Últimas Palavras – Christopher Hitchens

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Recorte da capa do livro
Recorte da capa do livro "Ultimas Palavras", do escritor Christopher Hitchens. Em destaque, o rosto em preto e branco do escritor com um olhar capisbaixo

Antes de falar sobre Últimas Palavras, preciso dizer que tomei conhecimento da existência de Christopher Hitchens no momento em que estava tateando o pensamento ateísta. Através de vídeos de debates upados no YouTube, pude ver o grande orador e debatedor que Hitchens fora um dia e fiquei instantaneamente deslumbrado com tamanha eloquência, sabedoria e qualidade técnica. Assim sendo, no início de 2016 li seu livro Deus Não É Grande – Como a Religião Envenena Tudo, que inclusive já resenhei aqui no site.

Em suas Últimas palavras (no original Mortality; diga-se de passagem, um título bem melhor), Hitchens não perde a franqueza e aspereza que é característica do seu trabalho. Entretanto, como era de se esperar, o livro parece mais um diário do que uma literatura de outra modalidade, revelando como gradualmente o autor sente que está morrendo e deixando para trás amigos, família etc.

Primeiras Palavras

Assim sendo, o livro começa com Hitchens falando um pouco de como se sentiu logo quando descobriu sua doença: um câncer no esôfago em estágio avançado, o qual inclusive já havia se espalhado para outros órgãos. Em vista dessa oportunidade de escrever suas últimas palavras, o autor aproveita o momento para expor seus pensamentos sobre a doença e a mortalidade humana, bem como para criticar e desconstruir axiomas filosóficos. Por exemplo, o nietzschiano “o que não me mata só me deixa mais forte”, além de discorrer um pouco sobre como as pessoas reagem ao doente terminal. Ao mesmo tempo que critica como os hospitais modernos ainda mantém práticas no mínimo duvidosas.

“Em silêncio, estou decidido a resistir corporeamente o melhor possível, mesmo que apenas de modo passivo. e a buscar a ajuda mais avançada. Meu coração, minha pressão sanguínea e muitos outros registros estão novamente fortes. de fato, me ocorre que, se não tivesse uma constituição tão sólida, teria me preocupado antes em levar uma vida mais saudável. Contra mim está um alienígena cego e sem emoções, animado por alguns que há muito me desejam mal. Mas do lado da continuidade de minha vida está um grupo de médicos brilhantes e devotados. mais um número impressionante de grupos de oração. Sobre ambos espero escrever da próxima vez se – como meu pai invariavelmente dizia – eu for poupado” (pág. 13).

Segundas Palavras

Entretanto, quanto mais avançamos no livro, mais nos é aparente o esforço e o sofrimento envolvido na escrita daquelas últimas palavras, revelando a deterioração lenta e gradual do escritor. Ao mesmo tempo, sua mente lutava para permanecer sã e lúcida, sem incorrer em autopiedade ou autocomiseração. Isto é, contrariando principalmente os sádicos e fanáticos que esperavam dele uma demonstração de irracionalidade.

Em determinado momento, Hitchens escreve:

“O cumprimento mais prazeroso que um leitor pode me fazer é dizer que sente que me dirijo a ele. Pense em seus autores preferidos e veja se essa não é uma das coisas que o cativa, sem que você tenha percebido isso, de início” (pág. 24).

Portanto, é exatamente isso que ele consegue fazer, em suas “Últimas Palavras”, o que torna toda a experiência de ler este livro mais singular ainda. Ler suas “Últimas Palavras” é um soco no estômago, pois o escritor consegue, magistralmente, fazer com que você sinta que ele se dirige a você. E imagine ouvir de Hitchens o que eu ouvi…

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Capa do livro "Ultimas Palavras", do escritor Christopher Hitchens. Em destaque, a foto em preto e branco do escritor sentado numa poltrona com um olhar capisbaixo
Capa do livro “Ultimas Palavras”, do escritor Christopher Hitchens. Em destaque, a foto em preto e branco do escritor sentado numa poltrona com um olhar cabisbaixo
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Nome: Últimas Palavras
Autor: Christopher Hitchens
Tradução: Alexandre Martins
Edição: 1ª
Editora: Globo Livros
Ano: 2012
Páginas: 96
ISBN: 9788525052742
Sinopse:Em 2010, o jornalista e polemista britânico Christopher Hitchens foi obrigado a interromper subitamente a turnê de lançamento de seu livro de memórias Hitch-22. O diagnóstico de um câncer em estado avançado determinava, então, uma guinada radical em sua vida. O intelectual bon vivant movido a nicotina e a álcool cedeu espaço a um estoico paciente em busca de cura – um empreitada frequentemente árdua e desencorajadora, mas que foi encarada com destemor por Hitchens até o fim, em dezembro de 2011.