[Resenha] O Voo da Bailarina – Michaela de Prince

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Capa do livro. Um fundo escuro com uma luz cortando em diagonal. A imagem da bailarina protagonista Michaela, com vestido em tons roxos, saltando com as pernas esticadas. No topo o nome da autora, e em primeiro plano o título
Capa do livro. Um fundo escuro com uma luz cortando em diagonal. A imagem da bailarina protagonista Michaela, com vestido em tons roxos, saltando com as pernas esticadas. No topo o nome da autora, e em primeiro plano o título "O voo da bailarina"

Michaela de Prince tinha 17 anos quando decidiu escrever sua biorafia, mas o que uma menina tão jovem já teria de importante para contar sobre sua vida? Acontece que Michaela nasceu como Mabinty Bangura, em Serra Leoa na década de 1990, época em que o país estava no meio de uma guerra civil.

Michaela, então, conta em sua biografia O Voo da Bailarina, sua infância no meio do caos e da violência da guerra, como foi perder os pais e viver em um orfanato e sua adoção por um casal americano. Isso tudo, acompanhado pelo seu amor pelo ballet clássico que a levou a se tornar uma das jovens bailarinas mais conhecidas do mundo, depois da sua participação no documentário First Position.

Os horrores da guerra

O livro é narrado em primeira pessoa, com Michaela contando o que ela lembra dos acontecimentos de sua infância e, para mim, o começo foi um tanto diferente. A narração acontecia de forma rápida, meio superficial… foi estranho. Ela jogava situações de violência de uma maneira quase relapsa. Com o avançar do livro, fui percebendo que esse início ser mais direto pode ter duas causas: primeiro, ainda são lembranças dolorosas para a escritora e deve ter sido mais fácil ela narrar com um tom mais impessoal; e segundo, todo esse horror e violência eram cotidianos para ela, então ela passou essa ideia de banalidade.

Ainda que a escrita tenha parecido superficial no início, a história me pegou desde o primeiro capítulo, com Michaela falando de sua infância feliz com os pais biológicos, até que a guerra chegou ao seu vilarejo e tudo foi de mau a pior. É uma história forte e impactante, por mais que já tenha visto documentários e reportagens sobre guerras, ler o relato de alguém que esteve lá e viu e alguém que é tão jovem me causou mais impacto do que qualquer coisa que eu tenha assistido ou lido anteriormente.

É uma realidade que existiu há pouco tempo e continua a existir em tantos outros países.

A chegada nos EUA e a descoberta do preconceito

Acompanhamos a vida de Michaela no orfanato até sua adoção, a qual não ocorreu sem riscos. Mesmo sabendo o desfecho, ler essa passagem foi emocionante, pois você torce para que tudo fique bem. Ela então é levada para os Estados Unidos por um casal incrível, que já tinha outros filhos e continuou a adotar várias crianças. Assim, Michaela cresceu rodeada de irmãos, em uma família amorosa.

Mas ela não esconde a dificuldade de crescer tendo tantos traumas. Primeiramente, foi apenas nos Estados Unidos que ela tomou consciência do preconceito racial e relata seu posicionamento e experiências que teve, especialmente no mundo do ballet clássico. Por mais talentosa ou por mais prêmios que tenha ganho na infância, foram muitas as vezes em que escutou que ela não iria longe, pois “o corpo de meninas negras não era adequado para o ballet” entre outras bobagens. Felizmente, ela persistiu sem dar ouvidos a essas pessoas.

“Foi a esperança que me permitiu sobreviver na áfrica diante do abuso, da fome, da dor e do perigo. foi a esperança que me fez ousar sonhar.”

Cisne Negro

Lá pela metade do livro, o foco da história vai quase inteiramente para o processo de Michaela se tornar uma bailarina profissional, em um mundo onde as companhias de dança não queriam bailarinas negras. Esse ponto pode ser maçante para quem não se interessa pelo mundo da dança ou por competições, porque ela está sempre descrevendo suas competições, o que dançou, quais eram os figurinos…

Ainda assim, vale a pena pela emoção de ver o reconhecimento chegar e a questão de sua vida na África, que ela tentou evitar por tanto tempo, volta a fazer parte com outro significado.

Mas é bom?

O Voo da Bailarina não tem uma escrita espetacular, mas a história compensa qualquer falha técnica desse aspecto. Como comentei, ler o relato em primeira mão de alguém tão jovem que viveu em meio a uma guerra civil foi extremamente impactante para mim e acompanhar seu crescimento profissional em meio ao preconceito é emocionante de ler. Difícil terminar esse livro sem buscar saber como Michaela e sua família estão hoje em dia. Fica a recomendação para pessoas que, assim como eu, não tem o costume de ler biografias ou não ficção. Terminei o livro querendo conhecer mais obras assim.

Aviso de Gatilho: as cenas de violência não são extremamente gráficas, mas estão presentes, então fica o aviso de alguns temas sensíveis presentes no livro. Violência física; assassinato; violência física infantil; violência psicológica infantil; preconceito racial.

Nota

Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.
Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.

 

 

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Ficha Técnica

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Título: O Voo da Bailarina
Autora: Michaela
Editora: BestSeller
Tradução: Sandra Martha Dolinsky
Ano: 2016
Páginas: 272
ISBN: 9788576849797
Sinopse: Nascida na Serra Leoa devastada pela guerra, os primeiros anos de vida de Michaela não foram fáceis. Após perder os pais de maneira brutal, a jovem foi abandonada pelo tio em um orfanato, onde ficou conhecida como a número 27 e foi cruelmente apelidada de criança demônio, devido a uma condição de pele que faz com seu corpo pareça manchado.

A estadia no orfanato, no entanto, lhe forneceu uma bênção: foi lá que Michaela encontrou a capa de revista que determinaria seu futuro, estampada com uma linda bailarina na ponta dos pés. Adotada por uma família norte-americana que encorajou seu amor pelo balé matriculando-a em escolas de dança, Michaela daria início à emocionante trajetória rumo aos maiores patamares do balé mundial.