[Resenha] Sete dias juntos – Francesca Hornak

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Capa do livro. Ilustração com aspecto natalino, uma casa pequena no centro, um céu com neve, o chão e o telhado da casa também estão cobertos de neve. Uma faixa vermelha em espiral desce até a ilustração da casa, com o titulo do livro na faixa. No top o texto: Não existem segredos para uma família em quarentena. E logo abaixo o nome da autora
Capa do livro. Ilustração com aspecto natalino, uma casa pequena no centro, um céu com neve, o chão e o telhado da casa também estão cobertos de neve. Uma faixa vermelha em espiral desce até a ilustração da casa, com o titulo do livro na faixa. No top o texto: Não existem segredos para uma família em quarentena. E logo abaixo o nome da autora

Uma família. Sete dias em quarentena. Até quando os segredos serão mantidos? Essa é a proposta do livro “Sete dias juntos”, de Francesca Hornark, que coloca à prova as relações familiares usando o isolamento forçado para obrigar a interação entre as pessoas.

A narrativa acompanhará, portanto, a família Birch, que, depois de vários anos, conseguirá passar o Natal com todos os integrantes reunidos. Isso só será possível porque Emma, a filha mais velha, está voltando da África, onde atuou como voluntária no combate a uma epidemia e precisará ficar em quarentena. Junta-se a ela a mãe Emma, o pai Andrew e a irmã mais nova Phoebe. Há ainda Jesse, um elemento surpresa que será responsável por desencadear uma série de conflitos.

Diferentes pontos de vista

Isolar uma família por sete dias sem contato com mais ninguém já é uma premissa interessante o suficiente; afinal, nesses momentos extremos é que as relações são testadas (vide o que enfrentamos no contexto da pandemia e todos os desafios que o isolamento proporciona). Porém, é o esforço que cada membro da família Birch faz para evitar que seu segredo seja revelado que dá o tempero à história.

E todo esse dinamismo só é possível graças à decisão da autora de contar a história sob o ponto de vista de cada pessoa em isolamento. Mesmo a narração se mantendo em terceira pessoa, ela soube diferenciar muito bem o tom e a forma de pensar de cada pessoa.

“Talvez todas as famílias devessem passar uma quarentena juntos.”

Esse é um dos grandes trunfos do livro. “Sete dias juntos” não teria o mesmo impacto se fosse escrito sob o ponto de vista de apenas um dos integrantes ou em um narrador mais distanciado dos acontecimentos. Essa escolha também nos permite conhecer de forma mais profunda cada personagem, evidenciando suas qualidades e seus defeitos.

Eu terminei a leitura sem gostar efetivamente de nenhum personagem, mas entendendo a forma de agir de cada um. É difícil se apegar a personagens tão cheios de defeitos, mas, ao mesmo tempo, a história não seria a mesma se não tivéssemos contato com os vários lados dessas pessoas. Não tem certo e errado, mas um emaranhado de falas atravessadas, silêncios prolongados e tentativas muitas vezes fracassadas; um retrato das nossas relações.

Entrar na cabeça das personagens também ajudou a dar peso à trama e a cada segredo prestes a ser revelado. Além do mais, ajudou a entender de forma mais global como cada pessoa ali se relaciona com os outros integrantes da família. Muitas vezes, um mesmo acontecimento ou lembrança é relatado nos pontos de vista de cada um dos envolvidos, e é muito interessante perceber como cada pessoa interpreta e sente um determinado fato.

É uma história para ler com calma

Por ser narrado em diferentes pontos de vista, a história tem um ritmo mais lento, mas de forma alguma entediante. No início, tudo parece muito desconectado com tantas mudanças de narrador, mas, conforme se entende a dinâmica da família, fica mais fácil acompanhar e aproveitar a leitura.

Cada dia da quarentena é explorado em seu máximo potencial e até mesmo detalhes banais do dia a dia ganham proporções que vão gerando um efeito cascata até a metade do livro, quando os conflitos ficam mais evidentes. Com apenas um cenário para explorar — uma vez que todos estão isolados dentro de casa —, são nos pequenos momentos e na cabeça das personagens que a história vai ganhando corpo.

Mas nem tudo funciona

Por ser uma pessoa que gosta de ler histórias com conflitos familiares, a proposta dessa obra me atraiu logo de cara. E, de maneira geral, a premissa é bem executada. Porém, para desencadear os conflitos necessários para manter a história interessante, Francesca Hornark tomou alguns caminhos narrativos que, a meu ver, pareceram forçados e descolados da coerência interna do livro.

As figuras de Jesse e Phoebe foram as que mais me incomodaram, por parecerem quase caricaturas. Muitas das ações e pensamentos desses personagens me passaram a sensação de serem forçados, tudo em nome do choque e de fazer a trama andar com um emaranhado de confusões. Em alguns momentos, me sentia lendo um roteiro de esquete de humor — o que, por si só, não é nenhum problema, só achei que não combinou com a atmosfera geral do resto da narrativa.

Apesar dessas questões, “Sete dias juntos” foi uma leitura muito interessante que levantou muitos pontos sobre família que, certamente, são muito relacionáveis. É um livro indicado para quem gosta de mergulhar nos pensamentos mais fundos dos personagens e de ver pessoas se relacionando entre convivendo e lidando com conflitos e sentimentos que, muitas vezes, se arrastam pela vida inteira. Um retrato do que é existir no mundo.

Nota

3 selos cabulosos e meio
3 selos cabulosos e meio

 

 

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Ficha técnica

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Nome: Sete dias juntos
Autora: Francesca Hornark
Tradução: Ana Carolina Mesquita
Edição:
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2020
Páginas: 364
ISBN: 9788528623307
Sinopse: Não existem segredos para uma família em quarentena.

Uma semana é muito tempo para passar com a família…

A família Birch irá se reunir em Weyfield Hall, para o Natal, pela primeira vez em muitos anos. Emma está eufórica com a chegada da filha mais velha, Olivia, mesmo sabendo que o único motivo para o seu regresso é a quarentena à qual deverá se submeter após ter sido voluntária no tratamento de uma epidemia devastadora na África.

Enquanto Emma se esforça para parecer tranquila e para agradar a filha recém-chegada, seu marido, Andrew, jornalista e renomado crítico de restaurantes, passa os dias isolado em seu escritório, revirando o passado e revivendo seus dias de glória como um correspondente de guerra.

Phoebe, a filha mais nova, vive em um mundo frívolo que gira somente ao seu redor, e durante a quarentena se dedica de forma obsessiva à organização de sua cerimônia de casamento, para o desgosto de Olivia que tenta superar o choque cultural causado pelo contraste entre os luxos da vida de sua família e as mazelas de um país subdesenvolvido.

Pelos próximos sete dias ninguém poderá entrar nem sair da casa. Isolados do mundo e presos à companhia indesejada uns dos outros, uma semana pode se tornar uma eternidade para os Birch. Especialmente quando todos têm segredos a esconder.

Um deles prestes a bater à porta.