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Desventuras em Série (1ª Temporada) | Crítica

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Se o caro leitor acredita que esta crítica tem a intenção de despertar emoções arrebatadorAs de fazer o coração explodir de felicidade, se busca impressões que corroborem com sua empolgante empolgação não encontrará nada disto aqui.

ALERTO QUE Se ainda nÃO assistiu a Desventuras em Série e teme receber spoilers, seja dA série seja dos livros, afirmo de maneira positivamente positiva que poderá ler o texto sem medo.

Para finalizar, peço imensamente que as pessoas que leram os livros não coloquem spoilers nos comentários. Spoiler aqui é umA palavra que significa “quando você revela uma cena importante que poderia estragar a experiência a quem não assistiu”. Respeitem os que como eu, apenas acompanharão a série.

Comecei a assistir Desventuras em Série após o lançamento, mas diferente de alguns não estava no hype, apenas não tinha nada mais importante para assistir. Não li os livros, e para ser bem franco, se já posso retirar um ponto do programa, não concluí a 1ª temporada interessado em lê-los. Muito pelo contrário, ao longo dos seus oito episódios fiquei com uma sensação de gratidão por não precisar mais tocar na obra original. O que neste caso é um ponto positivo.

Também não assisti a adaptação com Jim Carrey, logo este texto não será um comparativo entre as mídias, porém se você chegou até aqui e ainda não abandonou a leitura adianto que – apesar do tom pessimista – a nova aposta da Netflix me deixou impressionado por outras questões que, de certo modo, tangem a nossa sociedade.

O canal Pipoca e Nanquim fez uma excelente apresentação do universo dos livros (escritos por Lemony Snicket, pseudônimo de Daniel Handler, e ilustrada por Brett Helquist; no Brasil a obra é lançada pela Companhia das Letras) e revelou detalhes da produção da adaptação de 2004 que influenciaram na atual aposta da Netflix. Deixo links para vocês apreciarem o conteúdo.

A história dos desafortunados órfãos Baudelaire – que viviam felizes com seus pais até perdê-los num misterioso incêndio que não apenas vitimou ambos como destruiu sua casa e, portanto, tudo que ela possuía deixando Klaus (o leitor), Violet (a engenheira) e Sunny (um bebezinho de dentes afiados), sem ninguém que possa tomar conta deles, obrigando-os a ficar sob a tutela do terrível conde Olaf até que a irmã mais velha atinja a maior idade e possa ser dona da fortuna deixada como herança por seus pais – poderia ser um conto de fadas infanto-juvenil maniqueísta onde, apesar de todas as dificuldades, no final o bem triunfa e o mal é punido. Sim, poderia, mas se assim o fosse, esta não seria a história dos Baudelaire.

A visão maniqueísta do mundo de que no fim quem perseverar vencerá é uma analogia com o mantra que permeia livros e livros do meio empresarial stand up. Bordões como: “Acredite nos seus sonhos”, “Você controla o seu destino”, “Faça você mesmo” preenchem páginas e páginas de uma literatura vazia que leva o leitor a crer realmente que “só basta querer para acontecer”. É nesse momento, quando estamos esperançosos que o destino dos irmãos irá mudar para melhor que aparece o narrador (Lemony Snicket, interpretado por Patrick Warburton) e nos relembra pela enésima vez que se procuramos uma história com finais felizes deveríamos procurar outra forma de entretenimento.

E esse é o ponto alto de Desventuras, nos dar esse gosto amargo da frustração. Frustração a qual estamos muito pouco habituados. Se vivemos em uma sociedade onde ser feliz é uma obrigação, publicando fotos de nós mesmos seguidas de frases motivacionais como “amo meu trabalho”, “não permita que a inveja destrua seus sonhos”, “confie em Deus pois só Ele pode lhe tirar do caminho” e outras coisas do tipo; acompanhar uma jornada de “desventuras” talvez seja um tapa para despertarmos deste sonho que querem nos vender onde somos “heróis de nossa própria jornada”. E o elemento narrativo usado para isto é personificado na figura do Lemon Snicket.

Conde Olaf

Os adultos são os maiores vilões em Desventuras em Série. Focados apenas em seus “eus” não conseguem ver o óbvio, mesmo que seja o conde Olaf disfarçado (interpretado pelo Neil Patrick Harris que diferente do Jim Carrey, pelo que vi nas críticas ao filme não rouba a cena, mas cumpre muito bem seu papel na trama). Os adultos são egoístas, individualistas e sempre colocam seus próprios interesses na frente do futuro daquelas crianças. Desde a cena onde a esposa do banqueiro mostra o jornal com a foto da casa incendiada dos Baudelaire diante dos irmãos, onde ela afirma que eles deveriam sentir-se orgulhosos, pois estavam na primeiro página de um jornal, já que ela própria nunca estaria; até a insistência do conde em roubar a fortuna dos órfãos reitera que todos querem alcançar a felicidade plena, mesmo que para isso precisem acabar com o futuro daquelas crianças.

E esta é uma conclusão aterradora. Nenhum adulto da série consegue pensar coletivamente. Mesmo aqueles que veem que os irmãos precisam de seu auxílio não conseguem largar sua individualidade em prol do outro. Tio Monty, um dos poucos que trata os irmãos com carinho e atenção, é egoísta não reconhecendo o conde (novamente disfarçado) achando que tratava-se de um espião da sociedade de herpetologia. Seus sobrinhos o alertavam, gritavam que o perigo existia, mas ele estava focado demais em si para poder enxergar.

E o que fazem os irmãos? Eles precisam do “nós” para sobreviver. Separados já teriam perecido, mas juntos eles conseguem chegar na próxima etapa, não um final feliz, afinal de contas finais felizes só ocorrem em contos de fadas, certo? Pouco importa se o conde Olaf passou mais um episódio sem alcançar seu objetivo, os Baudelaire não venceram apenas ganharam mais um dia.

Quem nunca foi fruto de uma injustiça? Quem nunca levou a culpa por uma travessura de um irmão ou foi caluniado por um colega de trabalho? Não controlamos tudo a nossa volta. Às vezes você se programa para uma viagem e alguém próximo adoece e é isso. Nada de reembolso, nada de grande prêmio no final. Ninguém vai aplaudir por você ter cumprido sua função e ficado ao lado daquela pessoa que precisa. Não somos senhores de nossa jornada. Existem fatos terríveis que podem acontecer e quem estão além de nosso controle. O narrador reforça essa mensagem constantemente. Por quê? Porque a narrativa de que no final tudo dará certo retorna inconscientemente.

É como se estivéssemos nos dizendo o tempo todo: “ele está dizendo isso, mas no fim eles serão felizes”. Não em Desventuras, a série nos relembra que a vida não é linear, nem justa. Hoje pode ser um dia nublado, amanhã pode ter um temporal e depois de amanhã fará sol? Quem sabe. Contudo precisamos seguir em frente, por que é a vida. Não há troféus, não há medalhas, só o dia seguinte. No entanto, as narrativas atuais nos fazem crer que a felicidade está logo ali e basta queremos para alcançá-la. Não é à toa que passamos tanto tempo em rede social provando que somos felizes. Comer um lanche sem tirar foto? Sair sem publicar no instagram para que aquele momento ganhe corporeidade e que através das curtidas nossa alegria seja concretizada?

Por isso, Desventuras em Série é a antítese dessa sociedade do happy end. Contar uma série de desventuras com crianças vai contra as demais narrativas contemporâneas onde no final a mocinha sempre fica com o mocinho.

Da esquerda para a direita: Sunny, Violet e Klaus Baudelaire

Talvez a nova aposta da Netflix possa não ser uma série extraordinária. Pode não ter despertado em mim a chama para correr a livraria comprar e ler os livros, mas possui um bom elenco e uma narrativa que foge dos padrões do “vá em busca de seus sonhos”. Seus personagens são sobreviventes que não sabem como será o dia de amanhã, que não possuem uma jornada clara com um final predeterminado. Os irmãos nos levam por um passeio através de um mundo de adultos egoístas, estes sim, caminhando por uma estrada de tijolos amarelos que só eles conseguem ver, em busca do pote de ouro, ouro de tolo.

Nota:

Esperarei ansioso pela segunda temporada. Gostaria muito que ao término da história dos irmãos Baudelaire não houvesse realmente um final feliz e de que nossas expectativas continuassem frustradas sem saber como será seu fim.

A Colônia – Ezekiel Boone

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Quando pensamos em um livro apocalíptico acredito que à nossa cabeça venha coisas como: zumbis, aliens, bombas atômicas e doenças contagiosas. Ezekiel Boone traz em “A Colônia” um apocalipse, mas não é nenhum desses citados acima. O mundo aqui está prestes a acabar em aranhas. Isso mesmo: aranhas carnívoras que foram encontradas em uma escavação na China e ao perceberem o que elas eram, fez com que o país jogasse uma bomba atômica em seu próprio território com a esperança de que elas fossem contidas.

O livro é dividido em vários personagens em vários locais que vai desde a presidente dos Estados Unidos até um cidadão comum passeando com o cachorro na praia. Alguns desses personagens ficam e se tornam os principais da trama como a cientista que é especialista em aranhas, o agente federal, o obcecado com apocalipses que construiu um bunker. Todos os personagens mostram seu ponto de vista com a aparição das aranhas que não, a China não consegue conter e uma onda delas toma as cidades.

Uma coisa que chama a atenção é a forte presença de personagens femininas na história, como, por exemplo, uma mulher como presidente dos EUA e outra que é capitã de um pelotão das forças especiais. O autor claramente quis colocar mulheres fortes e empoderadas como personagens e isso é ótimo, porém, como são muitos os personagens nenhum ganha um grande destaque.

A Colônia” me desanimou um pouco com o seu final: sem fechamento. O que me levou a crer fazer parte de alguma trilogia ou série. O livro é super rápido e gostoso de ler, mas eu não senti nele um peso para se tornar uma série de livros. Gostaria que ele tivesse um encerramento e me desanimou o fato de não ver o fim da história. Sinceramente, não senti vontade de continuar com a leitura.

Os leitores irão encontrar em “A Colônia” um bom livro de um autor iniciante que traz um apocalipse que causa horror em diversas partes. Se você não curte aranhas, não recomendo a leitura, pois aqui elas vão sair dos lugares mais inusitados…

NOTA:

 

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Nome:
 A Colônia
Autor: Ezekiel Boone
Edição:

Editora:
Suma de Letras
Ano: 2016
Páginas: 272
Sinopse: Nas profundezas de uma floresta no Peru, uma massa negra devora um turista americano. Em Mineápolis, nos Estados Unidos, um agente do FBI descobre algo terrível ao investigar a queda de um avião. Na Índia, estranhos padrões sísmicos assustam pesquisadores em um laboratório. Na China, o governo deixa uma bomba nuclear cair “acidentalmente” no próprio território. Enquanto todo tipo de incidente bizarro assola o planeta, um pacote misterioso chega em um laboratório em Washington… E algo está tentando escapar dele. O mundo está à beira de um desastre apocalíptico. Uma espécie ancestral, há muito adormecida, finalmente despertou. E a humanidade pode estar com os dias contados.

LC TV S07 E01 – Indicando Contos

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Olá Cabulosos! O LCTV voltou e neste edição Lucien o Bibliotecário e Alyson Monteiro indicam 4 (quatro) contos imperdíveis para vocês.

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Eva & Morte

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A adolescente ocupa um assento na última fileira do saguão de espera, ciente dos olhares sobre ela. Desde menina, Eva sempre odiou hospitais. Claro que ninguém gosta de hospitais, mas Eva tinha boas razões para odiá-los. Esse ódio não é por causa do inconfundível cheiro de consultório, nem se devia ao ambiente pesado que costuma imperar no saguão de espera. O que realmente a perturba sempre que pisa em um hospital são os sussurros etéreos que ninguém mais pode ouvir, as nuvens infecciosas que só ela vê e, principalmente, os rostos dos novos mortos encarando-a.

Quando ia ao cemitério enterrar algum parente a sensação era mais amena. O espírito já havia tido tempo suficiente para entender sua condição. Num hospital, a coisa é diferente. Os recém-morridos ainda não compreendem que estão mortos, especialmente os jovens, e acabam confusos e agressivos; um comportamento que só piora se percebem que Eva os enxerga. Por isso, a adolescente prefere baixar a cabeça, fingindo não ver nada fora do comum.

Vez ou outra, a curiosidade e a preocupação falam mais alto e Eva arrisca um rápido olhar, procurando o rosto incorpóreo da mãe. Como não o vê, conclui aliviada que ela continua viva. Pobre mãe, pensa. Já sofre tanto por ter como filha uma maluca que vê coisas, ainda precisa passar por isso.

Eva nem consegue se distrair com o celular; sua mente fica repassando os eventos que a trouxeram ao hospital, certa de ser a culpada pelo mal súbito que acometeu a mãe.

A verdade é que a mãe de Eva nunca a compreendeu. Na época em que falava sobre o que via, muitos pensaram que fosse uma esquizofrênica sofrendo alucinações. Sua mãe a tomou simplesmente por mentirosa e, ainda hoje, a considera uma coisa esquisita, que fuma baseado e beija outras garotas.

Quando voltou da casa da namorada no meio da noite, Eva encontrou a mãe à sua espera e o tempo fechou. Há muito as duas não conseguiam conversar sem discutir, mas a briga dessa noite tinha sido a pior. No auge da discussão, a mulher começou a sentir-se mal sem aviso e desabou no chão.

Durante todo o trajeto da ambulância, Eva ficou com ela, segurando sua mão. Aquela mulher a odiava, mas ainda era sua mãe. Não queria que morresse.

Arriscou olhar em volta novamente. É alta madrugada e, além do pessoal do hospital, poucas pessoas encontram-se por perto.

Um arrepio transforma sua espinha num cubo de gelo.

Só precisa de um instante para perceber que a menina de vestido preto, cujos cabelos escondem as orelhas, é diferente das outras pessoas. E não como a própria Eva. Também não se trata de um espírito recém-falecido. Esses evaporam à medida que ela se aproxima, desfazendo-se em nuvens de vapor etéreo.

— Oi! Importa-se que eu me sente aqui? Meus pés estão me matando! — Sem esperar pela resposta, a menina ocupa o assento ao lado de Eva, descalça as sandálias e, tomando o cuidado de ajeitar o vestido para não mostrar demais, cruza os pés sobre as coxas finas para massageá-los.

Eva a examina de esguelha, pouco à vontade com a sua presença. Se fosse julgar apenas pela aparência, daria uns sete, talvez oito anos de idade. A voz fina condiz com o aspecto, mas ela se move com o despojamento dos adultos e seus olhos são escuros, sem brilho. Olhos que parecem ter testemunhado muito mais do que uma pessoa seria capaz de vivenciar em uma única vida. Não há nada de infantil neles.

— Veio levar minha mãe? — pergunta Eva por fim.

A menina esboça um sorriso.

— Como eu levaria alguém comigo? Enfiando dentro de um saco? Não, querida. Não levo ninguém a lugar nenhum.

O tom irônico irrita Eva e a deixa mais ousada.

— Quero saber se minha mãe vai morrer!

— É claro que sim. E você também. E aquele enfermeiro… Todo mundo irá morrer um dia.

— Esse dia é hoje?

— Não posso responder essa pergunta. Bom, na verdade posso, mas iria contra todos os meus instintos. — A menina mostra o pé direito. — Isso parece um joanete para você?

— Só me responde uma coisa: você é ela mesmo? Quer dizer, a Morte?

A menina se move no assento, ficando de frente para Eva, a cabeça apoiada no encosto.

— Você fala dessa maneira porque tenta me imaginar como uma pessoa cujo ofício é ser a Morte. Se quer saber, eu sou a manifestação antropomórfica de um aspecto primordial da natureza universal… Mas é, pode me chamar de Morte. Apesar de ser um eufemismo colossal, acredito que é o máximo que seja capaz de compreender.

— Não precisa ser grosseira! Eu não sou burra — rebate Eva.

— Peço desculpas se a ofendi. Não foi minha intenção.

— Falando desse jeito, ninguém vai entender mesmo.

— Façamos o seguinte: massageie meus pezinhos cansados e eu explicarei — diz a Morte, pousando os pés sobre as coxas de Eva. A adolescente olha desconfiada, mas começa a fazer sua parte. — Que mãos macias! Onde é que estávamos mesmo?

— Manifestação do universo…

— Ah, sim! Vejamos… Você deve ter brincado de soprar bolhas de sabão quando era criança. Pense na maior e mais bonita bolha de sabão que jamais soprou. Imagine-a pairando no ar, sem nunca cair, sem nunca estourar. Eterna… Imutável… Durando o tempo suficiente para vir a ser mais que uma mera bolha. Aos poucos, ela se torna consciente do que há em seu interior, da água, do ar e do sabão que a formam. O passo seguinte é ganhar consciência de tudo que está do lado de fora: o chão abaixo, o céu acima, a criança que a soprou, tudo. A bolha de sabão percebe estar isolada em si mesma. O que está dentro não pode sair, o que está fora não pode entrar. Existe uma única maneira da bolha de sabão tornar-se parte de toda a grandiosidade que a rodeia… Estourar. — A menina encara a adolescente como se fosse uma professora. — Entende a quê me refiro?

Eva interrompe a massagem nos pequenos e machucados pés da Morte e responde de forma insegura:

— Acho que é uma metáfora para o ciclo da vida. Nascer, crescer, morrer… Essas coisas.

— Boa resposta, apesar de incorreta. Refiro-me ao Big Bang, a Grande Explosão, o princípio do universo… Melhor dizendo, do processo que levou a esse evento. Refiro-me à bolha de sabão do Big Bang: a Singularidade. Consegue imaginar toda a matéria do universo comprimida em um ponto infinitamente pequeno e, ainda assim, ilimitado; existindo simultaneamente antes do início do universo e após seu final? O que para nós são paradoxos, era lugar comum para a Singularidade. Tratava-se de uma realidade diferente, com suas próprias leis da física. À sua maneira, a Singularidade foi eterna, comprimindo em seu interior tempo, espaço e toda a matéria existente.

Eva precisa de um esforço maior para continuar acompanhando o raciocínio.

— Quer dizer que não havia nada em volta? — indaga a adolescente.

— Havia algo sim: possibilidades. — O semblante da Morte ganha cor. Ela começa a gesticular com mais frequência. — Tudo aquilo que existia compunha a Singularidade, ao passo que tudo aquilo que poderia ser a rodeava. Um oceano infinito de destinos esperando para serem traçados. A Singularidade desejou ardentemente ser parte daquele oceano, deparando-se com um obstáculo gigantesco: sua própria natureza imutável. Para mudar, para estourar, a Singularidade precisaria abalar um dos pilares de sua realidade. Teria de operar um milagre, por assim dizer.

— E que milagre foi esse? — pergunta Eva.

— Uma anomalia. A maior de todas. Descomunal. Interminável. Um elefante na sala de estar do Cosmos… Entretanto, a Singularidade não previu que, na nova realidade, tudo existiria em pares opostos: claro e escuro, quente e frio, doce e amargo… No exato momento em que a anomalia surgiu, ela ganhou uma gêmea oposta.

A menina para de falar e cruza os braços, desafiando Eva a chegar a alguma conclusão sobre o que acabara de dizer.

— A vida e a morte! O que está dizendo é que a vida e a morte criaram o universo.

— Bingo! — a menina estala os dedos. — Vê? Sou um dos pilares que sustentam nosso universo. O próprio tecido da realidade não pode existir sem mim. Não há razão para me temer.

— Você nos tira as pessoas que amamos — Eva se emociona. — Meu pai era o único que me entendia, o único que não me considerava maluca. Aí um dia, um ônibus avançou o sinal vermelho e tirou ele de mim. Foi o mesmo que arrancar um pedaço do meu coração! Como espera que eu leve isso numa boa?

— Veja bem… — a Morte suspira e esfrega as têmporas, cansada. — Não há problema em ficar triste. O problema é não aceitar que a morte é parte da vida. Sou tão natural quanto respirar, comer ou gozar. Irá surpreender-se com o quanto se sentirá mais leve se aceitar o que digo.

Elas permanecem em silêncio por vários minutos. Eva meditando sobre tudo aquilo, a Morte desfrutando de sua massagem nos pés.

— Pode parar, querida. Obrigada — A menina se ajeita no assento e calça as sandálias. — Gostei de você, Eva! Posso fazer algo para agradecer pela massagem?

— Não vai mesmo me contar se minha mãe vai morrer hoje? — A Morte sorri. É claro que ela não vai dizer, pensa Eva. — Por acaso, você vai ficar desse tamanho para sempre ou vai crescer? Se envelhecesse… Bom, tenho mãos macias.

A menina se acanha.

— Eu dou um jeito na minha aparência. Estamos combinadas — a Morte salta do assento, se espreguiçando.

— Posso perguntar uma última coisa: por que você apareceu para mim? — questiona Eva.

— Pouquíssimas pessoas conseguem me ver; sempre paro para conversar quando encontro alguma delas. Vamos tentar nos encontrar a sós na próxima. A recepcionista do hospital acredita que você está falando sozinha.

A menina indica a mulher de meia-idade na recepção. Ela parece assustada e se vira assim que Eva olha para ela. A adolescente dá de ombros.

— Não importa. Todo mundo me acha maluca mesmo.

— Por acaso, cogitou a possibilidade de estar me imaginando? De eu ser apenas o produto de uma de alucinação?

— Duvido. Aquela conversa sobre bolhas de sabão e singularidades é metafísica demais para ter saído da minha cabeça. Além do mais, já comprovei que meu dom é de verdade. Na sexta série, eu soube que minha professora de matemática tinha câncer antes dela própria descobrir.

— Você via o câncer?

— Eu podia ouvir. Durante as aulas, eu ouvia o tumor a comendo por dentro, mas foi só no final do semestre que ela descobriu.

— Curioso. — A Morte encara Eva com uma suspeita no semblante e pergunta: — Por que sua mãe foi hospitalizada?

Eva pensa antes de responder. A verdade é que continua sem compreender o que sucedera com a mãe.

— Ela teve um… mal súbito esquisito. A gente estava discutindo, pra variar. De repente, apareceu uma mancha de sangue enorme na barriga dela, depois começaram a aparecer outras manchas no peito, no rosto, nos braços, em todo lugar.

— Haveria a chance de você estar segurando uma tesoura ou faca quando isso aconteceu?

Eva fica confusa.

— Não que eu me lembre. Mas falando em faca, acho que estávamos na cozinha.

— Compreendo. Sendo assim, tenho um conselho para você… — a Morte beija Eva na testa, como uma irmã mais velha. Em seguida, se inclina para sussurrar em seu ouvido: — Comece a correr.

Quando a adolescente levanta os olhos, está sozinha. A Morte desaparecera por completo. Só então percebe que suas roupas estão manchadas de sangue, assim como seu rosto. Assustada, procura ferimentos, sem encontrar nenhum. É o sangue da minha mãe, conclui. Não havia nada de estranho nisso. É óbvio que ficara manchada quando socorrera a mãe.

Ela sai do hospital para tomar ar. A brisa da madrugada é um pouco fria, mas agradável. Uma imensa tranquilidade toma conta de tudo… Até que Eva nota as luzes azuis e vermelhas refletindo na fachada dos prédios no final da rua.

Teve certeza que as luzes vinham por ela e esse pensamento pareceu retirar uma espessa névoa da frente de seus olhos. Compreendeu melhor todos os eventos daquela noite e soube que não queria estar por perto quando as luzes chegassem.

Começou a correr.


Nascido em 1981, Joe de Lima sempre gostou de inventar histórias. Após um início trabalhando com fanzines em quadrinhos, passou a se dedicar à literatura. Publicou contos em antologias das editoras Infinitum, Literata e Buriti, na revista digital Nupo e no podcast Desleituras. Atualmente trabalha numa série de distopia young adult que já conta com dois volumes: Arcanista e Armamentista.

CabulosoCast #192 – Metas literárias para 2017

Olá Cabulosos e Cabulosas do meu Brasil e Booklovers de todo mundo! Neste capítulo, eu (Lucien o Bibliotecário), Priscilla Rúbia e Domenica Mendes convidamos Dani Gomes para fazermos uma lista de 5 (cinco) livros para serem lidos em 2017. Será que conseguiremos? Dê o play para descobrir quais livros desejamos ler neste ano. Um bom episódio para vocês!

Atenção!

Para ouvir basta apertar o botão PLAY abaixo ou clique em DOWNLOAD (clique com o botão direito do mouse no link e escolha a opção Salvar Destino Como para salvar o episódio no seu pc). Obrigado por ouvir o CabulosoCast!

Quer baixar o episódio em arquivo rar?

Para baixar a versão em zipada clique aqui, em seguida cole o link de download e clique na opção convert file.

Citados durante o episódio

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Assista ao perturbador primeiro trailer da série de “O Conto da Aia”

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Eu tinha outro nome, mas ele é proibido agora.” É com esta primeira frase que somos apresentados a república distópica de Gileard e ao primeiro trailer que o Hulu liberou no dia 09 de janeiro da série O Conto da Aia. Através da voz de Offred (Elisabeth Moss) vemos um pouco do seu passado, quando ainda tinha seu marido e seu filho até o momento em que estes lhes são retirados e Offred passa a ser “ensinada” pelas tias. Vamos ao trailer:

O perturbador O Conto da Aia já foi tema do CabulosoCast. Inspirado no livro escrito por Margaret Atwood a série estreia numa quarta-feira, dia 26 de abril.

Via Tor.com

Melanie e o medo frente ao desconhecido

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Em uma prisão controlada pelo exército, um grupo de crianças segue uma estranha rotina. Comparecem a aulas diárias. Semanalmente são banhadas e alimentadas. E, exceto quando estão em suas celas, permanecem contidas em cadeiras de roda reforçadas, onde passam a maior parte do dia. Esse é o overview básico de “A Menina que tinha Dons” do britânico M.R.Carey.

M.R.Carey é mais conhecido por seus trabalhos com quadrinhos

A protagonista é Melanie, uma criança superdotada e muitíssimo dócil por quem sentimos uma afeição imediata. Ela é aficionada por datas, que lhe passam a tranquilizadora sensação de controle. Também decorou boa parte da geografia de seu país e é um prodígio com números. Além disso, nutre uma devoção imensa por uma de suas professoras, a senhorita Justineau. O que Melanie não sabe sobre si mesma – o segredo que todos escondem dela – é que ela é uma Faminta – uma variação dos nossos tradicionais zumbis.

“A morte e a donzela embrulhadas num só pacote.”

Em seu romance de estréia, M.R.Carey traça um paralelo entre Melanie e o mito de Pandora. De acordo com a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher a existir e recebeu dádivas de todos os deuses – daí o seu nome: “aquela que tem todos os dons”. Como Pandora, Melanie é repleta de dons: força, inteligência e sagacidade. Ao mesmo tempo, representa enorme perigo: enquanto a maioria dos zumbis é guiado apenas pela fome, Melanie tem consciência de si mesma e do mundo. Quão perigosa é uma arma quando ela tem discernimento de sua capacidade de matar?

– Esta é a Pandora – disse a Srta. Justineau. – Ela era uma mulher maravilhosa. Todos os deuses a abençoaram e lhe deram dons. É isso que seu nome significa…’A menina com todos os dons.’ Então ela era inteligente, corajosa, bonita, engraçada e tudo mais que vocês iam querer ser.

O núcleo ao redor de Melanie é muito interessante, principalmente no conflito entre a senhorita Justineau, professora das crianças, e a doutora Caldwell, cientista-chefe do experimento que tenta criar uma cura para o vírus da Fome. Justineau quer tratar as crianças com humanidade e respeito – afinal de contas, não é a consciência de si que define os seres humanos? Caldwell, porém, tenta enxergar as crianças – e Melanie principalmente – como cobaias, como a única saída para salvar a humanidade. E, por não saber se há outros cientistas vivos no resto do mundo, está disposta a ir até as últimas consequências.

“A Menina que tinha Dons” é uma narrativa sobre como o medo frente ao desconhecido nos torna preconceituosos e cruéis. Mesmo sendo apenas uma criança, Melanie personifica o perigo, o estranho, o incomum. Portanto, deve ser ou destruída ou adestrada. É lindo vê-la se rebelar contra isso, principalmente quando põe os olhos pela primeira vez na imensidão do mundo e compreende tudo que seria capaz de realizar. Sem dúvidas, Melanie é uma leitura moderna e muito bonita para o mito de Pandora: de um lado, todos os males do mundo. Do outro, escondida no fundo da caixa, a esperança.

A importância do leitor para a literatura

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Hoje, dia 7 de janeiro, é dia do leitor. Muito já falamos aqui sobre o ato de escrever, sobre editoras, mercado editorial, sobre o livro em si… no entanto, e o leitor? Onde ele se encaixa? É pensando nisto que decidi guiar este texto.

Ano passado tivemos uma polêmica declaração de um escritor que sem papas na língua disse que por ele o leitor podia “se fuder”. Na época, diferente de muitos não achei a declaração tão aterradora assim, afinal de contas, ele enquanto escritor tem o direito de dizer que não escreve para o seu leitor, mas para si, pouco importa se seus livros serão comprados e lidos, sua fixação é pela escrita (essa foi a minha interpretação). Considerei, apenas, indelicado para um homem das letras dirigir a seu público desta forma, mas repito, para mim, é um direito dele.

Pensamos geralmente no leitor como uma etapa final. A ideia aparece, alguém escreve, alguém publica e um outro alguém lê. A leitura é, porém, uma atividade de interação entre o autor, o texto e o leitor. É impossível acreditar que o ato de ler ocorra sem estes três elementos.

Há em todas as etapas de produção de um livro um leitor idealizado.

  • O leitor para o escritor: todo o escritor precisa imaginar um leitor ideal, mesmo que inconsciente, faz-se necessário supor que quem lerá sua obra tenha um conhecimento prévio para compreender o que está escrito. Já pensou se o escritor tivesse que sempre explicar tudo para o leitor? Na frase: “Ele puxou a cadeira e sentou.” Você acha necessário que eu explique que “ele” é pronome pessoal do caso reto que retoma um substantivo masculino próprio que é o sujeito da frase citada para que você possa visualizar a cena de alguém pondo a mão sobre uma cadeira e sentando-se nela? Se escreve uma fantasia não precisa justificar o fato das viagens serem feitas sobre cavalos e não sobre motos. Se escreve ficção científica não precisa explicar por que o personagem esta conversando com um robô e por ai vai.
  • O leitor para o escritor (parte 2): considere que você seja um escritor que manda um “foda-se” para o seu leitor e relembrando que o conceito do leitor ideal é inconsciente, é impossível imaginar a escrita profissional de uma obra sem um leitor-beta (beta reader). Terminou de escrever? Por que não selecionar um grupo de pessoas da sua confiança para ler o seu trabalho e saber se as palavras dispostas no papel fazem sentido quando longe de seu criador? A revisão de um leitor beta é fundamental. Sem contar que quando um escritor assina um contrato com uma editora o livro ainda irá passar por outros olhos como do editor, por exemplo.
  • O leitor para a editora: se o livro é um produto e o leitor é o consumidor, saber o público-alvo direciona a capa, a diagramação, a divulgação… (caso o escritor já tenha ideia do seu púbico-alvo isto também ajuda no processo e faz com que o mesmo ganhe pontos com as editoras). Um exemplo simples são as capas da série de As Crônicas de Gelo e Fogo nacionais feitas pelo Marc Simonetti e as capas americanas. É quase inegável que para o leitor brasileiro as capas gringas não são atrativas. Isto, importante lembrar, porque estou pensando apenas em uma parte do livro, mas o leitor, pensado aqui como público-alvo, está presente em cada etapa até mesmo na disposição dos livros dentro de uma livraria ou você acha que uma editora paga que expor qualquer livro na entrada?
  • O leitor para o leitor: amigos, blogueiros, podcasters, you tubers. Não estamos só lendo o que queremos somos influenciados constantemente. Quem nunca ficou se contorcendo para enxergar a capa do livro que um desconhecido lia a uma certa distância? Quem nunca recebeu uma indicação de uma obra que se dependesse de nós, jamais estaria em nossa lista de leitura? Acompanhamos o trabalho de pessoas na internet as quais depositamos nossa confiança e/ou nos identificamos enquanto leitores e passamos, desta forma, a querer saber não só o que estão lendo, mas se gostaram ou não do que leram. E admitamos, olhamos atravessado para aquele livro que alguém de nossa confiança falou mal.

Tenho consciência que fui simplista elencando apenas quatro tópicos da importância do leitor para a literatura. Cada um deles leva a vários subtópicos que por sua vez levariam a outros subtópicos. Contudo quis provar que não estamos no final do processo, na calda da cadeia da leitura e que, também, não somos os cordeirinhos que consomem os produtos que foram escritos pelo escritor e publicados pela editora. Estamos presentes mesmo quando estes ainda nem sabem se vamos investir o nosso dinheiro em suas obras.

Um feliz dia do leitor e como não poderia deixar ser: boas leituras!

Prêmio Sesc de literatura 2017

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Estão abertas as inscrições para o prêmio Sesc de literatura 2017. Os candidatos poderão enviar os originais, nas categorias de conto e romance, entre os dias 09 de janeiro e 17 de fevereiro. O concurso tem o objetivo de revelar novos talentos da literatura nacional. Aos interessados basta clicar aqui para ter acesso a mais informações.

Caso deseje baixar o edital completo basta clicar aqui.

Boa sorte aos inscritos.

“Wild Times: an oral history of Wildstorm Studios” lança sua campanha através do Kickstarter

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Seguindo os passos de seu fundador, Jim Lee, o livro que conta a história dos estúdios Wildstorm será lançado através de uma campanha no Kickstarter após dois anos e meio de desenvolvimento.

Intitulado Wild Times: an oral history of Wildstorm Studios, com 450 páginas, traz entrevistas com 75 personalidades do mundo dos quadrinhos, incluindo muitos grandes talentos criativos que passaram pela editora em sua história de 18 anos, como J. Scott Campbell , Carlos D’Anda , Adam Hughes ,Gene Ha , Dustin Nguyen, Brian Azzarello , Brian Wood , Kurt Busiek , James Robinson ,Christos Gage , Alex Sinclair , Laura Martin , David Baron , Justin Ponsor , Scott Dunbier , John Layman , Ben Abernathy e Ted Adams. As entrevistas, de acordo com a descrição constante no Kickstarter, mostram tanto o começo do estúdio como de seus artistas, o processo criativo de trabalhos que redefiniram o gênero como Wild C.A.T.S, Gen 13 e The Authority, tornando-se assim o lar de grandes quadrinhos, tanto licenciados quanto de posse dos próprios criadores, a absorvção pela DC/Warner Brothers e os próprios personagens e arcos de quadrinhos.

A lista completa de entrevistas está abaixo:

Curiosamente o nome do próprio Jim Lee não apareceu. Em 2015, o criador do projeto Joseph Hedges disse que a DC não estava envolvida na produção do livro e negou-lhe qualquer acesso ao seu pessoal, no entanto a julgar pela lista a cima, percebe-se que ele entrevistou muitos talentos atuais da DC. Warren Elis, que atualmente conduz o último reboot da Wildstorm na DC Comics, também não aparece na lista, nem outros nomes que constavam na “wish list” de entrevistados divulgada por Hedges em 2015, como Brandon Choi e Travis Charest.

Doando apenas US $ 25 dólares, você consegue uma cópia do livro de 450 páginas, o que não é um mal negócio. Com US $ 15 dolares, obtém uma cópia digital. Para ter acesso a campanha no Kickstarter basta clicar aqui e colaborar com o valor que desejar.

Via Bleeding cold

O Conto da Aia: série ganha data de estreia

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O Conto da Aia, adaptação televisiva do romance icônico de Margaret Atwood, vai estrear no Hulu na quarta-feira, 26 de abril de 2017. O serviço de streaming anunciou a data de estreia hoje e também compartilhou algumas fotos de Offred, Moira, comandante Waterford, Serena Joy e os outros habitantes da república distópica de Gileard.

Ouça o CabulosoCast sobre O Conto da Aia

A série, produzida por Bruce Miller (The 100) e Ilene Chaiken (The L World), entre outros, prevê um futuro em que a república totalitária de Gileard responde ao colapso ambiental e maiores taxas de infertilidade com “um retorno aos valores tradicionais”. As mulheres são separadas em uma hierarquia: as esposas dos comandantes, como Serena Joy (Yvonne Strahovski), as aias, como Offred (Elisabeth Moss) e Moira (Samira Wiley) e as tias que treinam as aias. Por ser fértil, Offred se mantém útil para a família. Enquanto procura por seu marido e sua filha perdidos, ela toma consciência de uma conspiração envolvendo espiões de ambos os lados.

As fotos podem indicar que muito em breve veremos um trailer.

Ao contrário da Netflix e da Amazon Studios, Hulu lança episódios semanalmente. A primeira temporada de O Conto da Aia terá 10 episódios.

Via Tor.com

Falha Crítica 194 – Star Wars Rogue One!!!!!

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Sim, Nerds, hoje, nossos rebeldes Ricardo e Harris se juntam a um dos lideres militares do império o Darth Vader tupiniquim Basso, pra falar desse que pra muitos é o melhor filme já feito no universo de Star Wars, então, fiquem com a força e com mais esse podcast!!!

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Oh L’amour parte 7- O conceito de caixa preta

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Dedico estas mal traçadas linhas

aos meus mestres da fotografia e às pessoas que cada vez mais se   

esmeram em desvendar a caixa preta…

Vocês já perceberam como baseamos todas as atitudes dentro de um relacionamento pensando na reação do outro? (Coisa mais estranha do mundo?!)

Vou fazer tal coisa (input) porque daí fulano vai reagir assim (output)

Acreditamos o tempo todo que faremos tal coisa e obteremos tal resposta, como se fosse um conceito automatizado.

Ele/Ela (ou quem quer que seja na sociedade moderna) te dá uma florzinha = você sorri.

Ele/Ela (ou quem quer que seja na sociedade moderna) faz X =  você responde Y.

Quantos milhões de vezes eu já ouvi amigas minhas falando: “ai, vou dar um gelo nele pra ver se ele corre atrás” ou “ai, não vou ligar, porque não quero parecer fácil, eu ligo amanhã” ou “ah, mas e se eu mandar mensagem e ela ignorar?

Aqui estou cometendo uma ousadia nível hard: pegando como caixa preta o mais complexo dos aparelhos, o ser humano, carregado de seus vícios, anseios, sentimentos e tudo mais, colocando dentro de uma interpretação que não se é habitual trabalhar.

Possível? Talvez… Adorei pensar no ser humano como uma possível caixinha de respostas prontas… tão clichê, tão usual! Tão socialmente aceito!

O conceito de caixa preta surge para definir algo do qual se desconhece o processo, porém sabe-se que se fizer tal coisa de tal jeito, obter-se-á a resposta que se espera.

Exemplo: eu aperto o botãl'amour7 (2)o e o microondas funciona e ao final do tempo meu arroz está quente.

O processo físico matemático quântico extra-terrestre que aconteceu para que o arroz esquentasse em 1 minuto, eu não sei. MAAAAS funciona.

Vamos engrossar um pouco esse caldo: E se eu desmontar meu microondas e, a partir dele, montar um rádio?

A maior parte dos autores trabalha com a fotografia, por ser mais fácil a explicação: A máquina fotográfica é uma caixa preta de onde se cria algo e se obtém respostas.

Poucos sabem todo processo que ocorre dentro da máquina fotográfica para que se registre a imagem; todos os cálculos físicos e matemáticos, toda a lógica inversa…

Porém não é necessário que se saiba todo esse processo para que a máquina funcione. É necessário que se saiba “apertar o botão” .

Mas, a criação fotográfica também depende muito de quem está por trás do APARELHO.

Tive outras pessoas na vida, tanto fotógrafos quanto amigos que curtem fotografia, que sempre falaram que a primeira foto se faz da observação. O que você quer dizer com aquilo? O que aquilo te diz?

A segunda parte é a dominação da caixa preta. Colocar o aparelho para trabalhar a seu favor, para fazer o que você quer e a foto ficar do seu jeito.

Se não fosse assim, Brassai, Bresson, Sebastião Salgado e entre tantos outros não conseguiriam captar a imagem da maneira que conseguem. ELES JOGAM com o aparelho e as ideias sem medo de errar. Porém, a beleza dessa teoria está em quando a caixa preta é aberta.

Quando se opta por abrir a caixa preta e explorar, trabalhar, entender o seu funcionamento, utilizar o que se tem dentro dela para criação de algo novo, melhor, inexplicável e incrível estamos então falando do USO CRIATIVO. ESTAMOS FALANDO DA ARTE.

A linha entre amor e arte é tênue

A proposta é que nem todo texto (seja imagem ou texto escrito), nem toda literatul'amour7 (3)ra, nem todo aparelho (qualquer que possa produzir informação! inclusive o livro pode ser considerado um aparelho), nem toda pessoa (qualquer) deve ter sua função fechada, limitada e/ou definida.

Sempre é possível que se faça algo de maneira diferente a partir de algo pré-existente.

Sempre será possível reabrir a caixa preta, por exemplo de Dom Casmurro, para pensar se a Capitu traiu ou não Bentinho.

Talvez seja por isso que acredito que todos os amores são caixas pretas diferentes…

 

Para esse texto, usei….

— Bruno Latour — Ciência em ação.
— Flusser — Texto da Pós (se alguém quiser empresto)
—Barthes—- Sempre o tempo todo <3—- dessa vez, um pouco da Câmara clara.

Pottermore publica nova edição de Animais Fantásticos

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Após o lançamento do filme de Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016) o Pottermore acaba de anunciar que publicará uma nova edição atualizada do livro. A nova versão estará disponível para os fãs a partir de 14 março.

Ouça o CabulosoCast sobre Animais Fantásticos e Onde  Habitam

Além de trazer um prefácio do Newt Scamander, seis novos animais com ilustrações feitas por Tomislav Tomic e uma nova capa ilustrada por Olly Moss, que desenhou as sete capas da versão ebook de Harry Potter. Às vendas serão revertidas para caridade.

A nova versão de Animais Fantásticos poderá ser adquirida nos formatos ebook e físico. No Brasil, a editora Rocco é detentora dos direitos da série. Agora é só aguardar o lançamento da edição nacional.

Via EW

J. K. Rowling afirma pista de seu novo projeto está no twitter

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Sabemos que a autora J. K. Rowling está atualmente envolta em diversos projetos, até porque 2016 foi seu ano mais produtivo desde de a conclusão da série Harry Potter, mas também por que a autora confirmou que está trabalhando duro em dois novos romances (um deles para ser publicado sob o pseudônimo de Robert Galbraith).

Na manhã desta quinta-feira, ela tweetou algumas pistas sobre estes misteriosos livros, ou seja, tem a ver com a nova foto da capa de seu twitter. Segundo a própria Rowling:

É difícil encontrar um cabeçalho que resuma em tudo que estou trabalhando no momento, mas esta pintura se aproxima.

A pintura a qual falava é As vaidades da vida humana do pintor holandês Harmen Steenwyck que você pode conferir abaixo:

E ai, Cabulosos, especulações?

Via EW

Onironauta

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A selva não reagiu ao movimento silencioso do tigre. Caçador experiente, não provocava o menor ruído ao passar pelos arbustos. Um besouro azul metálico parecia ser o único a percebê-lo, voando para longe da flor rosa e branca onde antes repousava.

A apenas alguns metros do caçador estava Vema, pernas cruzadas em posição de lótus, suas mãos sobre as coxas. Ela tinha os olhos fechados, as costas para a fera. Para todos os efeitos, estava em outro mundo.

O tigre chegou perto o suficiente para saltar sobre ela, capturá-la com suas garras e presas. Não haveria escapatória. Soltou um poderoso rugido.

– Isso não está certo.

Vema descruzou as pernas e se levantou sem usar as mãos. O grande felino abaixou a cabeça, acuado como um gato doméstico com um décimo do seu tamanho. A onironauta agachou-se ao seu lado, examinando algo além da visão. Com uma mão treinada puxou o som, abrindo-o como um pergaminho sobre a cabeça do animal. Cordas de cores inimagináveis como as de um instrumento jamais criado teciam o rugido da forma errada.

Ela puxou aqui, amarrou ali. Fechou-o. Sinalizou com a cabeça. O tigre tentou novamente, falhou novamente.

Não era perfeito. Ela não sabia bem o que era, mas havia alguma coisa destoando.

Vema fez carinho na cabeça do tigre. Não era culpa dele, claro. A culpa era dela.

Seu cliente pagou por uma experiência bem específica, uma que ele dizia ter perdido com a idade. A experiência puxaria a memória. Talvez. Não precisava ser perfeita para isso, mas Vema jamais entregaria menos do que a perfeição.

Dando as costas à selva, Vema fez um corte no sonho e saiu. Do lado de fora da bolha enevoada uma rede de teias prateadas conectava os sonhadores de toda a cidade. Em algum lugar do Grande Sonhar ela encontraria a peça que faltava.

Ela nunca tinha visto um tigre; nem mesmo uma selva como aquela. Na verdade, jamais vira tantas árvores juntas em toda sua vida. Não na Cerca Viva, além das muralhas da cidade. Como a maioria dos habitantes de Último Refúgio, ela não se atrevia a ir até lá sem todo um batalhão de soldados armados. Enquanto sair das muralhas da cidade era uma experiência letal, entrar nos sonhos dos vivos era apenas parte do seu trabalho.

O problema era encontrar o sonho certo.

Ela imediatamente descartou aqueles jovens demais, como ela. Nenhum deles teria as memórias reais de ela precisava. Talvez tivessem fabricações baseadas em histórias e desenhos. Ela marcou nódulos de sonhos de imigrantes, aqueles que vieram das terras de seus ancestrais e das ilhas do Oceano de Mil Deuses, onde feras e florestas selvagens eram uma realidade. Então empurrou para longe aqueles cercados de fumaça negra. Pesadelos predavam esses nódulos, tomando vantagem de mentes e corpos cansados dos operários e estivadores que já tinham problemas o suficiente em suas horas despertos.

Vema se sentia mal por fazê-lo, mas ela não tinha como lidar com um ninho como aquele. Não hoje, enquanto um cliente aguardava um sonho artesanal. Ela tinha contas a pagar, gostasse ou não. A última coisa que precisava àquela altura era tropeçar no território de um rakshasa.

Essa decisão por si só tornou poucas as suas opções. Alguns mercadores chegados recentemente de além-mar, alguns membros da guarda citadina, alistados pela Companhia Mercantil para proteger seus interesses na cidade. Sim, havia ali uma mente forte com a experiência que ela precisava.

Ela estendeu a mão e beliscou o sonhador. A bolha prateada era grudenta e consistente de forma incomum. Ela afastou os dedos, usando sua outra mão para ajudar a abrir o sonho diante dela. Foi preciso mais esforço do que era costumeiro para penetrar aquele sonho.

Vema entrou para uma batalha em andamento. Homens e mulheres de vários tons de peles escuras lutavam contra uma horda muito maior liderada por homens de vestes negras esvoaçantes montados em animais brancos listrados. As listras lembravam Vema do tigre, mas era aí que as semelhanças acabavam.

‘Cavalo’, ela lembrou-se. Ou algo assim. Já tinha visto alguns nos sonhos de outros, mas era diferente dessa vez. Talvez fosse só a interpretação do sonhador para a mesma coisa. Realidade e imaginação misturavam-se de forma curiosa no Mundo dos Sonhos.

Procurou à sua volta pela fonte. Encontrou-o no meio do confronto, escudo diante de si, empurrando soldados na direção do inimigo. Gritava com ódio, os olhos arregalados de pânico. Ele ergueu sua lança, pronto a arremessá-la. Havia um poder bruto emanando dele, algo de certa forma atraente.

Vema balançou a cabeça. Esse não era o sonho certo.

Estendeu uma mão novamente, beliscou sua mente e abriu. Ele resistiu. Virou-se para encará-la diretamente.

Um calafrio subiu a espinha de Vema. Sonhadores não deveria perceber onironautas.

O sonho nem sequer estremeceu, as pessoas não tornaram-se névoa. O sonhador não despertou.

Vema temeu ficar presa naquela memória, o corpo vegetando até definhar no quarto da pensão onde vivia.

Ela abriu a mente do sonhador e puxou qualquer coisa que o distraísse.

A terra tremeu. Soldados foram arremessados para todos os lados e uma criatura enorme rompeu o chão, atraída por suas manipulações. Era facilmente do tamanho de uma casa, a pele cinzenta grossa, uma cauda enorme em sua face flanqueada por dois dentes compridos como lanças. Arqueiros se empoleiravam numa cesta em suas costas.

Por toda parte chumaços grossos de grama e raízes brotavam rápido do solo árido. As montanhas distantes desapareceram enquanto uma selva parecida com a que ela tecia surgiu a sua volta. Soldados mudaram. Não eram mais dois exércitos, mas sim grupos isolados lutando por suas vidas contra homens usando turbantes e túnicas coloridas. A atenção do sonhador retornou ao monstro cinzento. Mais deles se aproximavam, pisoteando e empalando seus companheiros.

O sonhador arremessou sua lança, atingindo um dos monstros entre as presas. A criatura soltou um urro, mas não era o rugido que ela precisava. O sonhador fugiu às pressas como a maioria de seus companheiros.

Vema foi atrás dele sem precisar correr. Ela ignorava o terreno irregular e as árvores, simplesmente ressurgindo onde precisava estar quando precisava estar. Ela estava impressionada com a capacidade do sonhador de evitar raízes e galhos. Atrás deles muitos caíam. Aqueles que os gigantes cinzas não matavam eram executados pelos homens de roupas coloridas. Ou era muito habilidoso no mundo real ou era muito cheio de si.

O tempo passa de forma estranha em sonhos. A pouca luz que conseguia evadir as copas grossas das árvores estava morrendo como os soldados do sonhador.

Ele permanecia em silêncio, respirando pesado, suando, oculto no alto de uma árvore. Tinha na mão um amuleto até então escondido sob a armadura de couro. Muito além, o som de homens e feras também os abandonava.

Vema subiu atrás dele, sentando-se em um galho estreito e fino. Seus olhos estavam no sonhador, curiosa. Quanto daquilo era memória e quanto era imaginação?

Exausto, o homem fechou os olhos e dormiu. O céu escureceu imediatamente. Em sua memória, passava-se apenas um momento. Provavelmente foram horas.

Um som baixo, cadenciado, veio de trás de Vema. Ela sentiu o movimento logo atrás dela, leve apesar do tamanho, belo apesar de letal.

O tigre caminhava lentamente por um galho grosso o suficiente para suportar seu peso. Ele parou e rugiu.

Isso!

Vema agarrou aquilo, causando uma pausa anômala no movimento e som, e copiou ambos para sua coleção particular, para caso precisasse em outra ocasião. Levantou-se, satisfeita, permitindo que o sonho continuasse.

Vema ergueu a mão para partir uma saída no sonho. Parou ao perceber que estava sendo observada.

O sonhador ainda estava em seu canto da árvore, mas agora tinha uma adaga em sua mão. Sua atenção não estava no tigre, mas sim nela. Ele franziu a testa, confuso.

Vema olhou novamente para o tigre. Ela gostaria de saber como aquilo terminou. Gostaria de saber mais sobre aquele homem.

Mas não agora. Ela tinha um trabalho para finalizar.

Vema cortou o sonho e partiu no momento em que o tigre saltou. Atrás dela a bolha prateada estourou. O sonhador tinha despertado.

Tudo estava exatamente como deixou em seu projeto. O besouro retornou à sua flor. O tigre a seguia com os olhos, empolgado por poder fazer sua parte. Agora que ela tinha visto outro ele parecia bem maior do que deveria. Talvez seu cliente o lembrasse assim, motivado pelo medo. Ou o outro, o sonhador, o imaginava menor, prova de seu destemor diante do perigo.

Agachada ao lado da fera de sonhos, Vema sacou do tigre sua versão do rugido e o examinou. Trabalhando de memória, puxou uma corda enquanto amarrava outra. Ela cortou uma terceira, eliminando o trecho final, amarrando-a a uma quarta. Com a mão livre ela criou uma nova corda de um grave vermelho escuro e com ela construiu um padrão crescente, que adicionou ao fundo.

– Tente de novo.

O tigre fez como ordenado.

Isso. Aquele som no fundo da garganta, uma cadência discreta, como um grande tambor distante. Era isso que faltava.

Vema se levantou, sorridente, e fez carinho na cabeça do tigre. Voltou para onde estava sentada antes. Ainda havia muito trabalho pela frente.


J. M. Beraldo é um nômade carioca que ganha a vida como game designer. Tem contos nas revistas Scarium e Trasgo, e nas antologias Brinquedos Mortais (2012), Sagas 4 (2013), O Outro lado da Cidade (2015), Piratas! (2015), Samurai x Ninja (2015) e Dinossauros (2016). Publicou os livros Véu da Verdade (2005), Taikodom: Despertar (2008), Império de Diamante (2015), Último Refúgio (2016) e Laicus – Pecados e Mentiras no Rio de Janeiro Colonial (2016). Tem ideias demais e tempo de menos, mas jura que um dia coloca tudo para fora.