O Prazer do Texto (Roland Barthes) é uma das referências básicas dos cursos de teoria e crítica literária em diversas universidades, pois neste livro, que apesar de curto é extremamente denso, o autor define uma série de categorias que mais tarde serão consideradas fundamentais para a crítica literária, especialmente a escola Estruturalista francesa (ver mais aqui).
Temas como a precariedade e incerteza do sentido, o seu não pertencimento a nenhuma voz, a diferença entre prazer e fruição, além da perversão e destruição da linguagem normativa são alguns dos temas que atravessam O Prazer do Texto. Para aqueles que procuram entender o funcionamento teórico dos regimes presentes no texto literário, esse é um livro fundamental.
Uma breve biografia
Barthes é um autor francês famoso pelo largo leque de temas sobre o qual estudou e escreveu, entre eles a sociologia, a crítica literária, a linguística, a filosofia e a semiótica. Formou-se em Letras Clássicas na Universidade de Paris e, influenciado por Ferdinand Saussure, acabou por se tornar um dos maiores nomes do estruturalismo.
Alguns conceitos fundamentais
Em O Prazer do Texto, Barthes apresenta a ideia de precariedade e incerteza dos sentidos de um texto literário, o que ele quer dizer ecoa em um dos seus mais famosos livros A Morte do Autor. Basicamente, a ideia é de que não há um sentido correto, uma melhor ou mais apropriada interpretação e, principalmente, que a voz do autor não é determinante no que “quer dizer” o texto, afinal o que diferencia a interpretação do autor e do leitor? A máxima de Barthes é: “morre o autor para que nasça o leitor”.
Na esteira do Estruturalismo e considerando a influência de Saussure em seu trabalho, Barthes elabora uma importante dicotomia para a teoria literária. O “prazer”, que segundo ele seria uma espécie de confirmação ou legitimação da experiência do leitor, e a “fruição” como uma desestabilização do leitor, uma retirada dele de sua zona de conforto. Assim, algumas vezes a literatura confirmaria a experiência do leitor, confirmaria suas expectativas e etc., isso não necessariamente poderia ser considerado uma experiência positiva. Outras vezes a literatura exerceria um papel de contrariar, de apresentar ao leitor algo fora do seu radar, que o incomodasse até, talvez se pudesse descrever como uma experiência empática.
Além disso, o autor investe na ideia de que o texto é irredutível a gramática e que essa linguagem normativa devia ser destruída, pervertida. Aqui ele talvez esteja argumentando contra o formalismo e sua atenção extraordinária ao texto em si mesmo e o que supostamente ele diria. Como semiólogo, Barthes parece mais interessado na articulação, na constituição e construção de sentidos da literatura.
Por fim, um importante argumento está presente em O Prazer do Texto e que, afinal, relaciona-se profundamente com as categorias anteriormente apresentas. O autor argumenta que a leitura é um investimento erótico, no qual existe um sentido predeterminado, não existe a possibilidade de normatividade e podemos ser por ele afetado seja pela confirmação ou contradição de ideias e experiências.
Experiência de leitura
Durante o primeiro período no curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe, cursei uma disciplina chamada “Teoria da Literatura I” e nela tive quatro aulas sobre O Prazer do Texto. Naquela época, seguindo o cronograma de leitura, eu visitei o livro de Barthes e tentei o ler, mas acabou não dando tempo. Mesmo assim, assisti e anotei as aulas e tentei reler o livro depois delas, o que ajudou me ajudou muito a compreender melhor as ideias sobre o autor.
O que tenho a dizer é que: apesar da linguagem fragmentada, da articulação complexa das ideias, das frases longas que exigem releituras, o livro vale a pena. Estas dificuldades são típicas da literatura acadêmica e, mais precisamente, dos textos Estruturalistas e Pós-Estruturalistas franceses. Contudo, se você conhece previamente algumas ideias, poderá procurá-las no texto.
Considero um livro interessante para aqueles leitores mais engajados no que se passa por trás da literatura, dos seus possíveis mecanismos e do que é discutido sobre eles. Reitero que, apesar das dificuldades, a leitura vale muito a pena, pois depois dela o leitor pode começar a perceber alguns processos de leitura que afetam a si mesmo e, neste sentido, poderia dizer que é uma espécie de autoconhecimento estético-literário. Não há obrigatoriedade na literatura, todos nós sabemos e acredito que Barthes concordaria conosco, mas “O prazer do texto” é um dos livros que põe em cheque essa ideia. Para os leitores experientes, para resenhistas, amantes da literatura, é um livro mais que recomendável.
Nota

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Ficha Técnica

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Nome: O Prazer do Texto
Autor: Roland Barthes
Edição: 6ª
Tradução: J. Guinsburg
Editora: Perspectiva
Ano: 2015
Páginas: 80
ISBN: 9788582850411
Sinopse: “Quem suporta sem nenhuma vergonha a contradição? Ora, este contra-herói existe: é o leitor de texto; no momento em que se entrega a seu prazer. Então o velho mito bíblico se inverte, a confusão das línguas não é mais uma punição, o sujeito chega à fruição pela coabitação das linguagens, que trabalham lado a lado: o texto de prazer é Babel feliz”. Em um escrito caleidoscópico, quase um bloco de anotações, Barthes analisa o prazer sensual do texto para quem lê ou escreve.

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