O País das Maravilhas é uma das utopias de infância mais encantadoras para mim (perdendo apenas para a Terra do Nunca). Com uma habilidade ímpar, Lewis Carroll construiu um universo repleto de ressonâncias metafóricas que mesmo hoje – mais de 150 anos após a publicação do livro – ainda pedem para ser repensadas, viradas ao avesso, revisitadas e reconstruídas. No centro de tudo paira a figura de Alice, tão essencial à obra quanto a pimenta é essencial à sopa.
“Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então.”
Alice – “louca” ou hiperimaginativa? Por qualquer ângulo que se olhe, não há como negar a influência da personagem em diversas obras. Se você leu/assistiu Harry Potter, certamente encontrou um pouco de Alice em Luna Lovegood. Você também vai encontrá-la no anime Pandora Hearts, no game Alice Madness Returns, na série de livros “O Lado mais Sombrio”. Indo um pouco mais longe, vemos Alice estampada em Neo (Matrix), que cai na toca do coelho que é a realidade. Ou mesmo em David Aames (Vanilla Sky), preso em um sonho lúcido que foi sua própria escolha. Para onde quer que se olhe, não é difícil enxergar Alice. A história de Alice é a metáfora da busca criativa e da auto-descoberta. Nesse caso, o País das Maravilhas entra tanto como um espaço seguro de criação como a criação em si. É uma incubadora de ideias criativas.

O mais bacana de Alice é que, para além de personagem, ela também pode ser encarada como um arquétipo – o da “mulher selvagem”. Em seu livro, a escritora e psicanalista Clarissa Pinkola Estés nos apresenta o arquétipo da mulher selvagem como aquele aspecto fundamentalmente intuitivo e criativo que reside em todas as mulheres. Em suas palavras:
“Como toda arte, ela é visceral, não cerebral. Ela sabe rastrear e correr, convocar e repelir. Ela sabe sentir, disfarçar e amar profundamente. Ela é intuitiva, típica e normativa. Ela é totalmente essencial à saúde mental e espiritual da mulher.”
Assim ocorre com Alice: em sua jornada no País das Maravilhas, ela intui a função de diversos objetos ou a resolução de problemas. É intensa em fazer amizades e inimizades e compreende seu papel criativo num mundo que repele qualquer traço de criatividade (Por exemplo, quando a Rainha de Copas pune seus soldados que estavam pintando de vermelho as rosas brancas).
É por isso que nas obras nascidas a partir do original de Lewis Carroll estamos, em geral, diante uma Alice redentora – aquela que irá salvar o País das Maravilhas. Como organismo criativo e provido de energia, é essa a sua função. Assim como é função da nossa “Alice interna” manter vivos os mecanismos produtivos e as reservas de energia dentro de nós. Ela serve para que nunca esqueçamos da pergunta da lagarta: “Quem é você?”



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