[Resenha] Entre o Mundo e Eu de Ta-Nehisi Coates

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Apesar do nome egípcio, Coates é americano e vive em Nova York. Entre o mundo e eu é uma carta ao seu filho Samori de 15 anos, contando como é ser negro na América.

A primeira coisa que me dei conta ao começar a leitura dos acontecimentos que marcaram a vida de Coates como um negro e como ele explica o racismo nos EUA foi que é muito parecido com o que vemos no Brasil. Coates diz que o corpo negro é flagelado e esmagado pelo Sonho, o famoso “American Dream” que prega a igualdade de oportunidades e liberdade, mas isso sendo construído em cima de corpos que muitos preferem ignorar. O corpo negro é mais frágil e pode ser quebrado com muito mais facilidade que um corpo branco, por isso Coates diz que sempre sentiu medo. Quando andava na rua sempre estava em alerta e tinha o cuidado de andar certo, falar certo e agir sem movimentos bruscos. Seus pais sempre foram duros com ele porque é como diziam: Ou eu bato nele, ou bate a polícia.

E como podemos dizer que isso é diferente em nosso país? Eu sou branca e não conheço a realidade do negro. Seria muita ousadia até dizer que imagino como deve ser. Nunca fui barrada por um policial, nunca fui revistada, tenho o costume de sair de casa sem identidade e o negro que preza pelo seu corpo não pode fazer o mesmo. A morte de um negro é facilmente esquecida, facilmente explicada.

“Ainda assim, a alegação influenciou o júri, e o matador foi condenado não pelo assassinato do menino, mas por ter atirado repetidamente quando os amigos do menino fugiam. Destruir o corpo negro era permitido – mas melhor seria fazê-lo com eficiência” – Pág. 114

Ele não aponta a culpa como sendo de um lado ou de outro. Não é da polícia. O policial faz parte da sociedade. O policial mata o negro com muito mais facilidade porque a sociedade permite que ele o faça. Muitas vezes Coates diz “na América”, e “o negro americano”, mas é muito fácil situar o livro na nossa realidade no Brasil.

“A polícia é um reflexo da América em toda a sua vontade e determinação e em todo o seu medo (…). Os abusos que se seguiram a essas políticas – o estado carcerário em expansão, a detenção aleatória de pessoas negras, a tortura de suspeitos – são produtos de uma vontade democrática.” – Pág. 84

O alerta que Coates dá para seu filho em forma de carta/livro serve para todos nós: brancos e negros. Os negros podem aprender mais da sociedade negra norte-americana e refletir sobre a luta que passam e os brancos… bom os brancos podem ajudar nessa luta também. Acredito que somente não sendo racista não é suficiente, você precisa combater o racismo. Bradar quando ouve uma piada e comentário racista, interferir quando vê um ato de racismo. A nossa dívida com o povo negro é grande e quem não percebe isso é porque não quer, porque não exerce algo que todos deveriam: a empatia.

É difícil escrever uma resenha sobre um livro que fala sobre o racismo sendo branca. Tive receio de fazê-lo e falar algo que não deveria, ofender quem já está cansado de ofensas. Todos nós já fomos racistas. Eu já fui racista em algum comentário com toda a certeza. A grande expectativa é que estejamos todos em reconstrução e que cada dia seja um novo aprendizado sobre como ser mais humano. Com certeza Entre o mundo e eu irá ajudá-lo com isso.

“Lá fora os negros não controlavam nada, que dirá o destino de seus corpos, que podiam ser requisitados pela polícia; que podiam ser apagados pelas armas, tão pródigas; que podiam ser estuprados, espancados, encarcerados. Mas nos clubes(…), no encantamento das meia-luzes, sob o domínio do hip-hop, eu os sentia no controle total de cada passo, cada aceno, cada giro. – Pág. 68”

NOTA:

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Submarino

9788539007202_300_graficaAutor: Ta-Nehisi Coates
Origem:
Estrangeira
Título original: Between the World and Me
Edição:
Editora:
 Objetiva
Ano: 2015
Páginas: 150
Sinopse: Uma corajosa investigação da história racial e seus ecos contemporâneos. Primeiro lugar na lista dos mais vendidos do New York Times.

Ta-Nehisi Coates é um jornalista americano que trabalha com a questão racial em seu país desde que escolheu sua profissão. Filho de militantes do movimento negro, Coates sempre se questionou sobre o lugar que é relegado ao negro na sociedade. Em 2014, quando o racismo voltou a ser debatido com força nos Estados Unidos, Coates escreveu uma carta ao filho adolescente e compartilha, por meio de uma série de experiências reveladoras, seu despertar para a verdade em relação a seu lugar no mundo e uma série de questionamentos sobre o que é ser negro na América.

O que é habitar um corpo negro e encontrar uma maneira de viver dentro dele? Como podemos avaliar de forma honesta a história e, ao mesmo tempo, nos libertar do fardo que ela representa?

Em um trabalho profundo que articula grandes questões da história com as preocupações mais íntimas de um pai por um filho, Entre o mundo e eu apresenta uma nova e poderosa forma de compreender o racismo. Um livro universal sobre como a mácula da escravidão ainda está presente nas sociedades em diferentes roupagens e modos de segregação.

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