Um grande clássico de literatura latino americana, A Casa dos Espíritos foi traduzido em 42 idiomas e já vendeu milhões de cópias. Foi a estreia de Isabel Allende, que hoje é uma das autoras de língua espanhola mais vendidas no mundo.
Personagens vívidos e imperfeitos
A linha que conduz toda a história são as mulheres da família, cada uma delas envolvida, de alguma forma, com acontecimentos políticos relevantes naquele país. Clara, a matriarca clarividente; Blanca, a filha de natureza prática e apaixonada; e Alba, a neta rebelde e obstinada. As três mulheres que trazem amor e dor para a vida de Estaban Trueba, o patriarca burguês conservador.
Inicialmente não sabemos quem é a pessoa que narra, apenas que o narrador se baseia em cadernos escritos por Clara durante toda a sua vida. Mas, de alguma forma, ele consegue extrapolar o que é contado no caderno e nos dá uma panorama completo e muito interessante de cada personagem envolvido.
A narrativa, apesar de ser cronologicamente linear, nos da vislumbres de acontecimentos futuros. E, com isso, vamos percebendo o papel de cada um na complicada trama familiar dos Trueba. Além disso, conseguimos conhecer como se arranja a sociedade a cada geração. Com isso, é possível perceber como vai se construindo o ambiente político que culmina no grande golpe.
Política com pitadas de realismo mágico
Em consonância com o histórico de outros grandes autores latino americanos, Allende insere em sua história diversos elementos mágicos inexplicáveis que tornam a leitura sempre mais surpreendente.
Mas definitivamente não é a magia o que mais chama a atenção nesse livro, e sim a força que a política tem ao longo de toda a narrativa. A saga da família Trueba está complemente entremeada com a história desse país da América Latina.
Aliás, a forma como a autora coloca ao longo da história sua visão política e como os elementos mágicos se misturam é admirável. O místico e o prático, ao mesmo tempo, se opõe e se mesclam.
América Latina em seu melhor e pior
A autora mostra as belezas e as misérias que costumam ser comuns a muitos dos países da América Latina. Afinal, a formação das sociedades latinas, principalmente no século XX, tem muitas semelhanças.
O êxodo rural, a formação das periferias das cidades, o crescimento da desigualdade, a exploração dos trabalhadores, são todos temas que aparecem ao longo da história. Mas também a rica cultura dos povos originários que sobrevive às eternas tentativas de apagamento, com a desculpa do progresso, em meio ao saber popular. E, além disso, ela vai construindo, aos poucos, o ambiente político que leva a instauração de uma ditadura militar.
Alba perguntava-se de onde teriam saído tantos fascistas de um dia para o outro, porque, na longa história democrática de seu país, nunca os havia notado, exceto alguns exaltados durante a guerra, que, por macaquice, vestiam camisas negras e desfilavam com o braço para o alto, em meio às gargalhadas e às vaias dos transeuntes, sem que tivessem qualquer papel relevante na vida nacional.
É incrível, durante a leitura, ir percebendo as semelhanças com o Brasil, de antes e também de agora. Esse, com certeza é um livro que tem uma história rica e uma narrativa deliciosa. Um livro que merece leituras e releituras, pois há muito a aprender com essa obra.
Nota
Garanta a sua cópia de A Casa dos Espíritos e boa leitura!
Ficha técnica
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Título: A casa dos espíritos
Autora: Isabel Allende
Editora: Bertrand Brasil
Tradução: Carlos Martins Pereira
Ano: 1982
Páginas: 448
ISBN: 8528622568
Sinopse: A casa dos espíritos é tanto uma emblemática saga familiar quanto um relato acerca de um período turbulento na história de um país latino-americano indefinido.
Isabel Allende constrói um mundo conduzido pelos espíritos e o enche de habitantes expressivos e muito humanos, incluindo Esteban, o patriarca, um homem volátil e orgulhoso, cujo desejo por terra é lendário e que vive assombrado pela paixão tirânica que sente pela esposa que nunca pode ter por completo; Clara, a matriarca, evasiva e misteriosa, que prevê a tragédia familiar e molda o destino da casa e dos Trueba; Blanca, sua filha, de fala suave, mas rebelde, cujo amor chocante pelo filho do capataz de seu pai alimenta o eterno desprezo de Esteban, mesmo quando resulta na neta que ele tanto adora; e Alba, o fruto do amor proibido de Blanca, uma mulher ardente, obstinada e dotada de luminosa beleza.
As paixões, lutas e segredos da família Trueba abrangem três gerações e um século de transformações violentas, que culminaram em uma crise que levam o patriarca e sua amada neta para lados opostos das barricadas. Em um pano de fundo de revolução e contrarrevolução, Isabel Allende traz à vida uma família cujos laços privados de amor e ódio são mais complexos e duradouros do que as lealdades políticas que os colocam uns contra os outros.