Em A Senhora de Wildfell Hall, Gilbert Markham é um jovem fazendeiro do interior da Inglaterra em uma cidade calma que recebe uma nova moradora: Helen Graham, uma jovem viúva que não parece interessada em conhecer seus novos vizinhos e muito menos em permitir que eles saibam de sua vida antes de se mudar. Mas ela não consegue evitar a atração que vai crescendo entre ela e o jovem fazendeiro, assim como os boatos e fofocas que a cercam. É apenas quando Helen entrega a Gilbert seu diário que o rapaz toma dimensão dos segredos e perigos que ainda perseguem a moça.
Anne Bronte nos apresenta um retrato cru e fiel da condição da mulher no século XIX, especialmente sua falta de direitos dentro da instituição do casamento, porém ela faz isso com uma escrita fabulosa, viciante, que consegue ter leveza mesmo descrevendo uma temática tão difícil
As irmãs Bronte: espetaculares de maneiras diferentes
Eu quero começar essa resenha tirando o elefante branco da sala e dizendo que já li obras das três irmãs Bronte e acho todas incríveis e maravilhosas, cada uma ao seu estilo e com suas temáticas. Digo isso porque hoje em dia parece que não se pode falar bem da Anne sem menosprezar as obras das outras duas. Só porque as pessoas finalmente descobriram que O Morro dos Ventos Uivantes não é uma história de amor, não quer dizer que Emily errou ao escrever uma obra sobre obsessão e pessoas ruins de uma forma magnífica. Não é porque os mocinhos da Charlotte não tem atitudes mais aceitas nos dias atuais (felizmente) que todas as outras discussões sobre independência feminina ou violência infantil devem ser desprezadas.
É possível admirar todas elas, porque elas merecem ser admiradas. Essas mulheres sabiam como escrever!
Voltando para A Senhora de Wildfell Hall
Depois desse pequeno desabafo, vamos retomar a história de Gilbert e Helen. O início do livro é muito gostosinho, trazendo aquele ar de literatura inglesa onde acompanhamos as vidas de pessoas de uma região do interior, que aparentemente são super respeitáveis, mas têm toda uma carga de preconceito e arrogância. Pra quem gosta de uma história de fofoca é muito divertido.
Porém, é ao entrar na segunda parte do livro, em que conhecemos o passado de Helen através de seu diário que a leitura se torna mais intensa e viciante. Queremos saber o que aconteceu e ficamos chocados com o que é mostrado. A autora sofreu duras críticas com este livro, pela maneira como expôs de forma verdadeira os vícios da sociedade, assim como a construção de um relacionamento abusivo, de tal maneira que o livro foi “esquecido” durante várias décadas.
É com alegria que vejo nossa geração redescobrindo as obras de Anne, especialmente A Senhora de Wildfell Hall que trás temas tão importantes de serem discutidos ainda hoje.
Mas é bom?
Maravilhoso! A escrita é viciante e leve apesar da temática difícil. A construção dos personagens é muito verdadeira, mostrando o amadurecimento, especialmente de nossa protagonista, com as experiências pelas quais vai passando. Anne Bronte foi esquecida durante muito tempo e é uma pena que só tenha tido tempo de escrever duas obras, este livro e Agnes Grey. Eu recomendo a leitura de ambos, mas posso dizer com certeza que A Senhora de Wildfell Hall se tornou um favorito.
Nota
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Ficha técnica
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Título: A Senhora de Wildfell Hall
Autora: Anne Bronte
Editora: Record
Tradução: Julia Romeu
Ano: 2010
Páginas: 504
ISBN: 9788501080691
Sinopse: Clássico da literatura inglesa, considerado o primeiro romance feminista, em edição integral.
Filha mais nova da família Brontë, Anne era irmã de Emily Brontë, autora de O morro dos ventos uivantes, e de Charlotte Brontë, autora de Jane Eyre. Anne Brontë (1820-1849) desafia as convenções sociais do século XIX neste romance, A senhora de Wildfell Hall. A protagonista da obra quebra os paradigmas de seu tempo como uma mulher forte e independente, que passa a comandar a própria vida. Ao chegar à propriedade de Wildfell Hall, a Sra. Helen Graham gera especulação e comentários por parte dos vizinhos.
O jovem fazendeiro Gilbert Markham, por sua vez, desperta um grande interesse pela moça. Aos poucos, vai criando uma amizade com ela e com seu filho. Porém, os segredos do passado da suposta viúva e seu comportamento arredio impedem que o sentimento nutrido pelos dois se concretize. Quando a Sra. Graham permite que ele leia seu diário a fim de esclarecer os fantasmas do passado. O rapaz compreende os tormentos enfrentados por aquela mulher e as razões de suas atitudes. Ela narra sua história até então, desde a relação com um marido alcoólatra e de conduta abominável até a decisão de abandonar tudo em nome da proteção do filho.