Apesar de os quadrinhos atualmente serem relacionados com super-heróis, a famosa “nona arte” possui uma ampla gama de possibilidades e um incrível histórico político. Histórico esse, inclusive, responsável pela criação de muitos heróis conhecidos hoje. Nesse contexto, decidimos falar um pouco sobre histórias em quadrinhos e resistência aqui no Brasil!
Devido a sua linguagem acessível, os quadrinhos, principalmente no formato de tiras, sempre foram utilizados de forma política, por meio de sátiras, por exemplo, para fazer críticas e denúncias políticas. Apesar da predominância de tiras nos jornais, diversos folhetos e fanzines também eram usados com esse mesmo propósito e hoje, com a internet, tais trabalhos ficaram ainda mais próximos do leitor. Dentre os diversos exemplos de artistas nacionais incríveis temos a Laerte Coutinho, Raphael Salimena (Linha do Trem) e André Dahmer.
Para além das tiras, diversos quadrinistas têm se destacado no mercado escrevendo história sobre resistência nos seus mais diversos contextos. O mais reconhecido atualmente é Marcelo D’Salete, que recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais (Eisner, HQ Mix, Jabuti) pelas HQs Cumbé e Angola Janga – uma história de Palmares que abordam resistência negra contra a escravidão no Brasil.
Há também diversas iniciativas atuais que carregam a resistência na busca dar voz às minorias, como a HQ Sob a Luz do Arco-íris, uma coletânea de histórias em quadrinhos de autores LGBTQ+ da Editora Skript, ou até mesmo contrapor estereótipos, como a HQ Gibi de Menininha 1 e 2, que agrupam histórias de “terror e putaria” escritas e desenhadas por quadrinistas.
O autor Denis Mello, por exemplo, mantém uma campanha de financiamento coletivo para continuar produzindo a HQ Teocrasília, onde aborda histórias sobre um Brasil de um futuro distópico (não tão distante assim) que é dominado pela extrema-direita autoritária e conservadora.
Outro projeto que utiliza da ficção para criticar e denunciar diretamente as diversas violências sofridas por minorias é a intitulada “Trilogia da resistência”, lançada pela editora Draco (você pode conhecer mais sobre no podcast da editora sobre o tema). Ela é composta pelas antologias Periferia Cyberpunk, Na Quebrada – Quadrinhos de hip hop e Sangue no Olho (este último que, inclusive, conta com um roteiro deste que vos escreve, o livreiro Caio Amaro).
O entrevistado do episódio 9 do nosso podcast Leia Novos BR, Rogério Faria, tem um histórico de publicações que trazem resistência em forma de crítica e resgate histórico, principalmente na sua HQ Marighella #LIVRE. Por isso, fomos atrás de sua opinião sobre porque quadrinhos servem tão bem para assumir esse papel de resistência e de expor tão bem as críticas aos meios de opressão:
“Se, de um lado, quadrinhos é um meio barato de se criar narrativas visuais, permitindo ao artista se expressar além do convencionado pelo mercado, de outro, insistir nisso num mundo altamente multimidiático como o século XXI já é um ato de resistência. Eu acho que é isso que possibilita essa gama de autores naturalmente conscientes e engajados com as mais diversas lutas.”
São tantos exemplos que com certeza deixamos vários passarem! Você tem algum quadrinho de resistência que queria indicar? Diga para a gente! Também aceitamos sugestões de livros para que possamos num futuro próximo escrevermos uma coluna sobre Literatura e Resistência.
Nos vemos semana que vem na livraria Leia Novos BR!
Créditos
Nem só de duendes e sacis é feita a equipe da LeiaNovosBr!
Esse capítulo da nossa livraria só foi possível pela ajuda dos nossos colaboradores incríveis.
Texto: Caio Amaro
Arte da Vitrine: Daielyn Cris Bertelli
E pela ajuda das pessoas que nos apoiam:
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