Vamos falar sobre videogames. Uma mídia que surgiu como um entretenimento casual, mas que evoluiu para se tornar uma forma interativa de se contar histórias. Os videogames de última geração têm promovido verdadeiros épicos. Quem já jogou Mass Effect, Bioshock, Final Fantasy, ou Assassin’s Creed, sabe do que eu estou falando. Não é à toa que adaptações literárias de videogames estão brotando nas prateleiras de livrarias, alguma inclusive, figurando na lista dos mais vendidos.
Na Vida Real não é uma adaptação de um videogame, mas uma história que se passa dentro de um. Algo que já havíamos visto antes, na light novel japonesa Sword Art Online e no excelente romance Jogador N° 1. Nela conhecemos Anda, uma garota nerd que gosta de games e de RPGs e que está tendo problemas para se adaptar a mudança para uma nova cidade. No dia de seu aniversário, Anda conhece na escola uma mulher chamada Lisa (que na minha cabeça era a Flavia Gasi) que convida as meninas de sua turma a participarem de sua guilda em um MMORPG (Massively Multiplayer Online Role-Playing Game, um jogo de RPG online para grandes quantidades de jogadores).
“Então essa é uma história sobre como o videogame ajudou essa garota a superar seus problemas de autoestima? ” pergunta o leitor dessa resenha, e eu respondo: não. Na Vida Real, também fala sobre essas coisas, mas seu foco é falar sobre economia.
O.o
“Economia? Pensei que estávamos falando sobre games”. Sim, pois, enquanto está imersa em sua fantasia escapista, Anda se depara com a dura realidade dos Gold Farmers, que são trabalhadores semiescravos orientais, que são forçados a entrarem nos MMORPG, para acumular gold (a moeda interna do jogo) e vender na internet por dinheiro real. É esse o ponto que torna NVR diferente dos outros exemplos que eu dei, não se trata uma ficção científica diatópica futurista, mas de uma história contemporânea, que fala sobre problemas reais da nossa sociedade, problemas que poucas pessoas não gamers já ouviram falar.
Com relação ao roteiro, NVR é uma leitura rápida e redonda, que não deixa pontas soltas e gera reflexão. Eu tenho minhas ressalvas com relação a como um leitor que não esteja familiarizado com certos conceitos dos MMORPGs possa reagir a leitura, já que em alguns momentos a própria protagonista precisa recorrer ao google para entender o que está acontecendo, e nessas horas eu aconselho o leitor a fazer o mesmo. Outro problema é com relação ao vocabulário gamer, algo que está sempre mudando e se renovando e que pode não ser muito amigável para os noobs.
A arte de Jen Wang é lindíssima. Simples e cartunesca, que em certos momentos mais lembra as de um livro ilustrado do que uma história em quadrinhos. Eu, com certeza, vou ficar de olho em futuros trabalhos dela.
Deixo uma ressalva com relação a revisão de edição nacional da HQ, que deixou passar vários erros no texto, principalmente na introdução.
Então, fica aqui minha recomendação, principalmente para os gamers, RPGistas e nerds de todos os gêneros.
NOTA:
Ficou interessado (a)? Então compre o livro nos links abaixo:
Autores: Cory Doctorow e Jen Wang
Origem: Estrangeira
Título original: In real life
Tradução: Flávia Gasi e Felipe Della Corte
Edição: 1ª
Editora: Jupati Books
Ano: 2015
Páginas: 192
Skoob