[Resenha] Zé do Caixão Maldito: Biografia

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Capa do livro. Uma moldura ornamentada preta, e dentro outra moldura dourada com 4 cranios um em cada canto, e no centro, em formado oval, uma foto classica do personagem Zé do Caixão, em preto e branco.
Capa do livro. Uma moldura ornamentada preta, e dentro outra moldura dourada com 4 cranios um em cada canto, e no centro, em formado oval, uma foto classica do personagem Zé do Caixão, em preto e branco.

Conheci a obra devido ao falecimento de José Mojica Marins, em fevereiro deste ano. Como participo de um canal de cinema, iríamos fazer um especial sobre o diretor e, em busca por materiais, acabei por esbarrar em Zé do Caixão Maldito, que estava esgotada nas livrarias próximas a mim. Comprei-a graças a um sebo local.

Não sou ávido leitor de biografias, mas já entrei predisposto a gostar da obra, pois anos antes havia assistido a um vídeo do canal Entreplanos que explorava o taleto do diretor em seu primeiro filme À meia noite levarei o teu cadáver para mostrar que Mojica é muito mais do que o seu personagem Zé do Caixão.

Mas eu não estava preparado para este livro! Os biógrafos, Andre Barcinski e Ivan Finotti, possuem uma habilidade ímpar para contar a vida de seu protagonista. Claro que a vida nenhum pouco convencional de Mojica ajuda bastante, são episódios tão particulares e surreais que se não estivéssemos falando de uma biografia possivelmente diríamos que a ficção se faz exagerada. A escrita, portanto, é ponto alto aqui.

Os autores conseguem contextualizar acontecimentos da época com a vida de Mojica de forma que cria um panorama perfeito para mergulharmos profundamente no que nos é contado. Logo, o livro serve a dois propósitos: como uma homenagem a um diretor e ator pouquíssimo valorizado no Brasil (não seria o único, certo?) e revela informações sobre um país que muitos de nós desconhece (ou finge não conhecer).

Nasce uma lenda

À caráter de exemplo (isto não é nenhum spoiler que fique claro), a assessão de Mojico ocorre durante o período da ditadura militar. A obra não só consegue nos explicar como era fazer cinema neste momento, como esclarece de forma interessantíssima como funcionava o processo da censura. Outra passagem que vale destacar é a própria história da Boca do lixo, local na cidade de São Paulo, que tinha diversas produtoras que financiavam filmes em um país pré-televisão.

A edição é outro desbunde. Porém elogiar os livros da editora Darkside é lugar comum. Mesmo assim o design interno do livro combina perfeitamente com o tom dos filmes produzidos por Mojica. Sem contar as inúmeras fotografias que deixam mais ricas toda a narrativa.

No skoob, eu dei nota 4,5 (quatro e meio). O meio ponto tirado foi devido a vários comentários machistas, principalmente, na legenda das fotos que mostram as atrizes que participaram dos filmes. Além de conter palavras como “a gostosíssima” e outros adjetivos. Vale ressaltar que este livro é uma reedição. A obra saíra pela primeira vez em 1998, logo não seria interessante revisar esse tipo de conteúdo? Enquanto lemos uma ode a Mojica, as atrizes são vistas por um olhar masculino muito fora de época.

A enorme obra de Zé do Caixão

Mojica produziu mais de 60 filmes. Abandonou a educação formal muito cedo e nunca estudou cinema de forma acadêmica, porém tinha aquilo que alguns chamam de dom. Só sabia fazer uma coisa: filmar. O Zé do Caixão que está no inconsciente coletivo fora criado pela própria necessidade de Mojica de continuar com sua arte num país que pouco investe em seu cinema.

Eu gostaria muito que este texto servisse para motivar mais e mais pessoas a lerem este livro e conhecerem o gênio por traz da caricatura. Que possamos homenageá-lo lendo sobre ele e também assistindo a seus filmes.

O Canal Colecionador de Cinema fez uma live dedicada ao cineasta (importante dizer que na época eu não tinha lido a obra ainda) e para quem quiser deixo o vídeo aqui.

E eu também falei um pouco sobre a obra neste episódio especial do site Leitor Cabuloso, no podcast, Perdidos na Estante, no episódio 12 — Cabulosos em quarentena.

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Nota

Quatro selos cabulosos e meio. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.
Quatro selos cabulosos e meio. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.

 

 

 

 

Garanta a sua cópia de Zé do Caixão Maldito: Biografia e boa leitura!

Ficha técnica

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Nome: Zé do Caixão Maldito: Biografia
Autor: André Barcinski e Ivan Finotti
Editora: DarkSide Books
Edição: 
Ano: 2015
Páginas: 666
ISBN: 9788566636789
Sinopse: Ele veio ao mundo numa sexta-feira 13, em março de 1936. Quase oitenta anos depois, José Mojica Marins construiu um legado artístico incomparável em nosso país e se consagrou como um dos grande mestres do Terror mundial.

O público conhece sua voz gutural, as infindáveis garras que ele chama de unhas, sua barba cerrada e suas roupas, incluindo capa e cartola, sempre escuras como a noite. Mas até que ponto o Brasil reconhece toda genialidade do homem por trás do mito?Em ZÉ DO CAIXÃO – MALDITO, A BIOGRAFIA, os jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti desenterram todos os segredos do passado de José Mojica, da infância humilde nos subúrbios de São Paulo até sua consagração internacional.Um dos cineastas mais produtivos do Brasil, Mojica escreveu, dirigiu, produziu e atuou em mais de trinta filmes, como os clássicos À Meia Noite Roubarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver e O Despertar da Besta.

Mojica aprendeu a fazer cinema sozinho, na marra, usando os recursos disponíveis e formando seus próprios técnicos e atores. Como resultado, o mundo ganhou um artista genuinamente brasileiro, que jamais precisou copiar fórmulas estrangeiras.A biografia, publicada originalmente em 1998, estava há muito tempo fora de catálogo. Uma heresia que a DarkSide Books não poderia perdoar. Muitas sextas-feiras 13 depois, ZÉ DO CAIXÃO – MALDITO, A BIOGRAFIA está sendo relançada pela DarkSide, numa edição à altura do genial diretor – e também padrinho da editora.

Com 666 páginas (200 a mais que a antiga versão), o livro conta com muitas fotos inéditas, filmografia atualizada e acabamento luxuoso em capa dura.

Publicado originalmente em https://medium.com/@l.antoniobn