A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça é mais uma daquelas histórias que crescemos vendo adaptações e referências, mas dificilmente temos contato com a obra original. E assim como acontece com outros livros desse estilo (Drácula, Frankenstein etc), ler o original traz uma agradável surpresa ao ir além do esperado.
Aqui temos um conto, então a leitura é bem rápida, mas não somente pelas poucas páginas, a escrita de Washington Irving é fluída, sarcástica e até mesmo divertida. Desde as primeiras páginas já somos surpreendidos por essa pegada mais cômica em uma trama que entrou no imaginário popular como uma história de assombração.
Um conto de terror, mas nem tanto
Estamos no vilarejo de Sleepy Hollow, em uma comunidade alemã isolada e que mantém muito das crenças e cultura de seus imigrantes. Ichabod Crane, nosso protagonista, está morando lá há pouco tempo, trabalhando como o professor local. Ele já aprecia as coisas boas do lugar, adora a comunidade e sonha em se estabelecer definitivamente. Acontece que o que mais Icabod quer é uma vida com boa comida. As passagens em que descreve a gula do personagem são bem engraçadas. Enquanto as pessoas vão às reuniões e apreciam a boa decoração das casas, Ichabod se preocupa com o que tem na mesa para o jantar. Olha, me relacionei.
Mas como disse, o professor adora tudo do local, inclusive as histórias de terror narradas pelas senhoras da comunidade. O problema é que depois ele fica morrendo de medo, mas enquanto as escuta, ele está lá feliz. E claro que a lenda mais famosa é a do Cavaleiro sem Cabeça. Um soldado fantasmagórico que tem o corpo enterrado na igreja do vilarejo, mas acorda de madrugada para cavalgar em busca de sua cabeça. Várias pessoas da região juram ter avistado o cavaleiro e Icabod sempre teme encontrá-lo ao voltar para casa sozinho.
Na verdade, alguns dos historiadores mais autênticos da regIÃo, que tiveram o cuidado de conferir e coletar os fatos flutuantes a respeito desse espectro, alegam que, estando o corpo do soldado enterrado no cemitério da igreja, o fantasma calvaga até o local da batalha numa busca noturna por sua cabeça, e a velocidade impetuosa com que às vezes passa pelo vale, como uma ventania à meia noite, se deve ao fato de estar atrasado e ter pressa de voltar ao cemitério antes do amanhecer.
É óbvio que o ápice dessa história é o encontro dos dois, mas por ser um conto não tem como comentar muito além sem dar spoiler. Para quem, como era o meu caso, conhece apenas as adaptações, toda a situação do encontro se dá de uma maneira bem inesperada.
Aliás, a adaptação mais famosa, do Tim Borton de 1999 mantém toda a ambientação, os nomes e a covardia do protagonista, mas tirando isso, a trama em si é completamente nova.
Mas é bom?
É sim. A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça é uma ótima história para quem quer entrar no clima do fantástico no mês do horror, com uma ambientação ótima para a época, mas não quer algo que vá além disso. Não é um conto de dar medo e o sarcasmo e o humor da narrativa são bem mais presentes do que arrepios. Então, fica a dica para quem quer se divertir em um clima mais gótico.
Eu li pela edição da Editora Wish que trás outros três contos desse autor. Eles mantém a temática sobrenatural com um quê de sarcasmo, porém o conto principal é sem dúvidas o melhor.
Nota
Ficha Técnica:
Título:A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça e Outros Contos
Autor: Washington Irving
Editora: Wish
Tradução: Camila Fernandes
Ano: 2020
Páginas: 192
ISBN: 9788567566399
Sinopse: A Lenda original do Cavaleiro Sem Cabeça em uma edição comemorativa com capa dura. Inclui os contos extras: Rip van Winkle, O Noivo Espectral e O Diabo e Tom Walker.
Ichabod Crane, um sujeito esguio e supersticioso, viaja até uma vila chamada Sleepy Hollow para exercer seu ofício de educador. Lá, compete com o valentão Brom Bones pela mão de Katrina Van Tassel, filha única do rico fazendeiro Baltus Van Tassel. Porém, saindo de uma festa em uma noite de outono, Crane é perseguido por um suposto fantasma conhecido como Cavaleiro sem Cabeça. É o momento de descobrir se a lenda do Soldado Hessiano, que cavalga em busca de sua cabeça perdida, é verdadeira.