[Coluna] O tênis como uma filosofia

0

Da série “passagem aleatória de livro em concepção”, em homenagem ao Australian Open, segue o trecho:

Uma das coisas mais deliciosas já experimentadas pelo sons dos meus ouvidos são os produzidos pelas acrobacias dos tenistas refletidas nos seus tênis.

Aqueles grunhidos são a utopia do esporte: a do movimento perfeito.

É onde o tenista parece um dançarino, mágico na concepção do golpe, calculista no efeito do spin.

 

Nunca gostei dos gritos.

É o oposto dos barulhos dos sapatos.

Ali já se concentra o esforço a mais, quase desnecessário, o qual os grandes tenistas não devem possuir.

Os gênios não se esforçam.

 

Produzem.

São elegantes.

E qual esporte é mais elegante que o tênis?

É a modalidade que carrega o espírito estratégico de um jogo de xadrez, o preparo físico de uma corrida de 100 metros, o equilíbrio de um ginasta e a força braçal de um atleta da canoagem.

 

O esporte perfeito.

Mas poucos conseguem unir com sabedoria todas essas facetas.

Alguns colegas que nunca leram mais do que autoajuda na vida enxergam A Arte da Guerra, do Sun-Tzu , como um livro perfeito para lidar com o mundo dos negócios.

Eu assisto a tênis.

 

É o único esporte que você observa em tempo real uma batalha de mentes e corpos, ao mesmo tempo.

Onde é evidenciado o exato momento em que o cérebro tenta encontrar soluções palpáveis para você mudar o jogo, sair da zona de conforto e evitar a derrota.

Seu oponente acertou os dois últimos contrataques de forehand no seu contrapé. É o último ponto do game, você devolve o saque, mas: continua correndo para se defender do outro lado ou espera a bola na posição que você suspeita que ele irá lançar para atacá-la?

É tudo uma questão de intercepção e previsão de jogada.

Leitura.

A mesma ideia quando é você no ataque.

 

Você precisa jogar na posição que seu adversário está mais desconfortável.

 

Ele não está confiante no backhand?

 

Troque bolas na esquerda.

 

Tire ele da quadra com o saque aberto e finalize em seguida.

 

Nunca, isso mesmo, nunca deixe de bater na bola ou sinta pena de quem está do outro lado.

 

Ele apenas está esperando uma chance para retomar confiança e lhe trucidar.

Pessoas são assim.

O mundo da publicidade é assim.

As agências trabalham com essas regras o tempo todo, mas preferem ler sobre isso do que assistir ao vivo por três ou quatro horas intensas.

DFW cita durante um texto sobre o esporte o momento em que o comentarista John McEnroe pergunta: “como se acerta uma bola vencedora dessa posição?”.

É o que tentamos fazer todos os dias.

 

Sobrevive quem erra menos e possui mais momentum.