[Resenha] Orgulho – Ibi Zoboi

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Capa do livro, em cor de bronze e com molduras ornamentadas, o texto
Capa do livro, em cor de bronze e com molduras ornamentadas, o texto "Um remix de Orgulho e Preconceito". No centro, o título em azul semelhante a escrita em tinta de spray. Logo abaixo, o busto de um homem e uma mulher de perfil, um frente ao outro. Na base, o nome da autora e o texto "Autora finalista do National Book Award".

Acho seguro dizer que todo mundo já ouviu falar de Orgulho e Preconceito, certo? Seja através da história escrita pela Jane Austen no século XIX, seja por suas adaptações para série ou filme, todo mundo já sabe algo do romance entre Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy. Orgulho escrito por Ibi Zoboi adapta esse enredo já famoso para os dias atuais em uma bairro do Brooklyn.

Sobre releituras de clássicos

Releituras de clássicos como Orgulho e Preconceito são bem comuns. Filmes, séries e livros estão sempre buscando inspirações em histórias já consagradas. Por exemplo, a adaptação para websérie e que, posteriormente, se tornou também um livro O diário secreto de Lizzie Bennet.

Porém, por muito tempo esses recontos seguiam a lógica presente na sociedade e sempre representavam somente personagens brancos, mesmo que se passassem em tempos atuais. Mas em Orgulho acompanhamos a família Benitez, através do olhar de uma das filhas, a Zuri.

Zuri e sua família são negros com ascendência latina e vivem em Bushwick, uma região do Brooklyn com uma população predominantemente não branca. Sua madrinha, que mora no andar de baixo, promove rituais de Santeria (uma religião de matriz africana comum em países da América Central) e é reconhecida por toda a comunidade por sua sabedoria.

A jovem tem que lidar com questões como gentrificação, pois seu bairro vem atraindo pessoas brancas de classe média e trazendo modificações e aumentando o custo de vida. Além disso, ela está prestes a terminar o ensino médio e pretende sair de casa para cursar faculdade. Ou seja, vem vindo muitas mudanças e Zuri não gosta de mudanças.

A chegada dos Darcy

Além de tudo isso, a chegada da família Darcy para morar na enorme casa da esquina da rua onde os Benitez moram, traz ainda mais mudanças. Zuri vê aquela família negra e rica e sua casa luxuosa e sente uma imediata antipatia, afinal eles não se encaixam ali e não fazem parte da comunidade.

Porém, essa família, especialmente os filhos Ainsley e Darius, chamam a atenção de suas irmãs, para o desgosto de Zuri. Como o livro é narrado pelo ponto de vista dela, acompanhamos muito suas impressões sobre os Darcy e é difícil não se deixar levar pela antipatia inicial, principalmente com relação a Darius.

A medida que Zuri, e nós leitores junto, vai conhecendo a família Darcy, vai percebendo as próprias questões internas que ela tem a resolver. É muito interessante acompanhar como a autora atualiza o enredo do clássico, sem deixar de lado os traços tão característicos da Elizabeth Bennet do original na Zuri.

Preciso ler o original?

Afinal, faz falta não ter lido o clássico original para ler o reconto? Essa foi uma pergunta que recebi, quando comentei sobre esse livro. Com certeza não é imprescindível, é um enredo que se baseia em personagens e acontecimentos, porém é completamente independente.

Se você já leu Orgulho e Preconceito, vai conseguir identificar as semelhanças e diferenças entre os enredos. E é uma parte divertida da leitura tentar supor como a autora vai encaixar aquele personagem ou fato na história. Mas com certeza será uma experiência de leitura tão interessante quanto para quem ainda não leu Jane Austen. Aproveite e ouça o Covil de Livros 69 – Orgulho e Preconceito.

Enfim, é um livro jovem adulto (ou YA, na sigla em inglês) que trata de temas interessantes do ponto de vista de uma adolescente questionadora e desconfiada. As vezes desconfiada até demais. Em alguns momentos confesso que quase perdia a paciência com Zuri, mas fui aprendendo a entender melhor a personagem ao longo do livro. Além disso, ela tem um arco de desenvolvimento bem legal, o que torna a leitura ainda mais interessante.

Recomendo muito tanto para os fãs do clássico, como para que quer ter contato com essa história pela primeira vez. Quem sabe através desse livro quem nunca leu resolve dar uma chance a Jane Austen, ne?

Nota

Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.
Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.

 

 

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Ficha Técnica

Título: Orgulho
Autor: Ibi Zoboi
Tradução: Giu Alonso
Editora: HarperCollins Brasil
Ano: 2019
Páginas: 272
ISBN: 8595085528
Sinopse: Zuri Benitez tem orgulho. Orgulho do Brooklyn, de sua família e de suas raízes afro-latinas. Mas orgulho não é o suficiente para salvar seu bairro da gentrificação e de se tornar irreconhecível.

Quando a rica família Darcy se muda para o outro lado da rua, Zuri não quer contato com seus dois filhos adolescentes, mesmo quando sua irmã Janae começa a se apaixonar pelo encantador Ainsley. Acima de tudo, ela não suporta o crítico e arrogante Darius, mas eles são forçados a se entender, e o que antes era um confronto se torna uma inesperada amizade.

Agora, com quatro irmãs a empurrando em direções diferentes, com o adorável Warren em busca de sua atenção e com as candidaturas para a faculdade chegando, Zuri luta entre encontrar seu lugar na paisagem em transição de Bushwick ou perder tudo.

Nesta adaptação contemporânea do clássico Orgulho e Preconceito, a autora aclamada pela crítica, Ibi Zoboi, habilidosamente equilibra identidade cultural, classe e gentrificação com a mágica do primeiro amor em sua vibrante versão do amado romance.