Fala Galera!
A coluna “Tirando da Letra” de hoje quer falar mais do que só das letras de música, mas de músicas como um todo. O que eu vou tentar explicar nesse texto é algo que eu mesmo já tive problemas de seguir em outras épocas, e às vezes tenho dificuldades ainda hoje em dia.
Como lidar com o preconceito musical, não só os seus mas os dos outros também?
É importante para ilustrar essa discussão dizer que hoje tenho quase quarenta anos (é, a coluna a esse respeito está se aproximando) e estava no auge da minha adolescência teimosa quando o Guns N’ Roses apareceu. É evidente que, como todos os meus amigos, colegas, conhecidos e desconhecidos na mesma faixa etária, proclamei do auge da minha “sabedoria” que Slash era o melhor guitarrista do mundo e que Guns era a melhor coisa que já tinha acontecido na música desde os Stones (é sempre fui Team Stones sobre Team Beatles a compreensão do que está acontecendo demora e só me alcançou recentemente – hoje sou #TeamBeatles). Os dias se passaram e de repente tropecei naquele que já foi intitulado Deus pelos seus fãs: Eric Clapton. E então o Slash virou o melhor guitarrista do rock, por que no Blues o Clapton era o melhor guitarrista!
E isso levou a pergunta seguinte: – O que é melhor: Rock ou Blues?
Desnecessário dizer que o Slash não é o melhor guitarrista do mundo, nem do rock e tampouco seria o Clapton por mais certo que eu estivesse naquele tempo. Depois disso conheci B.B.King, Paco de Lucia, Vernon Reid, Nuno Bittencourt, Andreas Kisser, David Gilmour… e cada um tem o seu valor e sua proposta. E se hoje eu tivesse que decidir, qual seria minha resposta?
Tem mesmo que escolher?
É claro que chegar em uma roda de amigos e defender Pink Floyd, Led Zeppelin e Rush é fácil. Mas só ouvir isso é limitante e você pode perder coisas muito interessantes. O que eu defendo é que tem músicas que conversam comigo e outras não. Tem estilos que musicalmente são considerados pobres, historicamente eu detonava o Mamonas Assassinas por terem gravado um disco inteiro que tem basicamente 4 notas tocadas na mesma sequência. hoje tenho grande admiração pois apesar disso cada música soa única, tinha uma proposta clara e uma identidade. Isso é muito mais que muita gente com “carreiras sérias” estão fazendo por aí. Se fosse por qualificação técnica, eu teria que desconsiderar 90% da obra dos Ramones, que desde sempre é uma das minhas bandas favoritas.
Por esse motivo eu tenho um pouco de problema com o termo Guilty Pleasure, que nunca encontrou uma tradução realmente eficiente. Hoje, eu acredito que não temos que ter “vergonha de nenhuma música que realmente converse conosco. O desejo de escrever essa coluna apareceu por dois exemplos recentes que passei: A primeira é uma música, que acredito ser classificada como sertanejo universitário, chamada “Domigo de Manhã” da dupla Marcos & Belutti. Conheci no casamento de um primo muito querido onde ele cantou essa música para a esposa dele. É tão a cara deles que é impossível não se apaixonar pela música, pela proposta dela e pela nostalgia que ela causa. É impossível ouvir a música e não me sentir perto dos dois apesar da distância que nos separa, e isso é ótimo!
Um segundo exemplo, ainda mais recente, é o álbum da atriz, escritora, cantora e global Sophia Abrahão. Por coincidência (e acabei de descobrir isso na pesquisa para essa coluna), o produtor do álbum acústico do Marcos & Belluti é o mesmo produtor do álbum autointitulado da Sophia Abrahão. O álbum todo é muito bom com várias músicas excelentes. Se a Domenica daqui da família cabulosa acabou se encantando com “Se Vira”, música que abre o álbum, eu pessoalmente escolhi “Valeu Demais” e minha filha prefere “Besteira”. O primeiro single, e clipe, é “Náufrago” e nenhuma delas dá para dizer que não é defensável.
Por isso tudo, desejo à Sophia que tenha uma carreira espetacular como intérprete e que se aventure como compositora, se assim desejar. Se saiu muito bem na estreia, independente do que se diga na internet – que nesse caso não tenho acompanhado, mas tipicamente se comporta assim…
Uma quantidade enorme de fãs se aglomeram em torno da cantora e de sua parceira nas letras Carolina Munhóz para defendê-las, um outro grupo de tamanho semelhante se aglomera para desmerecer o trabalho das artistas que são muito presentes online, frequentemente sem nem conhecer o trabalho. Saiba que você não precisa acreditar em um grupo ou outro, mas pode ir conhecer a obra e decidir por você mesmo. Vou além: você pode defender o o que quiser, e cada um pode ter uma opinião completamente diferente sobre a obra.
Para fechar os exemplos eu queria trazer uma das duplas mais injustiçadas da história recente da música, apesar do sucesso constante em toda a sua carreira. Tente defender o trabalho de Sandy & Junior em algum lugar que não seja uma reunião do fã clube e você vai entender o que eu quero dizer! E ainda assim eu já o fiz várias vezes, gosto muito do trabalho e, se não sou público alvo do seu trabalho infantil, muito do trabalho juvenil e adulto de ambos conversam diretamente comigo.
No caso do Júnior, desde muito cedo me incomodou a decisão, aparentemente comercial, de manter ele como figura de frente com um violão (instrumento que não parece ser o dele). Isso era reforçado por que ele sempre dava um jeito de encaixar em shows uma ou duas músicas na bateria e esse era o momento de brilhar como um exímio instrumentista. Acabou ocupando a posição em alguns outro projetos após o fim da dupla, se minha memória não me falta, com sucesso. Sandy sempre se saiu bem na posição de cantora e manteve isso na sua carreira solo. O DVD de making off que acompanhou a edição especial do disco “Manuscrito” mostra alguém lutando para fazer seu próprio caminho e fugindo do óbvio e isso se reflete em um excelente disco produzido por Junior, seu irmão, e Lucas Lima, marido, com obras autorais e tempo no processo de composição. Apesar de gostar muito desse disco, minha maior identificação é com a faixa “Aquela dos 30”. Acredito que essa faixa é marcante não só para quem está na idade, mas para qualquer um que decida envelhecer de maneira menos convencional. Desde a primeira audição essa música capturou minha atenção e sempre será uma das minhas favoritas.
Calma aí que tem mais!!!
O melhor de tudo é que eu pude conhecer essas obras todas (e muitas outras obras( controversas ou “impopulares” de alguma maneira, sem abrir mão de ouvir todos os medalhões e unanimidades que existem por aí. Sabe o bordão que eu costumo usar aqui dizendo “Leia muito, leia sempre, leia tudo“? Então, um novo poderia ser “Vamos falar menos e ouvir mais“? Eles também se aplicam nesse caso!
Minha opinião é muito simples: Se preocupe em conhecer o máximo possível, afinal você não sabe de onde virá sua próxima inspiração, sua próxima ideia, seu próximo sonho. Não fale mal da música do amigo, dá uma olhada nela que pode ser interessante.
E por hoje é só!
Se você tem alguma música que gostaria de defender e que gostaria que todos conhecessem, nos conte aí embaixo. E defenda ela, acredite nela… se ela é importante para você, ela é importante!
Abraços,
Rodrigo Fernandes