A palavra épico está colada às obras de fantasia. Muitos tem uma opinião de quando essa obsessão pelo épico começou. Épico será o maior argumento de venda para o público fã de fantasia até quando? Por épico podemos definir exércitos inimagináveis se chocando? Só é possível transmitir o máximo da mídia livro junto com a fantasia desta maneira?
E, se eu disser para você, que em vez de épica, uma obra de fantasia pode ser vendida como complexa. Além disso, devo informar que esse complexo pode proporcionar uma excelente experiência literária. Hoje você vai conhecer algo diferente:
Apresento-lhes a saga Malazano do Caídos, escrito por Steven Erikson, em que seu primeiro volume é chamado de Jardins da Lua.
Difícil e bom!? Como é possível?
Comparar esse livro com qualquer jogo da franquia Souls (vídeo jogos desenvolvido pela empresa From Software) é o inicio de uma resposta satisfatória. Ao ver as semelhanças entre jogo e livro pensei que tinha concebido a melhor das sacadas. Entretanto, pesquisando um pouco na internet, percebi que não fui o primeiro a fazer essa associação. Caso você não tenha nenhum conhecimento sobre Demon Souls, Dark Souls, Bloodborne… farei um pequeno resumo do que costuma ser comum:
- Você é jogado em um universo com milênios de existência.
- A atmosfera te envolve através de cenários, estética e trilha sonora.
- Descrições de objetos, arquitetura ou textos perdidos contam sobre o mundo desbravado e a jornada a ser percorrida.
Dá para fazer o mesmo em um livro, onde a interação só é feita através da leitura?
Steven Erikson também joga o seu leitor em seu universo. Porém, há um fato central para se guiar: a imperatriz Laseen quer conquistar Darujhistan.
A partir dessa informação o leitor não tem um controle com vários botões e uma tela com muitas polegadas. É dado para ele algo diferente. Ao decorrer das páginas um tabuleiro se forma na mente do desbravador dos Jardins da Lua. Antes de mais nada, elogio o autor por não se apoiar em clichês. O jogo, o movimentar das peças, não é só feito pela nobreza. Esqueça os casamentos que selam acordos e os pequenos (não nobres) sendo movimentados ou na posição de meros coadjuvantes. Nesta obra os personagens não possuem poucas cores desbotadas e não são iguais a tantos outros. Há carne, cultura, personalidade e reflexão na maioria das peças/personagens. Alias, não há só peças humanas.
A cultura chega a escorrer pelas páginas
Ao pesquisar sobre Steven Erikson a profissão antropólogo se destaca. Na escrita os elogios devem ser feitos em relação aos excelentes diálogos de ritmo rápido, as descrições pontuais que mistura o tom poético com toda a atmosfera do universo Malazano e a coragem de fragmentar o textos, gerando expectativas por núcleos e personagens. Se o escritor merece cumprimentos, o antropólogo merece palmas. A vivência com culturas antigas é transportada para o livro em praticamente todos os detalhes.
Um simples nome transmite uma linguagem própria cheia de identidade. Detalhes nas roupas falam um pouco sobre uma tradição. E, por fim, o sistema de magia não conta uma história; ele é praticamente a história de um local. Este último exemplo é o que me deixou mais intrigado e uma nova leitura ou o avançar da série pode esclarecer muitas dúvidas.
Releitura é algo obrigatório?
Não. No fim o leitor estará integrado a todo o universo e compreenderá como o jogo foi feito no Jardins da Lua. O que antes parecia um grimório indecifrável torna-se claro. Entretanto, como qualquer jogador/fã da franquia Souls, você vai querer desbravar cada canto, entender cada movimento e sabe a utilidade de cada item/peça.
Sedutoras contradições
Desejar avançar enquanto quer saber mais sobre o universo criado. Se encantar com um ponto de vista, ser jogado para outro, reclamar e se apaixonar pelo novo ponto de vista. Querer entender melhor como foi a batalha e ter vontade der ver os resultado da batalha. Ver uma magia ou arma, ter a nítida sensação de estar diante de uma pequena fração de um todo e logo em seguida esquecer porque algo novo chamou atenção. Neste livro a sensação de estar recebendo algo é constante.
Devo convidar a todos?
Excelente representatividade, ótimos personagens e uma trama envolvente contada através de pequenos e grandes detalhes. Essas qualidades são o suficiente para chamar a atenção de qualquer leitor. Porém, é preciso ressaltar, que a obra é um presente para os leitores maduros de fantasia e pode assustar os menos entusiastas do gênero.
Não é muito prudente presentear uma pessoa que só jogou Mario durante a vida com uma cópia de Dark Souls. Da mesma forma que Jardins da Lua não é aconselhável para pessoas que não tem contato ou não gostam do gênero fantasia. É claro que essa recomendação não tem nenhuma utilidade para aqueles que gostam da satisfação só proporcionada por um excelente desafio.
Tenho mesmo que te convencer?
Os idealizadores do estilo Souls não fizeram sucesso de imediato e se preocuparam em inovar a narrativa nos vídeos games. Hoje eles influenciaram um jogo de Star Wars (franquia que iniciou o grande boom da cultura Pop). Jardins da Lua, de Steven Erikson, também tem o desejo de inovar a literatura fantástica e isso é louvável.
Você vai ler agora? Vai esperar bombar quando virar uma séria ou algo do tipo? Brinco com as possibilidades, sou até exagerado, mas a escolha é sua.
Nota
Garanta a sua cópia de Jardins da Lua e boa leitura!
Ficha Técnica
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Nome: Jardins da Lua – Livro 1 da Saga Malazano dos Caídos
Autor: Steven Erikson
Tradução: Carol Chiovatto
Edição: 1ª
Editora: Arqueiro
Ano: 2017
Páginas: 608
ISBN: 9788580416824
Sinopse: Desde pequeno, Ganoes Paran decidiu trocar os privilégios da nobreza malazana por uma vida a serviço do exército imperial. O que o jovem capitão não sabia, porém, era que seu destino acabaria entrelaçado aos desígnios dos deuses, e que ele seria praticamente arremessado ao centro de um dos maiores conflitos que o Império Malazano já tinha visto.
Paran é enviado a Darujhistan, a última entre as Cidades Livres de Genabackis, onde deve assumir o comando dos Queimadores de Pontes, um lendário esquadrão de elite. O local ainda resiste à ocupação malazana e é a joia cobiçada pela imperatriz Laseen, que não está disposta a estancar o derramamento de sangue enquanto não conquistá-lo.
Porém, em pouco tempo fica claro que essa não será uma campanha militar comum: na Cidade do Fogo Azul não está em jogo apenas o futuro do Império Malazano, mas estão envolvidos também deuses ancestrais, criaturas das sombras e uma magia de poder inimaginável.
Em Jardins da lua, Steven Erikson nos apresenta um universo complexo de cenários estonteantes e ações vertiginosas que mostram por que esta é considerada uma das maiores sagas épicas.