[Resenha] O Silêncio da Casa Fria – Laura Purcell

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Capa do livro, um fundo de cor creme, ilustração com alguns ornamentos por toda a capa na cor marrom, silhuetas de objetos variados como pena, gaiolas, passaros, gatos, flores, pessoas na cores preta e marrons. No centro um buraco de fechadura mostrando um olho, logo abaixo a silhueta preta de dois gatos, e o titulo do livro e noma da autora.
Capa do livro, um fundo de cor creme, ilustração com alguns ornamentos por toda a capa na cor marrom, silhuetas de objetos variados como pena, gaiolas, passaros, gatos, flores, pessoas na cores preta e marrons. No centro um buraco de fechadura mostrando um olho, logo abaixo a silhueta preta de dois gatos, e o titulo do livro e noma da autora.

O Silêncio da Casa Fria foi escrito em 2017, mas promete resgatar o clima de suspense gótico das histórias de casas mal assombradas e faz isso de forma maravilhosa. Somos transportados a um vilarejo inglês do século XIX e não importa o calor que está fazendo no Brasil nesse momento, você vai sentir calafrios.

Iniciamos o livro com nossa protagonista Elsie Bainbridge internada em um hospital psiquiátrico pois está se recuperando do incêndio que destruiu a casa ancestral da família de seu marido. O problema é que ninguém sabe exatamente como isso ocorreu e Elsie precisa fazer com que seu médico acredite nos extraordinários acontecimentos que a levaram até ali.

Voltamos então para 1865 quando Elsie acabou de ficar viúva e deve deixar sua vida em Londres, onde sempre se manteve unida com seu irmão mais novo, Jolyon, à frente da empresa da sua família, para entrar na reclusão do luto exigido das mulheres nesse período. Além disso, ela está no início de uma gravidez e todos (exceto ela) consideram que o melhor no momento é ela permanecer no interior.

Assim, abalada pela perda do marido e a reviravolta que sua vida tomou, Elsie vai para a casa ancestral dos Bainbridge, conhecida como A Ponte, acompanhada apenas de Sarah, a prima pobre de seu esposo que trabalhava como dama de companhia, mas agora deve ser sua acompanhante. Chegando na casa, elas contarão apenas com a presença das empregadas do lugar, Mabel e Helen e da governanta, a Sra. Holt.

Desde esse primeiro momento já percebemos o quanto o lugar é estranho, isolado e desprezado pela população local, pois conta com uma história de mortes misteriosas de empregados, além de que uma das senhoras do local foi acusada de bruxaria no século XVII.

‘Ao que parecia, a história da casa era um folhetim macabro de má qualidade. a última coisa que ela queria era um conto sobre mortes e esqueletos.”

Sussuros, um gato e um sótão trancado

Desde a primeira noite na mansão, Elsie escuta e percebe acontecimentos estranhos no lugar. Barulhos que remetem à lembranças traumáticas da sua infância e de que de nenhuma outra maneira poderiam ser ouvidos em uma residência rural. Para quem lê essa história, logo no começo já fica claro que esse não é o tipo de história em que a gente fica duvidando se as coisas estão acontecendo ou se é imaginação da protagonista: todas as pessoas da casa percebem suas estranhezas.

Parte do barulho parece vir de um sótão trancado há anos, mas que de repente aparece com a porta aberta. Lá dentro, as mulheres encontram diários de Anne Bainbridge (a mulher acusada de bruxaria), além de estranhos objetos de decoração.

Os Companheiros Silenciosos

Os Companheiros Silenciosos eram figuras pintadas em madeira em tamanho natural de pessoas e eram usadas como decoração, para dar a sensação de que você não estava sozinho em um cômodo. Quem achava isso uma boa ideia, eu não sei dizer, mas existiu.

As mulheres encontram a figura de uma menininha entalhada em madeira e decidem deixar na sala de estar, porque o que poderia dar errado não é mesmo? A partir desse ponto, também passamos a acompanhar as entradas do diário de Anne e ir conectando os acontecimentos do passado e do presente e tentando entender o que afinal de contas toma conta dessa casa.

“Vai quebrando, Senhor, toda maldição…”

Esse é um livro curto e muito bem construído, então estamos desde o começo sendo ambientados nesse clima arrepiante, mas é com o aparecimento dos companheiros Silenciosos que o clima de terror vai escalonando até você não conseguir ler uma passagem com esses objetos sem ter vontade de mandar queimar tudo. Isso, porque a menininha de madeira é só o começo, várias outras figuras vão aparecendo pela casa e ninguém parece saber muito bem quem as colocou ou tirou de um cômodo para outro. Até o ponto em que um deles aparece na janela quando a casa está vazia! (Tá amarrado).

Para além dos arrepios, ótimos personagens

Parece que contei muita coisa, mas na verdade tudo isso é bem introdutório do livro. Além dessa ambientação muito bem construída, a autora criou ótimos personagens, interessantes de acompanharmos e pelos quais torcemos. Justiça seja feita, as empregadas não têm um desenvolvimento tão grande assim, mas não são unidimensionais e logo aprendemos quem é quem e como elas funcionam.

Sarah no começo foi uma incógnita, muito doce e prestativa, é difícil não ficar pensando se ela estava sendo sincera. As poucas visões que temos do marido de Elsie mostram como ele era um homem bom e vai dando uma tristeza perceber o que ela perdeu, além de a personagem estar sempre triste por estar afastada de seu querido irmão mais novo, mas não consegui me apegar muito a ele.

No passado, acompanhamos Anne e a família que a cerca, incluindo sua filha Hetta que sofre muito preconceito por ter nascido sem a capacidade de falar. Aliás, eu adorava as partes do diário tanto quanto as do presente, torcendo para que as coisas dessem certo para Anne de algum modo. Aqui, temos um clima de magia e superstição muito forte e que adorei.

Mas Elsie é a dona do livro. No começo, ela parece um tanto antipática e achei que seria difícil me apegar a ela, mas logo isso fica para trás. Ela é prática e resiliente e está determinada a fazer o melhor da situação que foi lhe imposta. É fácil admirar alguém assim. E se em um primeiro momento ela parece distante, logo fica claro que ela é muito preocupada e responsável pelos que a cercam. Facilmente se tornou uma personagem favorita.

Ah e menção honrosa a Jasper, o gatinho da mansão que reina como todo gato deve fazer.

Mas é bom?

É incrível! Bem escrito, com uma ótima construção de ambiente, clima e personagens. Fiquei muito curiosa para conhecer outros trabalhos dessa autora. O Silêncio da Casa Fria se tornou fácil uma das melhores leituras do ano. Eu não conseguia largar, só queria voltar para saber o que ia acontecer em seguida (e rezar pra queimarem os companheiros silenciosos).

O final é fechado, com as pontas amarradas, mas a trama deixa várias entrelinhas de coisas subentendidas que eu amaria em uma discussão com spoilers. Acho uma história riquíssima para um Clube do Livro.

Nota

Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.
Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.

Garanta a sua cópia de O Silêncio da Casa Fria!

Ficha Técnica:

Título: O Silêncio da Casa Fria
Autora: Laura Purcell
Editora: DarkSide
Tradução: Camila Fernandes
Ano: 2020
Páginas: 288
ISBN: 9788594541857
Sinopse: Quando Elsie perdeu o marido apenas algumas semanas após o casamento, achou que já tinha sofrido o suficiente para uma vida inteira. Praticamente sozinha em uma casa enorme e isolada, ela jamais imaginou que os companheiros silenciosos — painéis de madeira que imitavam pessoas em atividades cotidianas —, um dia, seguiriam seus movimentos com os olhinhos pintados. Muito menos que eles apareceriam por conta própria em cômodos aleatórios…

Acenda uma vela e nos acompanhe na escuridão. A DarkSide® Books pavorosamente apresenta O Silêncio da Casa Fria, o novo lançamento da linha DarkLove: uma história sombria, sinistra e gelada — um verdadeiro tributo aos romances góticos clássicos que tanto amamos.

Para escrever este livro, a autora Laura Purcell se inspirou em um costume europeu popular nos séculos XVIII e XIX, especialmente entre os ingleses e holandeses. Nele, famílias aristocráticas pregavam peças com tábuas de madeira ricamente pintadas e esculpidas. Criados, soldados, plantas, animais… e, aqui, uma criança estranhamente familiar, com um sorriso travesso e uma rosa branca na mão.

Com uma habilidade narrativa que transporta o leitor para a época vitoriana — e suas densas neblinas, costumes peculiares, a tão presente discussão entre a ciência e o sobrenatural —, Laura Purcell desenrola uma trama cheia de nuances enquanto Elsie vai abrindo as portas da casa para tentar desvendar o mistério dos companheiros — e também do seu passado. O tempo, às vezes, demora a passar no silêncio da casa fria.

Com a atmosfera lúgubre típica das histórias de fantasma vitorianas, O Silêncio da Casa Fria honra os melhores contos góticos. A história de uma mulher confrontada com um medo irracional, que coloca em xeque sua própria sanidade. Estaria Elsie vendo coisas como forma de dar sentido ao luto? Ou realmente havia algo sobrenatural morando sob o mesmo teto que ela?
Algumas portas devem permanecer trancadas.