[Crítica] Como eu era antes de você – Filme

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Depois de meses de espera e muita emoção nos trailers, Como eu era antes de você chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira e trouxe mais uma vez à mesa a conhecida discussão sobre a dificuldade que é adaptar uma obra de literatura para as telonas sem dividir os fãs. Como romance, o filme escorrega pela sua simplicidade, eclodindo em um final emocionante do qual os espectadores ansiavam por ver desde os primeiros minutos de cena. Como adaptação, justamente por essas características, ele funciona um pouco melhor, porém deixando margem para conversas e recomendação da leitura do livro para se entender melhor do que realmente trata a obra.

Leia a resenha de Como eu Era Antes de Você

O plot da obra de Jojo Moyes esbarra em um chick-lit e, como tal, apresenta o desenvolvimento de um romance, mas acima dele, uma relação honesta e de entrega de ambas as partes. Will Traynor é um rapaz cheio de vida que ficou tetraplégico após sofrer um acidente. Após dois anos de tratamento quase sem resultados, ele descobre em sua nova cuidadora, Louisa Clark, uma garota curiosa sobre o mundo, porém presa em sua vidinha pacata e cheia de responsabilidades, um passarinho que tem asas, mas não vê a chave da gaiola. Por outro lado, Lou descobre em Will o maior desafio de sua vida: de início, a difícil convivência que não flui devido à arrogância do rapaz e, por fim, a missão e o comprometimento de ajudá-lo a se sentir vivo novamente, mesmo com a sua deficiência e limitações.

Opostos e apaixonados por viver intensamente, cada um à sua maneira, ambos acabam se envolvendo em um relacionamento que gera uma fidelidade, admiração e descoberta de novas sensações e coisas. É justamente nesse ponto da história que começa a surgir a interpretação do espectador, assim como aconteceu com o leitor. Entender a dinâmica dos dois personagens dependerá muito da sua própria visão sobre a vida, romances, relacionamentos, metas, objetivos e, por que não?, morte.

Todos esses elementos estão presentes no filme, porém de maneira bem subliminar, quase como se estivesse escondido e ao alcance da ponta dos dedos de quem quer ver isso. Isso funciona.

Quase a totalidade do longa é segurado pela interpretação e jogos de diálogo e ações entre Emilia Clarke (nossa queridinha Daenerys, da série Game of Thrones, que interpreta a protagonista Lou) e Sam Claflin (o Finnick da saga Jogos Vorazes, que encarna o complicado Will). As cenas funcionam, mas não muito. Embora a relação dos dois seja difícil – quem leu o livro bem sabe!, é somente nas últimas cenas que realmente é possível ver e sentir a grande interação dos dois personagens. Tudo isso somado com uma temática delicada, uma música linda, um cenário neutro e tocante e a angústia de já se saber o que vai acontecer, gerou um final realmente doce e marcante, exatamente como acontece no livro Como eu era antes de você.

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O humor é garantido nas cenas rápidas e de segundo plano onde Matthew Lewis (o inesquecível Neville Longbottom de Harry Potter) encarna o arrogante e chato Pat, namorado de Lou. Contudo, o filme deixa a desejar ao não trabalhar bem o enredo dos pais de Will, sr. Stephen Traynor (Charles Dance, vulgo Tywin Lannister de Game of Thrones) e da sra. Camilla Traynor (Janet McTeer, recentemente vista como Edith Prior na saga Divergente). Embora isso não pareça muito importante no filme, o casamento dos dois e o seu relacionamento tem um papel grandioso na continuação da história, Depois de Você.

Leia a resenha de Depois de Você

Stephen Peacocke (o Stéphanos da última adaptação de Hércules) garante a sua presença ao dar vida a Nathan, o enfermeiro de Will. Nathan é um personagem secundário que possui características bastante cativantes no livro e, no filme, é possível admirá-lo e se encantar por sua paciência, dedicação, maturidade e respeito para com os demais personagens.

Já no núcleo da família Clarke, destaca-se fluídas cenas de Emilia com Jenna Coleman, intérprete de Treena Clarke. São divertidas e demonstram bem a relação das duas irmãs. Samantha Spiro e Brendan Coyle trazem à vida a mãe e o pai de Lou, um casal que parece parado no tempo e garante emoções e confusões à la Clarke na sequência da história. Entender a família Clarke é importante para entender Lou e suas ações.

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Conclusão

“Como eu era antes de você” é um bom filme para se divertir com quem você quiser. Não existem cenas pesadas, violentas ou de conteúdo sexual. O filme é, em cenas, leve.

A dinâmica dos personagens parece evoluir conforme o tempo passa e nos grandes momentos a trilha sonora desempenha bem o seu papel. Assisti à versão legendada, portanto não posso opinar sobre a dublagem, contudo é delicioso ouvir o sotaque britânico presente nas falas. Por outro lado, as falas são simples e, em sua maioria, fracas.

Ao terminar de ver o filme, acredito que a discussão principal permaneça em segundo plano. Embora o livro seja um chick-lit para público alvo jovem-adulto, existem camadas de discussão filosófica de peso. Em minha opinião, o filme pesou mal essas discussões, sustentando um filme como romance. A mensagem está lá, mas você vai precisar, assim como Lou com Will, cavar e cavar e cavar até se cansar para encontrá-la. Ao fazê-lo, você poderá se apaixonar – ainda mais – por essa obra.

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