Darwinismo usado sem rédeas e Mechas ao melhor estilo SteamPunk em um cenário Pré-Segunda Guerra Mundial. Os dois primeiros elementos contrastam entre si; parecem água e óleo. Eles podem viver juntos sem parecer algo forçado? Scott Westerfeld com a sua obra Leviatã: A Missão Secreta, o primeiro volume de uma trilogia, mostra que darwinismo e engenharia não só podem coexistir como também são capazes de despertar uma paixão.
Um problema a ser resolvido
Como mostrar esse mundo com quimeras puxando carroças e ciclopes de metal sendo usado como tanques? Através de olhos juvenis. O leitor acompanha Alek, um príncipe de gênio forte que não conhece o mundo e precisa abandonar o seu lar. Ele tem ao seu lado Kloop (excelente representação de figura paterna). O outro núcleo é protagonizado por Sharp, uma garota apaixonado por voar, dona de uma coragem cativante. E não se trata daquela coragem cega de alguém que não teme nada. Trata-se de superar os temores. A personagem engole os seus medos, procura uma alternativa e segue em frente. Esse fator especial combinado com o contexto em que está inserida, com a personalidade mais mundana e suas realizações me fizeram torcer pela protagonista.
Natureza versus Maquinas! Para que um vencedor?
Cada um dos núcleos escolhe uma das grandes ideias. Alek é usado para demonstrar os mekanistas (máquinas gigantescas movidas a vapor) e Sharp os darwinistas (espécies animais criadas a partir de experimento genético). A escrita do autor brilha ao mostrar como máquinas e animais modificados funcionam ou vivem. Você vê paixão nas descrições de cada passo do gigante de ferro, as suas armas, as suas engrenagens e os seus inimigos com a mesma tecnologia. Essa empolgação não diminuiu ao explicar como um animal surgiu, como se alimenta e que função possui em todo um micro ecossistema.
O interessante é que o conflito dessas duas formas de conduzir uma sociedade não é só estético. As duas ideias são importantes para a narrativa, guiam a vida dos personagens e até moldam parte das suas personalidades (mekanistas mais individualista, darwinista mais coletivistas). Scott Westerfeld coloca as duas visões em conflito e nunca toma partido. Dá gosto ver como o autor ama essas ideias e de como ele entende cada parafuso ou célula do seu universo. Com o decorrer da trama imaginei até onde um lado ou outro pode ir. E confesso que uma criatura criada de maneira tão magistral e usada de um jeito bem criativo quase me fez escolher um lado.
O alternar de núcleos, o tom juvenil e o ritmo acelerado auxiliados por uma linguagem simples tornam a obra rápida. Ela entretém de modo satisfatório e é fundamental fazer umas pontuações em relação aos personagens.
Alek tem um arco que envolve sair de uma zona de proteção e ser jogado no mundo, em uma realidade que sempre foi ocultada da sua vida privilegiada. Sharp também precisar lidar com algo totalmente incomum, e, para conseguir, altera todo o seu modo de vida. Se não alterar o seu sonho deixará de ser realizado. Scott Westerfeld criou uma personagem forte, entretanto, ela já é completa. Sabe o que deseja, sabe como conseguir e parece conhecer o seu lugar no mundo. É comum eu acompanhar personagens incompletos. Vi uma personagem completa e acabei estranhando (bom estranhamento).
Um alerta precisa ser dado!
Na maior parte do livro os dois jovens estão em risco. O autor sabe inserir esse elemento de maneira orgânica, gerando preocupação e tensão. Dessa forma Leviatã: A Missão Secreta é conduzido, só que, sem sensação de perda. Em nenhum momento o leitor sente que um dos dois protagonistas perdeu algo. Temos uma perda que move a história de Alek, mas não a senti porque não há envolvimento emocional. As narrativas avançam, o sinal de alerta sempre está presente e não há nenhuma perda significativa para nenhum dos personagens. Novamente cito Alek, que tem a perda de algo simbólico em um momento de grande importância na obra. O leitor não viu um verdadeiro envolvimento ou apego a isso que foi perdido. Sendo assim, a obra perde peso. No caso de Sharp, pensei que a perda iria ocorrer, estava agarrado ao livro, mas ela não ocorre.
Risco atrás de rico sem perda torna tudo menos marcante. E, temos como cenário, um mundo pré-guerra. Ter um pouco mais de peso, de perda, de “preço da guerra” seria uma camada a mais para o livro. O autor tem amplo conhecimento sobre o assunto, sendo que, ele cita personalidades e acontecimentos históricos em sua obra. Acredito que isso possa mudar no segundo volume.
Se você embarcou nas ideias e quer ver a paixão do autor em relação a elas a obra será um grande achado. Se você quer uma aventura para se sentir bem esse livro será perfeito. Agora, se você quer algo diferente, uma obra juvenil que se arrisca em relação a personagens e resoluções esse livro não vai te satisfazer. Saber o que deseja é o primeiro passo para uma ótima leitura.
Nota
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Ficha Técnica
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Nome: Leviatã: A Missão Secreta – Volume 1
Autor: Scott Westerfeld
Tradução: André Gordirro
Edição: 1º
Editora: Galera Record
Ano: 2012
Páginas: 368
ISBN: 9788501097583
Sinopse: Scott Westerfeld, autor da série Feios, reinventa aqui a Primeira Guerra Mundial em uma narrativa steampunk. Em lados opostos, mekanistas lutam com aparatos mecânicos movidos à combustível e darwinistas usam imensos animais geneticamente fabricados, e adaptados para a batalha. Alek Ferdinand, príncipe do império austro-húngaro, está sem saída. Perdeu seu título e o apoio do povo, restando apenas um imenso ciclope Stormwalker e um grupo leal de homens. Por outro lado, Deryn Sharp é uma jovem plebeia que se disfarça de homem para ingressar na Força Aérea Britânica. Os caminhos dela e de Alek se cruzarão de maneira inesperada, levando-os a bordo do Leviatã para uma viagem que mudará suas vidas.