Precisamos falar sobre o estupro da Caska

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Não há dúvidas de que Berserk é uma obra renomada. Uma obra que vendeu mais de 40 milhões de volumes pelo mundo e sendo serializado desde 1989 que tem filme, anime, jogos, além de diversos outros produtos. Não dá pra negar o sucesso de Berserk.

O mangá começou a ser publicado pela Panini em meio-tanko, uma versão que é a metade do volume japonês e  foi republicada em uma versão de luxo que atualmente está no volume 13. E é sobre esse volume que vamos conversar.

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Atenção: A partir de agora irei revelar acontecimentos da trama, portanto se você ainda não leu o volume e tem interesse de ler, saiba que esse texto contém SPOILERS.

O que nos trouxe aqui

Griffith ofereceu todo o seu bando – o Bando do Falcão, para o sacrifício em troca de poder. Todo o bando recebe o “estigma”, uma marca, que os define para sempre como sacrifícios e que atrai e dá o aval para demônios atacarem. Assim, todo o bando que está em uma outra dimensão se vê rodeado de demônios e a matança começa.

Para quem não conhece a obra, Caska é uma integrante do Bando do Falcão (que é resumidamente um grupo de mercenários) e a única mulher da turma. Ela tem uma queda por Griffith, o líder, o homem que usou todos os seus companheiros para se tornar um ser poderoso.

Então temos a cena: o bando tentando sobreviver em um local que aparentemente não tem saída e está cheio de demônios. Todos estão chocados: uns pensam que estão tendo um pesadelo horrível, outros estão catatônicos e muitos já foram estraçalhados. É esse o cenário do início desse volume.

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Na imagem acima vemos a Caska e lendo o mangá você vai ver que ela tenta a todo custo salvar seus amigos, mas é tudo em vão. Ela está completamente abalada com isso e então Griffith “acorda”.

Depois de oferecer o bando em sacrifício, Griffith começa a se transformar no que seria um God Hand, um ser com grandes poderes. A transformação acaba e Griffith agora é Femt. Caska já estava em uma situação complicada, presa, nua, sendo estuprada por vários demônios. Então ela vê o que era Griffith e, não sei, talvez pensa que ele irá salvá-la, mas ele a estupra.

Infelizmente tem mais…

O negócio é que a cena é claramente um estupro, mas o autor tentou parecer que não fosse. Ela coloca a Caska de modo completamente exposto, inerte, sem qualquer chance de reação. Mas ela parece gostar do que está acontecendo.

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Vamos relembrar algumas coisas:

    1. Caska tem uma queda por Griffith.
    1. Ela está em um mundo desconhecido.
    1. Ela está cercada de demônios.
    1. Ela viu seus amigos sendo mortos.
    1. Ela foi estuprada por esses demônios.
  1. Ela está sangrando.

MAS, dizer que ela tem uma queda por Griffith não justifica criar uma cena em que ela geme enquanto é estuprada!!!!

Não há necessidade alguma dessa cena de estupro. A cena é usada claramente como estopim para Gutz, o personagem principal da obra, que já teve uma relação (e essa foi consensual) com Caska e que está assistindo enquanto ela é estuprada por um capítulo inteiro com ângulos diferentes. O objetivo era deixá-lo muito puto. Porque matar todos os seus amigos não era o suficiente. A única mulher da obra com um papel importante, precisava ser estuprada para acontecer a grande virada do mangá!

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Eu não quero julgar quem lê a obra com esse texto, até porque eu só li esse volume porque coleciono a obra. Você não precisa deixar de ler Berserk, se não quiser. Você só precisa entender que foi uma cena desnecessária e muito, muito errada! Precisa aceitar que Miura errou feio, errou rude. O autor quis transformar a cena em um hentai, um pornô, mas não se engane: foi um estupro! É isso que nós queremos dizer quando falamos sobre cultura do estupro. Por causa de cenas assim.

Caska deixou de ser uma personagem na obra. Ela, assim como Gutz, conseguem sair do inferno e sobrevivem. Mas ela fica completamente abalada. Para sempre. Ela nunca mais será a mesma, ela age como uma criança assustada pelo resto da obra que ainda não chegou ao fim.

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Ainda temos que conversar

Precisamos conversar sobre o estupro da Caska e de tantas outras personagens que têm seu corpo violado para ser a reviravolta de alguma obra. Não vejo porque criar personagens femininas fortes e determinadas para depois humilhá-lhas dessa forma.

Precisamos repensar o que escrevemos e o que consumimos. Precisamos entender a diferença entre diversão e influência. Precisamos ver que algumas coisas não são necessárias ou justificáveis dentro de uma obra. Precisamos parar de promover a cultura do estupro.