Uma história curta pode sintetizar toda uma vida, um sentimento, uma sensação ou uma mudança sem retorno. Ver este conceito de narrativa atrelado ao terror cósmico, que tem como base seres de um tamanho incompreensível pela modesta mente humana, sempre despertou a minha curiosidade. Caso o conto fosse escrito pela matriz do gênero, o Lovecraft, não haveria nenhuma desconfiança. Entretanto, N. é uma adaptação de um conto escrito por Stephen King, um autor que enxerga no humano o maior terror existente. A HQ consegue transmitir não só a essência como também o peso do terror cósmico? Nesta obra, o intitulado “Rei do Terror” usa o conceito apresentado nos Mitos de Cthulhu para entregar ao leitor o que sempre se destaca nas suas obras.
Por quê?
Trata-se de uma narrativa curta, sendo assim, qualquer detalhe pode estragar a experiência. Não são necessárias muitas palavras para descrever a premissa. Um psicanalista recebe a informação que um paciente dele com T.O.C. (transtorno obsessivo-compulsivo) cometeu suicídio. As perguntas: “Quando? Onde? Quem? Por quê?” funcionam como uma bússola capaz de levar qualquer investigador às respostas. Porém, em N. a pergunta causadora de inquietação é: Por quê?
Entender o motivo por trás de um suicídio é o núcleo central do conto onde personagens, mistério, um ambiente sinistro e uma atmosfera que mistura impotência e cansaço sugam a atenção do leitor. Ao ler a HQ senti que estava mexendo em uma caixa com algumas informações sobre o acontecido. Nesta caixa há relatos de pessoas que tinham contato com o suicida em um tom quase confessional. O tom é bem empregado e contribui para o envolvimento com a história.
O fotografar
Ainda remexendo essa “caixa”, ao virar as páginas, senti que estava vendo fotografias. Essa intenção do ilustrador se intensifica ao “fotografar” um local em específico que retrata o coração do conto. Esse mesmo local é registrado de diversos ângulos, por diversos olhares, mas sempre transmite uma sensação estranha. Em um primeiro olhar o personagem acredita que está em um ambiente comum da natureza. As palavras e a ilustrações convidam tanto os personagens como também o leitor a olhar com mais atenção e uma presença é transmitida.
King sendo King
O interessante é que Stephen King não tenta emular o Lovecraft e criar um ser abissal. Como faz na maioria dos seus livros, ele desencadeia o terror dentro da mente do personagens. Não é algo que enlouquece no mudar de um instante e não faz os olhos enxergarem criaturas inimagináveis. Em N. os fios da sanidade são cortados pouco a pouco. E um pequeno detalhe, relacionado a fotografia, é quem faz o primeiro corte.
No terror cósmico gosto da ideia de diminuição do ser humano, de torná-lo um fragmento insignificante perante ao universo. King absorve este conceito e foca em demonstrar como a mente humana é frágil para a curiosidade e os problemas sem solução. Esta fragilidade aliada a uma presença incompreensível tornam a HQ intrigante.
Muito a oferecer
Há também muitos subtextos dentro da trama ótimos para reflexão, tais como: a loucura como um vírus, o fracasso profissional e o comportamento de manada. O final em vez de fechar a história coloca todo o acontecido que gerou um ciclo em maior evidencia. Pensar na continuação de um conto seria coisa de doido? Acho pouco provável esta possibilidade e acredito que o autor só teve a intenção de deixar a seguinte pergunta na cabeça do leitor:
“Em algum momento aquilo irá terminar?”
N. não é uma obra para provocar sustos ou criar imagens para povoar os seus pesadelos. É uma HQ que o fará pensar em lugares abandonados pela natureza e a fraqueza da mente humana.

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Ficha Técnica
Nome: N.
Autor: Stephen King
Tradução: Érico Assis
Edição: 1ª
Editora: DarkSide Books
Ano: 2018
Páginas: 128
ISBN: 9788566636185
Sinopse: N. é uma história pesada. Logo no começo, o leitor sabe que o doutor. Bonsaint, um psicanalista, se suicidou e que sua irmã tenta entender os motivos que o levaram a essa atitude extrema. Dedicada a explorar os medos, as inseguranças e as obsessões dos personagens, a história avança por meio de documentos e relatos de Bonsaint, bem como das sessões de análise com N., um homem que sofre de grave problema de TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e não consegue parar de procurar padrões em tudo que cruza o seu caminho. Aos poucos, os leitores vão se familiarizando com as origens do problema de Bonsaint e de N., conforme a obsessão do protagonista por uma formação de pedras no estilo de Stonehenge se aprofunda e o leva a um misterioso caminho sem volta. De forte e clara referência à atmosfera lovecraftiana, o conto é, segundo o próprio Stephen King, inspirado na novela O Grande Deus Pã, do escritor galês Arthur Machen (1863-1947). Em uma espiral de ação psicológica que desafia a própria razão, o roteiro de Marc Guggenheim (que já escreveu X-Men, séries, jogos e filmes) adapta a atmosfera sombria do conto de King, enquanto a arte de Alex Maleev (ilustrador de Mulher-Aranha e Demolidor) incorpora as misteriosas palavras do rei do terror. Considerado um dos melhores contos de Stephen King, a sua adaptação para os quadrinhos em parceria com a Marvel impressiona pela mesma capacidade de criar pesadelos em seus leitores. E depois da bem-sucedida empreitada, o conto vai virar série. O projeto, intitulado 8, foi anunciado pela Gaumont, com direção de David F. Sandberg (diretor de Quando as Luzes se Apagam e Annabelle 2: A Criação do Mal) e roteiro de Gabe Ferrari e Andrew Barrer (roteiristas de Homem-Formiga e a Vespa).


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