Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro – Pablo Rios

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Recorte da capa do livro com o título
Recorte da capa do livro com o título "Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro". A capa é branca e no centro tem a foto de uma casa no estilo colonial

O Sertanejo é antes de tudo um forte! Essas palavras sempre fizeram muito sentido para mim, nascido e criado nos recantos mais áridos e duros do Sertão nordestino. A vida das cidades interioranas dessa peculiar região brasileira se desenrola a partir de uma cultura sólida, com raízes tão robustas e determinadas, que foram capazes de ao longo de séculos de resistência, e contra todas as expectativas, penetrar profundamente nos recantos mais obscuros de uma terra quente e impiedosa, onde só os fortes e valentes são capazes de sobreviver.

A cultura nordestina é única, rica em versos cantados ou escritos, danças libidinosas e sabores fortes e marcantes como seu povo. Ela se manifesta inexoravelmente em todos aqueles que ascenderam dessa terra valente, com raízes que remontam a tantos anos atrás na história desse país, que a sua influência direta pode ser encontrada em qualquer canto do Brasil. E como ela é linda! Com seus sotaques, sabores e ritmos parecem perfeitos aos olhos, ouvidos e pernas.

Dito isso, a literatura nordestina segue a sua tradição secular, e continua lançando excelentes escritores, mesmo em meio a uma situação social que parece dar mais relevância ao que vem de fora do país. Um dos livros recém lançados que chegou a mim, foi o incrível Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro, de autoria de Pablo Rios, natural de Jacobina, interior da Bahia. A obra foi selecionada pelo Edital do Fundo de Cultura da Bahia, editada e publicada pelo Portuário Atelier Editorial.

Livro “Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro” sobre uma mesa com uma caneca grande de café.

Em Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro vamos acompanhar a vida de Venâncio, que no início da sua juventude, na labuta diária com seu pai aprendeu o ofício de vaqueiro, e nele continuou até o fim dos seus dias. Venâncio é um vaqueiro aguerrido, que fugindo de outras paragens por motivos que você precisará ler para descobri, encontrou trabalho em São José do Jacuípe, na Fazenda Égua Parda. Rapidamente, o valor do bom Vaqueiro é reconhecido por seu patrão, o coronel Chiquinho Góis que segue depositando nele cada vez mais confiança e responsabilidades.

Mas como nem tudo são flores, sua vida de “raparigagem” nos bordéis e casas de professorinhas libidinosas sofre uma reviravolta drástica. Venâncio vai acabar caindo nos encantos aparentemente inalcançáveis de Bernardete, filha mais velha de Chiquinho Góis, que vive alardeando aos quatro ventos “que é capaz de arrancar os bagos do engraçadinho que se meter a besta com a menina dos seus olhos…”, e de já tê-lo feito com um caboclo atrevido que ousou procurar gracinhas com a moça.

Enfrentando a solidão tão peculiar à profissão do vaqueiro em sua lida diária com o gado, Venâncio sofre discretamente pela paixão não correspondida, a amargura de uma briga familiar e o medo de uma maldição. Com habilidade e precisão, Pablo Rios consegue nos contar ao longo de apenas 186 páginas, uma história densa e profunda, verossímil nos mínimos detalhes, que consegue dialogar diretamente com a alma do leitor, especialmente se você for nordestino.

A vida de Venâncio é dura. Ele vive em uma sociedade preconceituosa e cruel, onde as relações sociais são quase sempre horizontalizadas e o poder dos “coronéis” é a lei. Ao longo da sua labuta pela sobrevivência, é levado a fazer coisas das quais se arrepende, mas segundo seu raciocínio simples e objetivo, ele fez o que foi necessário para seguir adiante, mesmo que isso o assombre pelo resto dos seus dias.

A narrativa se desenrola principalmente em terceira pessoa, alternando alguns momentos onde “ouvimos” os pensamentos do bom Vaqueiro em sua jornada de redenção. A construção do núcleo central de personagens é incrível, e eles são desenvolvidos com precisão cirúrgica ao longo da narrativa, sendo que a despeito de toda a história se desenrolar ao longo de não mais que 186 páginas, a motivação e o caráter de cada um dos personagens apresentados é clara para o leitor.

O autor consegue ainda introduzir com uma naturalidade impressionante o linguajar, gírias, comidas típicas, além dos costumes e as tradições do povo sertanejo, e para os que não estão familiarizados, o glossário do final do livro pode ser de grande ajuda.

Mais do que um romance, Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro é um registro da cultura nordestina e um louvor literário aos vaqueiros, símbolos sertanejos de resistência.

Trata-se de uma leitura absolutamente obrigatória para todos os nordestinos, que seguramente se sentiram de alguma maneira representados pela história de Venâncio, além de altamente recomendada a todos os que se interessam pela boa literatura.

Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro
5 selos cabulosos

Garanta seu exemplar, e boa leitura!

Pilha de livros do “Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro” vista de cima.

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Nome: Bom Vaqueiro, Bom Vaqueiro
Autor: Pablo Rios
Editora: Portuário Atelier Editorial
Edição:
Ano: 2019
Numero de Páginas: 208
ISBN: 9788566925159

Sinopse: Venâncio é um vaqueiro valente que encontrou emprego nas terras de Chiquinho Góis. logo prova suas qualidades e conquista a confiança do patrão e colegas de trabalho. sua vida muda drasticamente após se apaixonar por Bernadete e ele passa a viver em angustia por este sentimento. enfrentando a solidão tão peculiar a sua profissão, Venâncio sofre por amor a uma mulher, a amargura de uma briga familiar e o medo de uma maldição.

Enquanto o enredo se desenrola, toda uma cultura e apresentada tenho como protagonista os costumes, linguagens e tradições do povo sertanejo do semiárido norte da Bahia. Ambientado em locais realmente existentes, toda essa homenagem ao habitante da caatinga e principalmente aos vaqueiros torna a narrativa mais intima para quem vive no sertão.