Tolos e Mortais – Bernard Cornwell

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Bernard Cornwell é um dos escritores britânicos mais relevantes e prolíficos da atualidade, com dezenas de livros publicados em mais de 15 idiomas, o historiador radicado nos Estados Unidos foi capaz de criar um estilo de narrativa único e vibrante. Começar a ler qualquer uma das suas séries de livros é um caminho sem volta.

Suas obras literárias são sempre muito ambiciosas e o ponto em comum entre a maioria das narrativas propostas pelo autor é o uso de grandes batalhas (que viriam a dar novos rumos ou consolidar os interesses políticos da Inglaterra) como pilar fundamental para o plot do enredo. Poucos são os livros que não se utilizam desse benefício histórico. E foi através deles que Cornwell consolidou seu nome no meio literário. As descrições das batalhas são sempre muito vívidas e, além disso ele, consegue construir com muita habilidade os jogos políticos que levariam até aquele desfecho histórico.

“Senhor, como são tolos esses mortais”

Embora os livros centrados em grandes batalhas figurem entre os meus prediletos enquanto leitor, as obras pautadas em acontecimentos “menos sangrentos” não são menos relevantes, e constituem por si só, narrativas excelentes. O romance Tolos e Mortais é um exemplo disso e foi recém lançado e publicado no Brasil pela Editora Record.

Em Tolos e Mortais vamos acompanhar um período de produção cultural ascendente na Inglaterra do século XVI, marcados por intrigas, traições, assassinatos, além de ser o início da consolidação do teatro “moderno” e o surgimento de um dos escritores mais relevantes para a sociedade ocidental até os dias atuais, William Shakespeare.

O contexto histórico daqueles tempos, por si só, já era intrigante. Em meio a drásticas mudanças religiosas, onde a Inglaterra começava a se afastar definitivamente do Vaticano, sob o reinado da Rainha Virgem, Elizabeth.  O clima religioso em Londres era de uma implacável perseguição aos católicos, e parte do cenário político dominado por puritanos (fanáticos) que demonizavam o teatro, tratando-o como uma “obra do satanás”, movimentando diversas perseguições a esses grupos, que só conseguiram prosperar devido ao apoio aberto da Rainha e ao patronato de alguns membros importantes da nobreza.

“Coisas fúteis e vis”

A trama do romance é narrada em primeira pessoa por Richard Shakespeare, irmão mais novo de William, que após algumas confusões em sua cidade natal, com apenas 14 anos de idade foge para a caótica Londres dos anos de 1590. Lá, Richard acaba sendo ajudado a contragosto pelo irmão, que o matricula em um internato “religioso”, onde sob uma fachada falsamente puritana, preparava pequenos garotos para o teatro.

Passados alguns anos esquecido nesse internato, Richard aprende a lidar com o ambiente hostil que era a Londres na época, tornando-se um ator de fato, além de um exímio “batedor de carteiras”. E mais uma vez, com muita resistência é acolhido por William, que acaba por aceitá-lo como ator na companhia de teatro da qual é sócio.

Atuando na companhia de teatro do irmão, Richard predominantemente interpretava papéis femininos (mulheres não podiam atuar na época), e já gozava de algum prestígio e reconhecimento tanto do público quando dos seus colegas de teatro, embora William aparentemente o desprezasse.

Porém, Richard ambicionava papéis de maior protagonismo nas peças escritas pelo irmão, que no livro é tratado como uma figura até certo ponto antagonista, descrita com distanciamento intencional para imprimir uma aura de mistério acerca de Shakespeare. Em diversos momentos do enredo vamos nos pegar odiando-o pelo tratamento dispensado ao irmão.

Em meio a apresentações teatrais descritas de maneira tão intensa e imersiva quanto as batalhas dos livros mais sanguinolentos de Bernard Cornwell, vamos acompanhar os processos de produção de algumas das principais peças escritas por ele: Romeu e Julieta e Sonho de uma noite de verão.

E meus amigos, esses serão os capítulos mais memoráveis de todo o livro, é como se estivéssemos não só fazendo parte do grupo de teatro que as interpreta, como do público que as assiste completamente arrebatado pela habilidade narrativa do dramaturgo.

Cornwell consegue criar uma narrativa sensacional ao redor da icônica figura de William Shakespeare. Utilizando Richard e a Londres do século XVI como personagens centrais da história, ele nos oferece a recriação de um momento histórico marcante, envolvendo as grandes obras de Shakespeare com intrigas, traições e maquinações alucinantes que parecem prontas para uma adaptação para os cinemas.

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Ficha Técnica

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Nome: Tolos e Mortais
Autor: Bernard Cornwell
Editora: Record
Edição: 1°
Ano: 2018
Numero de Páginas: 364
ISBN: 9788501113849

Sinopse: No coração da Inglaterra elisabetana, o jovem e atraente Richard Shakespeare sonha em fazer carreira na cena teatral de Londres, um universo dominado por seu irmão mais velho, o ilustre dramaturgo William Shakespeare. Mas Richard não tem um tostão nem apoio de seu irmão, que, em vez de o acolher, entrega-o aos cuidados de Sir. Godfrey, um clérigo cruel e pervertido que treina meninos para furtar e encenar. Com um rostinho bonito, carisma e talento, Richard ingressa na companhia de teatro de Shakespeare, representando, muito a contragosto, papéis femininos. A relação dos irmãos, no entanto, é marcada por constante tensão, e, cada vez mais distantes, à medida que William alcança a fama, Richard se vê tentado a romper em definitivo a lealdade fraternal. Então, quando um precioso manuscrito desaparece misteriosamente, as suspeitas recaem, evidentemente, sobre o caçula. Preso em um perigoso esquema de traição e desonestidade, Richard, sem saída, com sua carreira e até mesmo a vida de seus colegas em jogo, embarca em uma aventura épica na excitante ― porém traiçoeira ― Londres elisabetana para resgatar os valiosos escritos e reconquistar a confiança da trupe.