Quem nunca se inspirou em um artista, atleta ou até mesmo em um personagem? Eu me inspiro em Patrick Rothfuss. Uma poesia cantada que dá cor e movimento ao universo fantástico de O Nome do Vento é a fonte da minha admiração. Pensei que teria um mestre preferido no meio de tantos magos e magas das palavras. Porém, ao encontrar O Feiticeiro de Terramar de Ursula K. Le Guin me deparei com a inspiração de quem tanto me inspira. Vi a relação entre os autores que vai muito além da referência.
Uma só mágica para O Nome do Vento e Terramar
Se você já leu O Nome do Vento provavelmente se encantou com o nomear das coisas. Saber, conhecer a completa essência da água, do fogo ou do vento é algo mais poético do que conjurar uma bola de energia com a força interior. Caso ainda não tenha lido O Feiticeiro de Terramar, peço desculpas pelo spoiler, mas preciso lhe avisar que Patrick Rothfuss foi um dedicado aprendiz da Ursula em relação a sistema de magia. O mais interessante é que o autor não se acomodou com o sistema desenvolvido pela autora e o cercou com outras formas de poder, outras maneira de ver o sobrenatural e criaturas mágicas cheias de identidade.
Mesma alma e locais diferentes
Para mim foi fácil enxergar que O Feiticeiro de Terramar lançado em 1968 foi um dos pontos de partida para as primeiras ideias de Patrick em relação a criação de um universo fantástico. Imaginei esse autor, que demora para lançar o terceiro volume das Crônicas do Matador do Rei, morando um bom tempo no mundo criado por Ursula. Um universo que tem como essência o viver no interior, longe da aglomeração das grandes capitais. Os cenários transmitem a sensação de uma vastidão povoada por pequenas vilas. Ged, o protagonista desta obra antiga e importante, convive com casas modestas, se relaciona com pessoas simples e caridosas que vivem em torno do trabalho e há apenas pequenos traços de nobreza em todo o livro.
Patrick saiu do clima de interior para criar um Kvothe que vive por muito tempo na pobreza de uma cidade cheia de pessoas sedentas por moedas, preconceito e nobreza sendo exibida. Na maioria dos cenários há sempre um espaço sendo ocupado por alguém, por uma construção. Imagino que Ged e Kvothe vivem em reinos distantes, porém, presentes no mesmo universo que enxerga o mau como uma presença antiga e até mesmo folclórica e a magia como algo poético e cultural.
A vida e o aprendizado
Na vida escolar também há o ambiente fechado no mundo de Kvothe com oficinas de trabalho em lugares apertados e bibliotecas enclausuradas contrastando com práticas ao ar livre e professores longe das salas que marcam presença nos estudos de Ged. Independente das diferenças dos locais, os dois homens que têm a juventude retratada possuem algo em comum.
Semelhanças de O Nome do Vento
Tanto um quanto outro sentem superioridade ao aprender com facilidade a magia. Eles querem se mostrar para aqueles que o cercam. Um desejo pelo exibicionismo que os coloca em situações difíceis e também ensina. Imagino Ged e Kvothe isolados na vida adulta e tentando não cometer os mesmos erros do passado.
Não é só no destino que os livros se parecem. O perseguir marca presença nas duas jornadas. Em uma obra ele é explícito e na outra é metafórico. Personagens que poderiam conversar sobre o vagar sozinho, as consequências dos erros e dos mestres que ensinam com poucas palavras.
É preciso viajar
Para aqueles que viveram a vida urbana medieval em O Nome do Vento, convido a conhecer a obra de Ursula K. Le Guin. Se estou diante de um cidadão de alma serena que conheceu muitas ilhas só existentes no livro O Feiticeiro de Terramar, viaje em direção aos reinos criados por Patrick Rothfuss. Infelizmente, ambas as obras não tem um final (ainda), para o desespero dos fás. Uma depende do autor e a outra do mercado editorial.
Certamente, a obra de Patrick faz muito sucesso no Brasil. Assim por que não se aprofundar em uma obra que é parte da inspiração do criador de Kvothe? No início, as semelhanças entre o antigo e o novo serão o foco do encantamento, mas é só prosseguir pelas páginas que a experiência literária do Feiticeiro de Terramar se tornará algo único. Aproveite, leia e conheça um mundo que um incrível autor não só visitou como também o tornou parte de si.
No acervo do Leitor Cabuloso você encontrará as seguintes postagens relacionadas a obra O Nome do Vento:
[Podcast] Boteco dos Versados 41 – O Nome do Vento
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[Podcast] Covil de Livros 1 – O Nome do Vento
[Resenha] O Nome do Vento – Patrick Rothfuss