Terceiro livro lançado deste recém (porém não menos primoroso) descoberto escritor, “Flores Selvagens” é um livro com uma pitada de escrita clariciana, uma outra pitada de literatura contemporânea, e um pouco da abrangência literária de Carlos Ruiz Zafón.
“O futuro acontece na indecisão de cada passo” – Flores selvagens
Flores Selvagens
A história começa de maneira pulsante, já nos mostrando que o personagem principal, um homem gay, sem nome, – assim como todos os personagens do livro, que também não possuem nome – que apresenta o seu desejo que inicialmente não compreendemos o motivo: enfiar uma bala no meio da cabeça.
É assustadoramente intrigante, um início que prende a atenção não somente pela história, mas pela notícia que somos bombardeados logo de início. Suicídio em livros não é uma novidade, nem a vontade de, mas, neste caso, a forma como isso é apresentado chama a atenção para um outro ponto: Por qual motivo um homem, ex-presidiário, gay, iria querer se matar depois de se vingar? E, afinal, o que levou a isso?
O Pulsar de Uma Flor Enrubescida
A história deste homem é triste, forte e pungente. Depois de sete anos na cadeia, preso por um crime que, a princípio, não é dito muito bem qual seria (propositalmente, provavelmente), ele é solto, mas não consegue querer seguir vivendo, nem quer morrer sem antes se vingar. Vingança essa que também é revelada aos poucos durante a história, assim como o crime que o leva a essa vontade.
Somos apresentados a um cenário caótico e cinzento, pintado de acordo com os sentimentos aflitivos e sanguinolentos deste personagem que aos poucos vamos descobrindo mais e mais camadas, pedaços que, inicialmente, não imaginamos que apareceriam.
As descrições de como este homem vê o mundo e pensa sobre ele são muito íntimas e únicas, pessoais e até mesmo um pouco impessoais, mesmo que tristes em grande parte das vezes, e isso lembra muito a escrita clariciana com uma pitadinha de Zafón.
Mas, ao mesmo tempo, nos deparamos com cenas que, por mais que sejam fortes, são extremamente necessárias para a contextualização da história deste homem gay.
Por se tratar de uma história que mesmo que fictícia, é extremamente palpável, muitos pedaços dela são fortes, e podem causar gatilho em algumas pessoas. Fica aqui o aviso para quem tiver algum bloqueio com conteúdos que contenham cenas de abuso ou de homofobia.
Ah, e claro que o fato de o personagem ser gay também é importante para a história. Não se engane, tudo neste livro tem um papel crucial e nada nele é por acaso. Afinal, acasos não existem, não aqueles que te levam a querer enfiar uma bala no meio da cabeça por 7 anos, não é?
O Final e seus Delírios
Obviamente o final deste livro não seria menos primoroso.
Com o final misterioso, este livro termina te dando a liberdade de encaixar aquele final do jeito que sua cabeça queira. Você pode achar que foi um delírio, um adeus, uma carta… Tudo depende de como você sentiu o livro ao lê-lo.
Definitivamente, “Flores Selvagens” é uma experiência marcante e de qualidade surpreendente.
Biografia
Yuri Rebouças nasceu em 1994 na cidade de Areia Branca, interior do Rio Grande do Norte e atualmente mora em São Paulo. Além da literatura, também atua no teatro. O seu primeiro livro, “Cântico dos Ândalos” (2017) alcançou o primeiro lugar entre as distopias mais vendidas da Amazon, e o segundo, “Além das Estrelas” (2019) é a primeira ficção científica LGBT do Brasil.
Nota

Garanta a sua cópia de Flores Selvagens e boa leitura!
Ficha técnica
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Nome: Flores Selvagens
Autor: Yuri Rebouças
Edição: 1ª
Editora: Eta Carinae
Ano: 2020
Páginas: 175
ISBN: B083H8YCDT
Sinopse: Após sete anos na cadeia, um jovem desiludido retorna para casa com uma única promessa: descobrir o que realmente aconteceu naquela estranha noite em que foi preso e depois atravessar a própria cabeça com uma bala.
Mas será possível encontrar respostas quando o real e a paranoia estão tão entrelaçados?
À medida que relê os diários escritos na prisão e revive as cicatrizes do passado, descobre que todas as suas tragédias e perdas apresentam um elemento em comum: ser gay e o impacto pungente da intolerância em sua casa, tão extrema que talvez tenha sido um dos motivos que o levou para trás das grades.
Esse mergulho nas suas profundas e perturbadoras memórias o faz perceber que o mundo virou ao avesso durante a sua ausência, e existem segredos adormecidos naquela casa que jamais deveriam ser despertados.
![[Resenha] Flores Selvagens – Yuri Rebouças Capa do livro. Uma imagem de uma pessoa segurando uma rosa, mas na posição como se fosse uma arma apontada para a própria cabeça, mostrando apenas a mão, a rosa e o ombro. No topo o título do livro e o nome do autor.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2020/04/FloresSelvagens-Site-696-390.jpg)

Não esqueça de adicionar ao seu ![[Resenha] Lebre da Madrugada – Arthur Malvavisco Capa do livro. Ilustração com um fundo roxo. Em primeiro plano, uma lebre branca, ao redor dele, ocupando o restante da capa, diversos objetos, uma garrafa, duas flores distintas, uma pena escura, uma pinça, uma tesoura e uma faca com cabo estilizado. No topo, o título do livro em branco com fonte estilizada.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/LebreDaMadrugada-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] A cidade de bronze – S. A. Chakraborty Capa do livro. No fundo, um céu escuro, com alguns pontos luminosos no topo. Na base, uma perspectiva de horizonte com a silhueta de algumas construções em arquitetura árabe em dourado, e uma pessoa caminhando vista bem de longe. Do local dessa pessoa emana uma luz com labaredas amarelas que vão até o topo da capa avermelhando-se. No centro da capa uma mandala, e em primeiro plano o título do livro.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/ACidadeDeBronze-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] Olhos d’água – Conceição Evaristo Capa do livro. Ilustração do rosto de uma pessoa, mostrando apenas o olho, ocupando toda a capa, o olho é castanho, e a pele em tom marrom, tons azuis abaixo do olho mostram que a pessoa está chorando. O fundo é branco. No topo o nome da autora, e logo abaixo o título do livro em azul.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/OlhosDagua-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] Homens de armas – Terry Pratchett Capa do livro. Ilustração cartunesca em tom amarelado mostra um grupo de aventureiros medievais. No grupo faz parte uma guerreira que está a frente, seguida de um guerreiro, do outro lado um homem baixo carregando um machado, mais atras uma criatura semelhante a um ogro, do outro lado mais um guerreiro com machado e um pequeno dragão no ombro. Eles percorrem uma caverna. No topo, o nome do autor e título do livro. Na ponta superior direita, uma faixa com o texto "Discworld"](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/HomensDeArmas-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] De Lukov, com amor – Mariana Zapata Capa do livro. Fundo com manchas brancas e azuis claras formando uma textura parecida com gelo. Ocupando toda a capa, um buque de rosas. Em primeiro plano, o titulo do livro ocupando toda a capa, e no centro o texto "Autora bestseller do New York Times e USA Today, Mariana Zapata"](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/DeLukov-Site-696-390.jpg)


