“Correio para mulheres” não é exatamente uma obra literária de Clarice, mas pode ser considerada uma obra sobre a “Clarice jornalista”, a que poucos conhecem.
Um correio para mulheres
Muitos não sabem, mas Clarice também foi jornalista. Ela escrevia colunas para mulheres com dicas de beleza, cuidados com a casa, com a pele, receitas, coquetéis, entre outras coisas. Nesta coletânea com todas as colunas que ela escreveu, descobrimos que ela não assinava suas colunas com o seu nome, e sim com pseudônimos: Helen Palmer, Tereza Quadros e Ilka Soares, sendo que para esta última, Clarice trabalhava como ghost-writer no Diário da Noite, na coluna “Nossa Conversa”.
Um correio para você
Quem ler este livro irá se surpreender com a qualidade dos textos que Clarice escrevia para jornais e revistas, sendo inclusive possível identificar a escrita “clariceana” em textos que normalmente não possuem qualidade literária. Ela, a todo momento, faz textos ironizando a condição da mulher, de maneira inteligente e compreensível, escreve contos para dar um conselho amoroso, e discute, de maneira maestral, sobre assuntos comuns para a mulher daquela época.
É interessante como descobrimos, neste livro, um lado de Clarice que é desconhecido: o de dona de casa, mãe e empresária. Inclusive, acreditem se quiser, mas tem dicas de cuidados com a pele tão boas que até coloquei um post-it marcando algumas!
Não são apenas dicas fúteis ou curiosidades “históricas” (tirar mancha de roupas brancas), são pérolas ocultas do mais distinto estilo clariceano. Detalhes do dia a dia da mulher comum daquela época, que por sua vez nos dão um panorama de como funcionava a sociedade.
Definitivamente, este é um livro para aqueles apaixonados por Clarice e sua escrita, além de uma leitura enriquecedora para aqueles que estudam sua vida e suas obras. Entretanto, mesmo que você não seja fã dela ou das obras dela, dê uma chance a este livro, pois é no mínimo curioso conhecer um lado tão desconhecido de uma das escritoras mais importante da literatura brasileira.
Sobre a autora
Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasovna Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia. Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.
De origem judaica, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector, a família de Clarice sofreu perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa de 1918 a 1921. Seu nascimento ocorreu em Chechelnyk, enquanto percorriam várias aldeias da Ucrânia antes da viagem de emigração ao continente americano. Chegou no Brasil quando tinha dois anos de idade.
A família chegou a Maceió em março de 1922, sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin. Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania – irmã, todos mudaram de nome: o pai passou a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia – irmã, Elisa; e Chaya, Clarice. Pedro passou a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante.
Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iídiche.
Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com câncer inoperável no ovário, diagnóstico desconhecido por ela. Faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi sepultada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1977.
Nota
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Ficha Técnica
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Nome: Correio para Mulheres
Autor: Clarice Lispector; Aparecida Maria Nunes (org.)
Editora: Rocco
Ano: 2018
Páginas: 400
ISBN-13: 9788532531094
ISBN-10: 8532531091
Sinopse: Dois livros em um. Correio para mulheres traz os conselhos e as dicas de Clarice Lispector publicados em diferentes colunas e veículos da imprensa ao longo dos anos 1950 e 1960 e organizados pela professora Aparecida Maria Nunes, doutora em Literatura Brasileira pela USP, nos volumes Correio feminino (2006) e Só para mulheres (2008). Agora num único livro, os textos, assinados sob pseudônimos como Tereza Quadros e Helen Palmer, ou ainda como Ilka Soares, famosa atriz de quem Clarice foi ghost writer, mostram a faceta de jornalista feminina da escritora, entrevendo-se, aqui e ali, pequenas pérolas literárias do estilo clariceano, além de traçar um singular retrato da sociedade da época.