[Resenha] Noite em Caracas – Karina Sainz Borgo

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Capa do livro. Fundo claro, no topo um prato com ornamentos vermelhos, sendo possivel notar apenas um pedaço do prato. Logo abaixo o nome da autora e título do livro. No centro, pedaços quebrados de um prato semelhante ao de cima.
Capa do livro. Fundo claro, no topo um prato com ornamentos vermelhos, sendo possivel notar apenas um pedaço do prato. Logo abaixo o nome da autora e título do livro. No centro, pedaços quebrados de um prato semelhante ao de cima.

Em “Noite em Caracas”, romance de estreia da venezuelana Karina Sainz Borgo publicado no Brasil pela editora Intrínseca, com tradução de Livia Deorsola, conhecemos um período da vida de Adelaida Falcón.

Após o enterro de sua mãe, Adelaida vê sua casa ser invadida por um grupo de mulheres. Procura a ajuda da vizinha Aurora Peralta, mas a encontra morta. Em cima da mesa, Adelaida vê documentos que podem mudar sua vida, lhe permitindo escapar de uma Venezuela violenta, que nada tem em comum com a terra à qual Adelaida pertencia.

Em um momento onde nada mais faz sentido e o mundo como você conhecia começa a desaparecer, o que você está disposto a fazer para continuar vivendo? E se a única possibilidade for se tornar uma outra pessoa?

“Sobreviver é parte do horror que viaja com quem escapa”

Li em uma resenha na rede social Skoob que “Noite em Caracas” é um livro sobre luto e eu não consigo encontrar definição melhor para ele. Não apenas sobre estar de luto, mas o que fazer com ele quando o mundo segue sem você.

Adelaida Falcón vê seu mundo desmoronar depois da morte da mãe. O que ela conhecia por família tinha de dissolvido, já que sempre foram só as duas. Em uma Venezuela que passa por um conturbado momento político tudo fica mais caro, inclusive morrer. Comida e itens de necessidade básica que tornam-se cada mais escassos e aqueles que os controlam cobram três vezes mais do que o preço usual. A Venezuela que cresceu com a mão de obra imigrante agora se torna um país sombrio, onde não há mais espaço para o belo.

Ao ver sua casa sendo tomada por um bando de mulheres, Adelaida precisa de um abrigo, e vai busca-lo na casa da vizinha, Aurora Peralta. A filha da espanhola, como era chamada pelos vizinhos, está caída no tapete da sala. Sobre a mesa, um passaporte espanhol é a chave para conseguir sair do país. Para isso Adelaida precisa se transformar em Aurora. Mas com alguém se torna outra pessoa? Você muda o nome? O jeito de agir?

“Se conhecer é modificar a própria ignorância”

O luto de Adelaida vai além da perda da mãe, misturando-se à perda do país que ela conhecia e da própria identidade. Misturando trechos do passado de Adelaida com o presente conturbado, Borgo nos apresenta a dor daqueles que precisam deixar sua pátria para trás e como o medo acaba por se misturar à amargura daqueles que não se reconhecem mais como um cidadão do seu país. Contudo, mostra também como momentos de extremo pesar nos fazem conhecer a nós mesmos e descobrir a coragem necessária para sobreviver em meio ao caos.

Nota

Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.
Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.

 Garanta a sua cópia de “Noite em Caracas”!

Ficha Técnica

Título: Noite em Caracas
Autor: Karina Sainz Borgo
Tradução: Livia Deorsola
Editora: Intrínseca
Ano: 2019
Páginas: 240
ISBN: 9788551005026
Sinopse: Violência, anarquia e desintegração ditam o ritmo em Caracas. Nesse cenário desolador, Adelaida Falcón tem a vida destroçada pela morte da mãe. Logo depois do enterro, ela se depara com sua casa ocupada por um grupo de mulheres. Ao procurar ajuda, tenta falar com a vizinha, Aurora Peralta, conhecida como “a filha da espanhola”, mas a encontra morta. Em cima da mesa da sala, Adelaida vê documentos que podem mudar sua vida, dando início a uma jornada pela própria sobrevivência. Noite em Caracas retrata a saga de uma mulher que enfrenta situações extremas, enquanto precisa aceitar a ausência definitiva da mãe homônima, em um país que também desaparece aos poucos. Ela narra sua história entremeando lembranças de um passado não muito distante, de uma vida simples como filha de professora em um grande centro urbano, com um presente no qual resistir se torna um ato de amor e coragem.