A Infância do Brasil – José Aguiar

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Nas primeiras aulas de História da escola nos é ensinado que vivemos em um país marcado por chegadas, partidas, doutrinação, escravidão e mudanças políticas. Nesses pouco mais de quinhentos anos, a infância do Brasil é ainda surpreendente para muitos brasileiros que, ao descobrirem relatos de exploração, se sentem incomodados com nossa própria História. O importante aqui é percebermos que existem dois lados do mesmo relato: o que normalmente aprendemos na escola (contada pelo lado vencedor) e o lado que vamos descobrindo depois (ignorada pela maioria dominante, o lado dos oprimidos e excluídos socialmente).

Tão importante quanto perceber os dois lados do processo histórico é nos vermos como agentes ativos da sociedade. Falando de forma simples, isso significa que enquanto aprendemos sobre o passado do nosso país e do mundo, somos nós mesmos pessoas que estamos vivendo o presente e, este mesmo presente será o passado das próximas gerações. Indo além, isso também significa que hoje passamos por diversas situações que são consequências daquele passado. E é aqui que queremos chegar.

A dramática Infância do Brasil

A graphic novel “A Infância do Brasil” foi criada por José Aguiar e contou com a curadoria da professora, mestre e doutora Claudia Regina Baukat Silveira Moreira. Com sensibilidade típica de artistas e mensagem reflexiva própria de acadêmicos, a obra nos convida a conhecer a história do país através do olhar das crianças de cada época.

Das crianças filhos de colonos do século XVI, às indígenas nativas desta terra do século XVII, aos enjeitados do século XVIII, aos descendentes de escravos livres do final do século XIX, aos sobreviventes do início do século das guerras, o curto porém inesquecível século XX e aos nossos pequenos do século XXI, conhecemos a história do nosso país, sendo convidados a olhar para o nosso redor, alcançando a nós mesmos.

São esses os personagens que nos surpreendem e, devido à sua inocência e total adaptação à sua realidade, nos mostram o passado de nosso país sob uma ótica que explica muitos de nossos comportamentos diários.

Ao chegarmos ao final da leitura, emocionados e reflexivos, cabe a cada um de nós decidir o que fazer com nossas próprias ações dentro da sociedade para que possamos garantir às próximas gerações uma sociedade melhor dentro de um país que além de “ser rico por natureza” é construído por gente forte e guerreira que sabe o que faz, ah! essa brava gente brasileira!

Às nossas crianças, de ontem, de hoje e de amanhã

A Infância do Brasil é dividida em seis capítulos, dedicados a contar a história de cada século do país até os dias atuais. Cada capítulo apresenta a narrativa de uma criança ou de um grupo delas e personagens dentro de seu tempo, trazendo uma situação cotidiana inserida na cultura do local e em seu período histórico.

Traçando um paralelo entre o nascimento do país Brasil e seu crescimento, os capítulos trazem crianças desde o momento de seu nascimento até o momento em que, frutos de seu tempo, se tornam crianças sem infância. Indo além, o autor é provocativo ao nos mostrar que hoje as nossas crianças são frutos daquelas crianças. Será que superamos tão bem nossas cicatrizes culturais e coloniais? Hoje somos justos com os povos que a custo de suas vidas e almas nos trouxeram a modernidade e tecnologia? Já que somos uma sociedade civilizada, cuidamos bem de nossos pequenos?

Apesar do tema delicado, o autor não abusa do drama ou se coloca como tirano de nossos antepassados. Ao contrário, com naturalidade, ele nos mostra que o processo histórico é sagaz e fluído, construindo uma teia de ações que sempre terão consequências. É um convite, enfim, a nos vermos como agentes ativos da sociedade e não apenas passivos.

Análise Crítica

A graphic novel “A Infância do Brasil” possui 96 páginas, todas coloridas e em papel Couché Fosco 115g, no tamanho 21×28 cm. Lançada pela Editora Avec, a edição é muito bonita.

Os desenhos e narrativas criadas por José Aguiar são incríveis! De fácil entendimento, os traços são bonitos e provocam facilmente envolvimento para com a obra e emoção ao leitor.

É notável o bom trabalho de edição do projeto como um todo, já que a graphic novel é amarrada, do começo ao fim. Ao final da brochura, foram colocados textos complementares que explicam melhor ao leitor os processos históricos os quais as narrativas trabalham. É mais um exemplo de compromisso que um artista assume ao conceber uma obra, além do claro compromisso da editora Avec em publicar obras de qualidade e reflexão, destacando a nossa literatura nacional.

Por todos esses motivos, “A Infância do Brasil” é uma obra brasileira graphic novel de leitura obrigatória e, como não poderia ser diferente, entrou para minha seleta lista de livros favoritos. Convido, por fim, todos a conhecerem também. #LeiaNovosBR

Nota

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Nome:
 A infância do Brasil
Autor: José Aguiar
Edição: 1ª
Editora: Editora Avec
Ano: 2017
Páginas: 96
ISBN:
Sinopse: Em A Infância do Brasil, o premiado quadrinista José Aguiar lança seu olhar sobre a História do Brasil não pela perspectiva dos grandes eventos, mas pela das pessoas comuns, pelo viés da infância.
Nela o autor atravessa nossa história cheia de contradições, abusos, descaso, abandono, entre outras situações que insistem em não ficar para trás. A Infância do Brasil é sobre refletir o presente a partir do nosso passado para, quem sabe, projetarmos um futuro melhor.
Esta edição ainda conta com prefácio da historiadora Mary del Priore e textos finais sobre o contexto histórico de cada capítulo.