[Resenha] Enfim, capivaras – Luisa Geisler

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Ilustração com um fundo amarelo, e três capivaras uma sobre as costas da outra, a do meio com uma gravata listrada. Em primeiro plano distribuido sobre cada uma delas, o título: Enfim, Capivaras. na base, o nome da autora Luisa Geisler.
Ilustração com um fundo amarelo, e três capivaras uma sobre as costas da outra, a do meio com uma gravata listrada. Em primeiro plano distribuido sobre cada uma delas, o título: Enfim, Capivaras. na base, o nome da autora Luisa Geisler.

Literatura nacional com a cara do Brasil é algo que me agrada muito. Por isso, foi uma experiência muito interessante ler Enfim, capivaras, da Luisa Geisler. Na história, acompanhamos cinco amigos no interior de Minas Gerais em uma jornada de doze horas em busca da suposta capivara desaparecida de Denis, um mentiroso contumaz.

Vanessa, Zé Luís, Léo, Nick e Denis (ou Binho, como os amigos o chamam) são personagens muito bem representados. Têm jeitos, falas e questões típicas de adolescentes, o que traz profundidade a cada um deles. A narração do livro é alternada entre os quatro amigos que tentam desmascarar Binho, e todos eles têm vozes próprias, ficando fácil perceber as diferenças quando cada um está narrando.

À primeira vista, Enfim, capivaras apresenta uma trama simples e gostosa de acompanhar. É uma leitura muito imersiva, que nos faz mergulhar na aventura dos amigos e seguir nessa busca regada a “salgadinhos, álcool, segredos e romances mal resolvidos”, como diz na sinopse da obra. O clima do livro lembra muito um filme bem leve e divertido.

Mas a autora conseguiu ir além disso.

Temas importantes

O livro, em meio à escrita fluida e bem-humorada, levanta questões muito relevantes, especialmente em relação à sexualidade e diferenças sociais. Zé Luís, por exemplo, é o filho da empregada da família de Léo, e essa “diferença” aparece em várias partes da história.

No início de cada capítulo, há alguns motivos que explicam a presença dos personagens na busca pela capivara e como se sentem em relação à situação e uns com uns outros. No primeiro capítulo narrado por Zé Luís, que explana onze motivos pelos quais ele está nessa “bagunça”, é citada a posição dele de sempre estar lá pronto para ajudar o filho dos patrões.

“(…) por ser confundido com Léo todo o tempo, Zé Luís sentia que tinham sido trocados no berço. Isso se o mundo fosse uma meritocracia. Mas a única maneira de viver a vida de Léo era ao lado dele. Como coadjuvante.”

Por conta de algumas passagens do livro (como adolescentes bebendo álcool e menores de idade dirigindo), Luisa Geisler teve sua participação cancelada em um evento no interior do Rio Grande do Sul. A meu ver, a autora nada mais fez do que retratar os jovens como eles são, sem intenção de dar lições.

O episódio do carro, por exemplo, levanta um outro ponto importante: quem dirigia era Léo, filho de um importante fazendeiro da região, e que, por isso mesmo, recebe “tratamento especial” e jamais seria punido por isso. É o que acontece de verdade, não é mesmo? Por isso, ao contrário do que foi alegado, acho livros como esse importantíssimos para usar como ponto de partida para levar os jovens à reflexão.

Aprofundamento dos temas

Apesar de o livro tratar desses temas importantes, algumas partes poderiam ter sido mais aprofundadas. Em certos momentos, a história parecia não avançar e questões importantes que apareciam nos itens antes de cada capítulo não ganhavam aprofundamento ao longo da narrativa. Além disso, gostaria de ter visto mais da capivara, já que ela dá nome ao livro (e é uma graça de animal!).

A obra se beneficiaria, portanto, de equilíbrio no ritmo, acelerando em partes repetitivas e pisando no freio em outros momentos relevantes. Afinal, há muito conflito a ser explorado quando cinco adolescentes estão perdidos pela cidade durante doze horas.

Enfim, capivaras vem provar, mais uma vez, a qualidade e relevância da literatura nacional contemporânea. Precisamos valorizar obras e artistas que falam sobre nós e conseguem levantar discussões importantes enquanto nos entretêm no caminho.

Nota

Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.
Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.

 

 

 

 

Garanta a sua cópia de Enfim, capivaras e boa leitura!

Ficha técnica

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Nome: Enfim, capivaras
Autora: Luisa Geisler
Edição:
Editora: Seguinte
Ano: 2019
Páginas: 173
ISBN: 9788555340857
Sinopse: Em seu primeiro livro para o público jovem adulto, a premiada autora Luisa Geisler narra uma aventura inusitada de cinco jovens em busca de uma capivara perdida.

A cidade no interior de Minas Gerais para onde Vanessa se mudou é o tipo de lugar onde anunciam os horários do cinema e os obituários com o mesmo carro de som. Nada de muito interessante acontece por lá, a não ser para Binho, que, segundo ele mesmo, tem várias namoradas e conhece um monte de cantores sertanejos famosos.

A verdade é que Binho é um mentiroso contumaz e agora passou dos limites: inventou que tem uma capivara de estimação. Cansados das histórias cada vez mais mirabolantes do garoto, Vanessa se junta aos amigos ― Léo, Nick e Zé Luís ― para desmascará-lo. E eles estão decididos a ir até as últimas consequências.

Narrado durante as doze horas de uma noite regada a álcool, salgadinhos, segredos e romances mal resolvidos, Enfim, capivaras explora, através de diferentes pontos de vista, os relacionamentos entre um grupo de adolescentes em busca de uma capivara ― ou muito mais do que isso.