Dedico estas mal traçadas linhas
aos meus mestres da fotografia e às pessoas que cada vez mais se
esmeram em desvendar a caixa preta…
Vocês já perceberam como baseamos todas as atitudes dentro de um relacionamento pensando na reação do outro? (Coisa mais estranha do mundo?!)
Vou fazer tal coisa (input) porque daí fulano vai reagir assim (output)
Acreditamos o tempo todo que faremos tal coisa e obteremos tal resposta, como se fosse um conceito automatizado.
Ele/Ela (ou quem quer que seja na sociedade moderna) te dá uma florzinha = você sorri.
Ele/Ela (ou quem quer que seja na sociedade moderna) faz X = você responde Y.
Quantos milhões de vezes eu já ouvi amigas minhas falando: “ai, vou dar um gelo nele pra ver se ele corre atrás” ou “ai, não vou ligar, porque não quero parecer fácil, eu ligo amanhã” ou “ah, mas e se eu mandar mensagem e ela ignorar?”
Aqui estou cometendo uma ousadia nível hard: pegando como caixa preta o mais complexo dos aparelhos, o ser humano, carregado de seus vícios, anseios, sentimentos e tudo mais, colocando dentro de uma interpretação que não se é habitual trabalhar.
Possível? Talvez… Adorei pensar no ser humano como uma possível caixinha de respostas prontas… tão clichê, tão usual! Tão socialmente aceito!
O conceito de caixa preta surge para definir algo do qual se desconhece o processo, porém sabe-se que se fizer tal coisa de tal jeito, obter-se-á a resposta que se espera.
Exemplo: eu aperto o botão e o microondas funciona e ao final do tempo meu arroz está quente.
O processo físico matemático quântico extra-terrestre que aconteceu para que o arroz esquentasse em 1 minuto, eu não sei. MAAAAS funciona.
Vamos engrossar um pouco esse caldo: E se eu desmontar meu microondas e, a partir dele, montar um rádio?
A maior parte dos autores trabalha com a fotografia, por ser mais fácil a explicação: A máquina fotográfica é uma caixa preta de onde se cria algo e se obtém respostas.
Poucos sabem todo processo que ocorre dentro da máquina fotográfica para que se registre a imagem; todos os cálculos físicos e matemáticos, toda a lógica inversa…
Porém não é necessário que se saiba todo esse processo para que a máquina funcione. É necessário que se saiba “apertar o botão” .
Mas, a criação fotográfica também depende muito de quem está por trás do APARELHO.
Tive outras pessoas na vida, tanto fotógrafos quanto amigos que curtem fotografia, que sempre falaram que a primeira foto se faz da observação. O que você quer dizer com aquilo? O que aquilo te diz?
A segunda parte é a dominação da caixa preta. Colocar o aparelho para trabalhar a seu favor, para fazer o que você quer e a foto ficar do seu jeito.
Se não fosse assim, Brassai, Bresson, Sebastião Salgado e entre tantos outros não conseguiriam captar a imagem da maneira que conseguem. ELES JOGAM com o aparelho e as ideias sem medo de errar. Porém, a beleza dessa teoria está em quando a caixa preta é aberta.
Quando se opta por abrir a caixa preta e explorar, trabalhar, entender o seu funcionamento, utilizar o que se tem dentro dela para criação de algo novo, melhor, inexplicável e incrível estamos então falando do USO CRIATIVO. ESTAMOS FALANDO DA ARTE.
A linha entre amor e arte é tênue
A proposta é que nem todo texto (seja imagem ou texto escrito), nem toda literatura, nem todo aparelho (qualquer que possa produzir informação! inclusive o livro pode ser considerado um aparelho), nem toda pessoa (qualquer) deve ter sua função fechada, limitada e/ou definida.
Sempre é possível que se faça algo de maneira diferente a partir de algo pré-existente.
Sempre será possível reabrir a caixa preta, por exemplo de Dom Casmurro, para pensar se a Capitu traiu ou não Bentinho.
Talvez seja por isso que acredito que todos os amores são caixas pretas diferentes…
Para esse texto, usei….
— Bruno Latour — Ciência em ação.
— Flusser — Texto da Pós (se alguém quiser empresto)
—Barthes—- Sempre o tempo todo <3—- dessa vez, um pouco da Câmara clara.