[Resenha] Claros Sussurros de Celestes Ventos

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Imagem mostrando o livro entre alguns galhos. Na capa do livro é possivel notar o titulo, com frases onduladas:
Imagem mostrando o livro entre alguns galhos. Na capa do livro é possivel notar o titulo, com frases onduladas: "Claros sussurros de celestes ventos", com um céu quase branco de fundo, e abaixo, parte de uma plantação.

Claros Sussurros de Celestes Ventos é um romance de autoria de Joel Rufino dos Santos. Nele, o autor brinca com a possibilidade de que Cruz e Sousa e Lima Barreto, dois grandes escritores negros da literatura brasileira, teriam se encontrado algumas vezes em vida. Numa narrativa que mescla fatos históricos reais a personagens dos autores e sua própria criação literária.

Uma obra de muitas tramas

O livro não tem uma trama única: inicia com foco em Lima Barreto, prestes a morrer e tendo um encontro com “o fantasma” (ou a memória de Cruz e Sousa), a quem teria encontrado na própria juventude. Depois, volta ao período de vida do poeta catarinense, expondo sua vida miserável, a luta contra a tuberculose e a morte prematura por conta da doença.

Assim, um capítulo se entrelaça ao outro por personagens que se repetem, pela referência da memória ou da leitura das obras desses escritores. Todos os personagens estão ligados de alguma maneira, apesar de a narrativa não segui-los linearmente.

A poesia

O título da obra já indica uma sonoridade especial, digna do Simbolismo, movimento com o qual se identifica o poeta Cruz e Sousa: Claros Sussurros de Celestes Ventos. A expressão é como um verso de poema perdido, tem musicalidade e sinestesia (a figura de linguagem em que se misturam as percepções dos sentidos).

Por isso, é esperado que dentro de suas páginas encontremos passagens bastante sugestivas. A linguagem é simples, mas não perde delicadeza, nem momentos de belas construções.

Se estamos mortos não estamos sós, comenta o outro, arreganhando os beiços, os mortos fazem uma caravana que rodeia a Terra. P. 95.

Uma obra para refletir e reler

Uma reflexão que acompanha toda a obra é a marginalização, principalmente a dos negros, mas também de outras minorias. As narrativas que se cruzam na história apontam transgressores dos papéis que lhes são atribuídos ou não. Como na vida real, nem todos os personagens da obra têm sucesso em sair da margem, mas lutam.

Com esse fio condutor, unido à subjetividade da construção do livro, esse é um livro que parece existir para a releitura. Ao final da leitura, fica a sensação de que podemos encontrar mais pontos de conexão entre os personagens e suas histórias (eles certamente aguardam para serem desvendados).

Claros sussurros de celestes ventos é uma obra para leitores atentos, que gostam de aproveitar uma narrativa poética e desvendar seus enigmas. É um livro de ritmo ágil, mas que convida ao reler. Repleto de referências literárias e históricas, deve agradar os apaixonados pela literatura brasileira.

Nota

5 selos cabulosos

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Ficha Técnica

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Título: Claros sussurros de celestes ventos
Autor: Joel Rufino dos Santos
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 8528616010
Ano: 2012
Páginas: 182
Sinopse: Primeiro livro do premiado Joel Rufino dos Santos pela Bertrand Brasil, Claros sussurros de celestes ventos apresenta um conjunto de narrativas fantásticas que se intercalam de forma intensa, criando um mosaico, uma explosão de sentimentos e sensações, por meio de eventos importantes ocorridos entre os séculos XIX e XX. No livro Joel Rufino inventa que dois dos maiores escritores negros do Brasil, Lima Barreto e Cruz e Sousa, se encontraram algumas vezes e que algumas de suas criaturas, como a Olga do Policarpo Quaresma, e a Núbia, de Broquéis, continuam suas vidas em novos tempos e lugares.

Pode ser lido como um romance histórico da revolução paulista de 32, do modernismo, das cidades mortas do vale do Paraíba, da crise de 29. Ou apenas como uma intensa ficção, em que o próprio estilo poético é personagem. Uma das intenções do autor com o livro é despertar o interesse do leitor, sem didatismo, a descobrir o gosto pela ficção e pelos clássicos. Para isso, lança mão de personagens marcantes e histórias que se misturam a relevantes fatos históricos.