É início de verão de 1976 e a rua em que Grace vive é abalada devido o desaparecimento de uma de suas moradoras, Margareth Creasy. Grace tem apenas 10 anos e é muito observadora. Ela sente que pode fazer algo não apenas para encontrar a mulher desaparecida, mas para impedir que mais coisas ruins aconteçam com os outros moradores da rua.
Junto de sua amiga, Tilly, ela vai de casa em casa, mas acaba esbarrando em segredos antigos, preconceitos e um crime que parece envolver toda a comunidade. Entre Cabras e Ovelhas é um livro de suspense, em que vamos acompanhando e desvendando os segredos dessas pessoas, mas ele vai muito além disso. É uma história que traz reflexão e questionamentos sobre as relações humanas.
Uma rua e seus moradores
Embora Grace seja a protagonista e principal narradora, os capítulos são intercalados com os pontos de vista de vários dos outros moradores da Vila (como é chamada a rua).
Assim, vamos tendo uma visão mais ampla do que a menina, não apenas sobre o mistério principal, mas vários outros segredos que Grace, mesmo com sua perspicácia não consegue apreender.
No começo demorei para entender quem era quem e os laços das suas relações, mas com o tempo, a autora conseguiu delinear muito bem cada personagem, sempre dando vários tons de desenvolvimento.
Às vezes, no começo do livro, você sente muita empatia por alguém, para em seguida descobrir que essa pessoa não era perfeita como parecia ou o contrário: aqueles que se mostram mais agressivos, são os com maiores ferimentos em seu passado.
Uma rua e seus segredos
Ainda que a premissa do livro seja uma trama de mistério, essa é uma história muito mais sobre as relações dessas pessoas. Somos levados o tempo todo a refletir e questionar atitudes e regras socialmente estabelecidas. A escolha de situar a história na década de 1970 ajuda ao leitor atual a perceber mais nitidamente todo o preconceito “velado” contra qualquer coisa que fosse diferente e a reconhecer que esse tipo de discurso continua a existir, infelizmente.
“Passamos por gramados idênticos, vidas sem originalidade e longas fileiras de casas geminadas que algemavam famílias juntas por meio de acasos e coincidências”
Mas mesmo com essa carga reflexiva, a autora não abandona o clima de suspense. Estamos o tempo todo nos perguntando sobre o destino de Margareth Creasy, enquanto vamos juntando as peças do quebra cabeça sobre qual o segredo que une essa comunidade.
Mas é bom?
Entre Cabras e Ovelhas é um suspense diferente, tem mistério e crimes, mas conta ao mesmo tempo com muito subtexto e exige do leitor reflexão e paciência. Eu gostei bastante dos personagens, da trama e da escrita, mas o achei arrastado em alguns momentos.
O livro se passa no verão e mantém esse ritmo de lentidão, como se todos estivéssemos de férias junto com Grace e ninguém tivesse pressa. Mesmo entendendo esse ritmo mais lento, alguns subplots me cansaram.
Além disso, o livro trás um final levemente em aberto, o que pode incomodar algumas pessoas, mas na verdade, é um final que te faz pensar sobre o que leu para juntar os pedaços e querer discutir sobre a história. Então até curti essa escolha.
Em resumo, é um livro muito bom, mas não é uma leitura frenética.
Nota
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Ficha Técnica
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Título: Entre Cabras e Ovelhas
Autora: Joanna Cannon
Editora: Morro Branco
Tradução: Celina Portocarrero
Ano: 2017
Páginas: 472
ISBN: 9788592795009
Sinopse: Inglaterra, verão de 1976. A sra. Creasy está desaparecida e a Vila borbulha com fofocas. Os vizinhos culpam a sufocante onda de calor por seu repentino sumiço, mas as pequenas Grace e Tilly não estão convencidas disso.
Com o sol brilhando incansável no céu, as meninas decidem tomar o assunto em suas próprias mãos e, batendo de porta em porta atrás de pistas, percebem que todos na Vila têm algo a esconder. Enquanto a rua começa a revelar seus segredos, as pequenas detetives vão perceber que nem tudo é o que parece.