Covil de Livros 90 – O Fantasma e a Canção

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Bem-vindos, amigos, ao Covil de Livros! Dessa vez teremos uma experiência diferente: o Basso irá ler e comentar o poema “O FANTASMA E A CANÇÃO” de Castro Alves. Teremos um programa diferente e espero que vocês gostem. Não esqueçam de comentar o que acharam sobre o poema e sobre esse formato.

E lembrando que no final tem um indicação da campanha #LeiaNovosBr! O pessoal do site MITOGRAFIAS publicou em formato digital uma Antologia de contos baseados em mitos modernos. Vale muito a pena conferir e é de graça! Basta acessar o link abaixo:

BAIXAR ANTOLOGIA MITOGRAFIAS VOL 1: MITOS MODERNOS

Depois não se esqueçam de dar um retorno sobre o que acharam da Antologia respondendo algumas perguntinhas abaixo:

FEEDBACK SOBRE A ANTOLOGIA MITOGRAFIAS 

 

O Fantasma e a Canção

    — Quem bate? — "A noite é sombria!"
        — Quem bate? — "É rijo o tufão! ...
        Não ouvis? a ventania
        Ladra à lua como um cão."
        — Quem bate? — "0 nome qu'importa?
        Chamo-me dor...  abre a porta!
        Chamo-me frio... abre o lar!
        Dá-me pão... chamo-me fome!
        Necessidade é o meu nome!"
        — Mendigo! podes passar!

        "Mulher, se eu falar, prometes
        A porta abrir-me?" — Talvez.
        — "Olha... Nas cãs deste velho
        Verás fanados lauréis.
        Há no meu crânio enrugado
        O fundo sulco traçado
        Pela c'roa imperial.
        Foragido, errante espectro,
        Meu cajado — já foi cetro!
        Meus trapos — manto real!"

        — Senhor, minha casa é pobre...
        Ide bater a um solar!
        — "De lá venho... O Rei-fantasma
        Baniram do próprio lar.
        Nas largas escadarias,
        Nas vetustas galerias,
        Os pajens e as cortesãs
        Cantavam! ... Reinava a orgia! ... 
        Festa! Festa! E ninguém via 
        O Rei coberto de cãs!"

        — Fantasmas! Aos grandes, que tombam, 
        É palácio o mausoléu! 
        — "Silêncio! De longe eu venho... 
        Também meu túmulo morreu.
        O séc’lo — traça que medra
        Nos livros feitos de pedra —
        Rói o mármore, cruel.
        O tempo — Átila terrível
        Quebra co'a pata invisível
        Sarcófago e capitel.

        "Desgraça então para o espectro,
        Quer seja Homero ou Solon,
        Se, medindo a treva imensa
        Vai bater ao Panteon...
        o motim — Nero profano —
        No ventre da cova insano
        Mergulha os dedos cruéis.
        Da guerra nos paroxismos
        Se abismam mesmo os abismos
        E o Morto morre outra vez!

        "Então, nas sombras infindas,
        S'esbarram em confusão
        Os fantasmas sem abrigo
        Nem no espaço, nem no chão...
        As almas angustiadas,
        Como águias desaninhadas,
        Gemendo voam no ar.
        E enchem de vagos lamentos
        As vagas negras dos ventos,
        Os ventos do negro marl

        "Bati a todas as portas 
        Nem uma só me acolheu!..." 
        — "Entra! — : Uma voz argentina 
        Dentro do lar respondeu. 
        — "Entra, pois!  Sombra exilada, 
        Entra!  O verso — é uma pousada 
        Aos reis que perdidos vão.  
        A estrofe — é a púrpura extrema, 
        Último trono — é o poema! 
        Último asilo — a Canção!..."

	Bahia, 13 de Dezembro de 1869.

 

 

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