nítido como os acontecimentos nos dois núcleos são importantes para manter um equilibro político e delicado de todo o Sistema Solar.
É interessante o narrar neste livro. O autor não joga blocos de informações. Ele prefere colocar os dois protagonistas para conversar com o leitor. No falar aflito e curioso em que os personagens querem entender a situação em que estão, criou-se um vínculo com a história. Fui mais um desejando as respostas em um cenários com poucas soluções.
Universo construído passo após passo
Em Leviatã Desperta, o Sistema Solar foi colonizado e o autor usa esta expansão espacial para fazer uma metáfora:
O planeta Terra é o velho mundo que acreditar ser o possuidor de todas as repostas; Marte é uma sociedade militarizada que vê a si mesma como uma utopia e os habitantes dos Cinturões possuem total dependência da Terra e de Marte. Qualquer semelhança com Europa, E.U.A. e os países subdesenvolvidos não é mera coincidência. Ainda analisando as críticas sociais, existem na periferia do Sistema Solar elementos tecnológicos para os cinturianos, entretanto, água e oxigênio puro são uma preocupação cotidiana. Estes são só um dos elementos que ecoam em nossa sociedade atual. Outro ponto que o autor trabalha de maneira inteligente é o preconceito.
Personagens
Cada integrante da tripulação de Holden possui uma personalidades distinta e o autor transmite a sensação de uma longa amizade na equipe. Neste primeiro volume o passado de alguns deles é mencionado em pequenas frases sem ser aprofundado. Esta escolha não faz com que os companheiros de Holden sejam personagens rasos. Em cada um enxerga-se questionamentos, ação e importância narrativa. Dentre todos os personagens do livro destaco os dois protagonistas.
Muito além da referência
Holden é inspirado nos heróis estilo Flash Gordon. Um líder que exerce a liderança com naturalidade, um conquistador e… para por aí. Gostei desta versão mais atualizada de um ícone do século passado. Ele não resgata nenhuma mocinha, não tenta resolver os problemas na base da força e questiona tanto as escolhas como também as próprias atitudes.
Miller é uma homenagem ao investigador clássico das histórias Noir. Um detetive anti-herói que bebe bastante, possui um casamento acabado e tem ao lado um parceiro sem nenhum conhecimento sobre as regras das ruas. Faltou a femme fatale? Neste ponto James S. A. Corey se descola do clichê e fornece profundidade para o personagem. Há uma relação melancólica construída com uma personagem feminina através de pequenos elementos e desenvolvida de maneira paciente. O meu personagem favorito em toda a obra.
Entregar a recompensa
Como último ponto deve-se aplaudir a forma de conduzir a narrativa. Elogio a calma de criar um contexto político com uma verossimilhança impecável para um grande plot-twist. Trata-se de uma virada na trama irresistível para um fã de ficção científica. É uma resposta concebida através da imaginação de James S. A. Corey para uma pergunta que a ciência possui apenas teorias.
Por que não ler?
Porque é mais um fracasso literário. Não há outras palavras para descrever. A obra possui seis volumes publicados no exterior e no Brasil somente o primeiro foi lançado. Começar um livro e não poder ler os outros volumes é chato para qualquer leitor. Como alternativa há uma série que adapta a obra no serviço de streaming Amazon. É o que resta para todo leitor que se maravilhar com esta excelente ficção científica.
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Ficha Técnica
Título: Leviatã Desperta
Autor: James S. A. Corey
Tradutora: Marcia Blasques
Editora: Aleph
Páginas: 672
Ano: 2017
ISBN: 9788576573159
Sinopse: Intrigas, maquinações políticas, conspirações, racismo, e uma ameaça ainda maior pairam sobre o universo em Leviatã Desperta. A humanidade expandiu as suas fronteiras e agora se divide basicamente em três centros independentes de poder: a Terra e a Lua; Marte; e o Cinturão de Asteroides.
Quando uma nave mineradora de gelo do Cinturão recebe o pedido de socorro de outra nave, a Scopuli, os seus tripulantes nem imaginam que irão se deparar com um segredo que pode custar as suas vidas. A partir desse momento, o chefe de operações Jimmy Holden tem que fazer o que possível para manter a sua tripulação viva no meio de uma guerra.
Enquanto isso, no Cinturão, o Detetive Miller é incumbido de encontrar uma garota desaparecida. As pistas que ele encontra colocam a garota como uma das tripulantes da Scopuli, e ela pode ser a chave para desvendar esse terrível mistério que pode causar uma guerra em escala jamais vista.