[Resenha] Deus não é Grande do Christopher Hitchens

3

Christopher Hitchens, prolífico jornalista e escritor, é juntamente com Sam Harris, Daniel Dennett e Richard Dawkins, considerado um dos quatro cavaleiros do ateísmo – pelo menos era, pois infelizmente perdemos essa ilustre figura no ano de 2011 devido a cancro do esófago, provavelmente devido a uma vida de grande consumo de bebidas alcoólicas e tabaco. É descrito como parte do movimento chamado de “novo ateísmo”, e é mais conhecido também por ser um grande admirador de personalidades como Thomas Paines, Thomas Jefferson e George Orwell, além de um crítico de figuras como Madre Teresa de Calcutá, Bill e Hillary Clinton e Heryn Kissinger.

O livro me chamou a atenção já pelo título ousado. E após ter lido “Deus, um delírio” de Richard Dawkins, um autor por qual já nutria uma certa estima, achei que seria uma boa ideia lê-lo em sequência. Maior não poderia ser minha surpresa ao ver que Hitchens consegue ser tão ácido quanto Dawkins, sem perder a polidez, a elegência, e no final de tudo nos presentear com uma maravilhosa obra de arte. Afinal de contas, com eu costumo dizer: como escritor, Richard Dawkins é um ótimo biólogo (não que ele não escreva bem, não me entendam mal. Mas ao meu ver, uma vez que o ofício de Christopher Hitchens é de fato a escrita, ele consegue ter muito mais ferramentas linguísticas para se fazer entender e colocar as coisas de uma maneira mais encantadora).

“É por termos evoluído de uma bactéria sem visão — que descobrimos partilhar nosso DNA — que somos tão míopes. E através dessa mesma ótica mal projetada, com direito a um ponto cego retiniano deliberadamente ‘projetado’, que antigos humanos alegaram ter ‘visto’ milagres ‘com seus próprios olhos’. Nesse caso o problema estava localizado em outro ponto do córtex, mas nunca podemos nos esquecer da conclusão de Charles Darwin de que mesmo o mais evoluído de nós continuará a carregar ‘a marca indelével de sua origem inferior’.” (Pág. 65)

Christopher Hitchens é um intelecual. Incisivo, ele derruba aqui todas as falácias das religiões e dos religiosos mais fanáticos. Aponta incongruências, se baseia em evidências científicas, históricas e lógicas, e racionalmente destrincha o fenômeno religioso que assombra – sim, assombra – na maioria das vezes, nossa forma de viver socialmente. Mas a crítica de Hichens não é gratuita. Uma vez que este reconhece – e nos explica porquê – considera a religião como perniciosa, sendo ainda uma forma de “abuso infantil” – que ele irá também explicar o porquê –, este se resume a atacar esse empreendimento humano que é a religião no que concerne aos males que pode fazer; ele nunca ataca por atacar.

Hitchens traz aqui muitas ideias e argumentos de filósofos e pensadores famosos. Demonstra sua bagagem cultural, filosófica e intelectual riquíssima, mostrando-se um homem de referências, que lê e se atualiza bastante. Põe também em xeque a idoneidade de muitas personas históricas, como por exemplo da própria Madre Teresa de Calcutá.

“Deus não é grande” é um livro que vale muito a pena ler. Claro, objetivo e acessível para todos, eu indico esse livro não só para ateus, agnósticos e/ou céticos em geral, mas também para os amigos religiosos. Porque não? Afinal de contas, como você pode se afirmar tão convicto em uma opinião, sem sequer ouvir os argumentos contrários?

Hitchens ainda nos chama a atenção para estudarmos as condições historico-culturais que possibilitaram o surgimento de determinadas religiões para compreendê-las melhor, uma vez que como empreendimento humano, não emergiu do nada mas atrelado a um dado contexto histórico.

“Um antigo ditado popular de Chicago afirma que se você quiser manter seu respeito pelos vereadores da cidade ou seu apetite por salsichas, tome o cuidado de não estar presente quando os primeiros são preparados ou os segundos são feitos. É a anatomia do homem, diz Engels, a chave para a anatomia do macaco. Assim, se observamos o processo de formação de uma religião, podemos fazer algumas suposições sobre as origens daquelas religiões que foram produzidas antes que a maioria das pessoas soubesse ler. De uma ampla seleção de religiões-salsicha abertamente fabricadas, vou escolher o “culto ao carregamento” melanésio, o astro pentecostal Marjoe e a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como mórmons.” (Pág. 115)

NOTA:

05-selos-cabulosos

Ficou interessado(a)? Então compre o livro nos links abaixo:

Submarino
Amazon
Amazon Ebook

deus não é grande capaAutor: Christopher Hitchens
Origem:
Estrangeira
Título original: God Is Not Great: How Religion Poisons Everything
Edição:
Editora:
 Ediouro
Ano: 2007
Páginas: 285
Sinopse: “Deus não criou o homem à sua imagem. Evidentemente foi o contrário, e essa é a explicação indolor para a profusão de deuses e religiões e o fratricídio e religiões e no interior dela que vemos ao nosso redor e que tanto tem adiado o desenvolvimento da civilização.” A partir dessa ideia explosiva, o jornalista e escritor Christopher Hitchens ataca os alicerces de um dos mais importantes princípios da civilização ocidental: a religião.

Em um mundo rachado por fundamentalismos, Hitchens aponta uma metralhadora de argumentos racionais contra qualquer forma de reverenciar um ser supremo. Para ele, nenhuma das tradições religiosas, ocidentais ou não, justifica sua razão de ser diante da complexidade da sociedade contemporânea. Na tradição dos polemistas britânicos, não abre mão de fina ironia em seus argumentos: se Jesus podia curar um cego, por que não a cegueira?

“Deus Não É Grande” mostra por que nenhuma religião oferece uma resposta satisfatória às questões mais fundamentais da existência, cujos dilemas morais e éticos, afirma Hitchens, estariam bem mais representados em Shakespeare, Dostoievski e Tolstoi do que em qualquer escritura que se diga “sagrada”.

O questionamento da fé é, para o autor, a base de todos os questionamentos. E é dessa forma que 23″Deus Não É Grande” conclama todos a um novo Iluminismo. Uma nova era baseada na proposta de que a verdadeira preocupação da humanidade deve ser o homem.

Skoob