O que os ingleses Alan Moore e Neil Gaiman e os alemães do Blind Guardian têm em comum? Todos eles adoram Michael Moorcock. Dentre todas as obras do autor escolhi o livro Elric de Melniboné – A Traição Ao Imperador para beber na mesma fonte dos artistas que admiro. Fonte? Está mais para um vinho envelhecido, enterrado por vários anos e servido em uma taça com o formato de um crânio.
Elric, o imperador albino, merece um trono no reinado da cultura pop?
Elric é o responsável por todo o império de Melniboné. Isso envolve tradições, política, demonstração de força e um eterno convívio com o perigo. Michael Moorcock não constrói um protagonista que simplesmente deseja manter a sua posição. O leitor acompanha alguém que sempre se questiona. Nada em sua mente é encarado de forma simples. No falar, na personalidade e na maioria das ações desse personagem a única convicção e o seu amor pela personagem Cymoril.
Esse imperador albino é o ponto alto do livro. Suas características físicas refletem os seus sentimentos, a sua maneira de encarar a vida contrasta com o ambiente que o cerca e o leitor sempre vê profundidade no personagem. Há esmero e veracidade nas suas falas, em sua sensibilidade, no seu grande desejo e sinto que conheci tudo o que há para conhecer dele. Tornei-me íntimo não só dos seus gostos como também dos seus medos. E essa bela construção é entregue de forma orgânica para o leitor.
Um personagem que deveria estar ao lado de ícones da cultura pop? Não consigo colocá-lo na mesma prateleira que Luke Skywalker, Harry Potter e Batman. Mas, ele merece estar nas catacumbas do underground junto com o Monstro do Pântano, Ash de Evil Dead e Thomas J. Ward.
O maior mérito também é a maior maldição
Personagens, trama e desfecho cercam o protagonista albino. Isso não deveria ser um problema, mas acaba tornando-se uma falha. Os personagens ao redor de Elric são fracos e parecem estar na obra só para fazê-lo brilhar. Há o antagonista, o conselheiro, o doutor esquisito e o grande amor. Nenhum deles é verdadeiramente aprofundado. Sabemos pouco sobre o passado deles, as personalidades não saltam a vista como no caso do protagonista e somente o antagonista tem um desejo forte (e mesmo assim é pouco trabalhado).
A obra foi publicada nos anos 70 e não tenho o contexto de publicação da época. Hoje, lendo-a, sinto que faltam páginas. Falta algo, falta aquela sensação de fantasia com F maiúsculo. E essa crítica pode ser estendida. O autor possui uma ótima mão para descrições. Ele tem um dom especial para os detalhes e sabe introduzir muito bem o leitor em uma cena. Em alguns momentos, principalmente nas batalhas, eu ficava deslumbrado com a imagem criada na minha cabeça. Imaginava uma cena deslumbrante, épica e tudo acabava muito rápido. É como se um lindo estúdio fosse montado, o cenário está incrível, só que a cena possui apenas alguns segundos. E a frustração é grande porque os cenários, ambientação e batalhas tem um estilo HEAVY METAL muito interessante. O autor cria deuses, senhores do caos, demônios, armas fodásticas e tudo mais. Há qualidade, mas é dada em pequenas doses espaçadas.
A sensação de “envelheceu mal” luta contra um personagem ricamente construído. Só um protagonista pode levar todo um livro? Basta ler menos de duzentas páginas para descobrir. Veja o passado da fantasia. Ver o passado dela pode ir além de Tolkien.
Nota
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Ficha Técnica
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Nome: Elric de Melniboné – A Traição Ao Imperador
Autor: Michael Moorcock
Tradução: Dario Chaves
Edição: 1º
Editora: Generale
Ano: 2014
Páginas: 184
ISBN: 9788563993960
Sinopse: A história de ‘Elric de Melniboné’, o imperador albino e feiticeiro, é uma das grandes criações de fantasia moderna. Um fraco e introspectivo escravo de sua espada, Stormbringer, ele é também um herói cujas aventuras e andanças sangrentas levam-no, inevitavelmente, a intervir na guerra entre as forças da lei e do caos. Um clássico do gênero espada e feitiçaria, Elric de Melniboné é um ícone excepcional da fantasia de violência, poder, política e guerra.
Neste livro, Elric enfrentará a ameaça ao império de Melniboné e transitará entre o uso da magia e seus princípios morais, que o impedem de tomar algumas decisões. Além disso, sua amada Cymoril encontra-se em perigo, e ele não medirá esforços para salvá-la.
Pela primeira vez, a editora Generale traz para os leitores brasileiros a tradução dos textos originais da Saga de Elric de Melniboné, sendo este o primeiro livro.