é com uma alegria tão profunda. é um tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que se funde com o mais escuro uivo humano da dor da separação mas é grito de felicidade diabólica. – ÁGUA VIVA, PG. 9
A Água Viva de Clarice
Diferente de tudo o que Clarice escreveu em vida, “Água Viva” é uma espécie de poema em prosa que simula a pintura, a escultura, o desenho, a música, a voz, o gesto, de maneira paradoxal, fazendo uso de comparações entre o real e o imaginário, a vida e a morte, o animado e o inanimado, enquanto um eu, declinado no feminino, dialoga com um tu, declinado no masculino, sobre as intempéries de um fim, um fim que não é explicitado no livro, mas que, conforme vamos lendo, o percebemos ser o final de um relacionamento que alimentou-se de dúvidas, questões e alguma tristeza.
Entretanto, Clarice não usa deste fim como apoio para desenvolver esta história, e sim de fluxos de pensamento que vem e vão conforme os dias começam e acabam, e conforme ela, aos poucos, em uma espécie de recado a outrem, adentra outros universos que se deslocam completamente um do outro, mas que vão se costurando, criando um espécie de pintura, onde a personagem principal, o eu, coloca o seu modo de ver o mundo, de ver aquele fim, mas não de maneira negativa, e sim contemplativa. E este modo único de “pintar o mundo em palavras” vai nascendo, de modo que, no fim, o relacionamento acaba se tornando mais um personagem do que enredo.
O “eu” de Clarice
Constantemente nos sentimos como se o personagem principal da história, neste livro, o “eu”, estivesse ali dialogando com o leitor também, em uma espécie de interlocução que rompe a barreira do livro e faz o leitor começar a se sentir parte da história, o que torna a história muito mais fácil de ser compreendida, ainda que seja escrita como um poema em prosa. É uma história que é compreensível mesmo escrita de maneira indireta, que é imersiva em cada palavra, descrição ou objeto que apresenta. É uma pintura imersiva em forma de palavras.
Sobre a autora
Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasovna Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia. Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.
De origem judaica, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector, a família de Clarice sofreu perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa de 1918 a 1921. Seu nascimento ocorreu em Chechelnyk, enquanto percorriam várias aldeias da Ucrânia antes da viagem de emigração ao continente americano. Chegou no Brasil quando tinha dois anos de idade.
A família chegou a Maceió em março de 1922, sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin. Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania – irmã, todos mudaram de nome: o pai passou a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia – irmã, Elisa; e Chaya, Clarice. Pedro passou a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante.
Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iídiche.
Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com câncer inoperável no ovário, diagnóstico desconhecido por ela. Faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi sepultada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1977.
Nota

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Ficha Técnica
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Nome: Água Viva
Autor: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Ano: 2009
Páginas: 95
ISBN-13: 9788532508720
ISBN-10: 8532508723
Sinopse: Neste longo texto ficcional em forma de monólogo, Clarice Lispector se confunde com a personagem, uma solitária pintora que se lança em infinitas reflexões sobre o tempo, a vida e a morte, os sonhos e visões, as flores, os estados da alma, a coragem e o medo e, principalmente, a arte da criação, do saber usar as palavras num jogo de sons e silêncios que se combinam. Tudo é revelado através do olhar dessa pintora-narradora, que cai em estado de graça em plena madrugada.
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