Está aí, Satã? Sou eu, Madison. Acabei de chegar aqui, no Inferno, mas não é minha culpa, exceto talvez por ter morrido de overdose de maconha. Talvez esteja no Inferno porque sou gorda – uma verdadeira leitoa. Se é possível ser mandado ao Inferno por ter baixa autoestima, é por isso que estou aqui.
É assim que Chuck Palahniuk nos introduz no universo de Condenada, o primeiro livro de uma trilogia inteligentemente nomeada de “A Divina Comédia”. A protagonista: Madison “Maddy” Spencer, 13 anos, filha de uma estrela de cinema e de um bilionário – ambos bastante excêntricos. Causa da morte: overdose de maconha.

Hoje, em comemoração ao aniversário do querido Chuck Palahniuk, escolhi trazer para vocês algo fora do conhecido círculo de O Clube da Luta – embora Marla Singer seja uma personagem marcante, sobre a qual ainda pretendo falar por aqui. No entanto, decidi optar por Condenada – que, ao mesmo tempo em que destoa do estilo visceral e realista de Palahniuk, ainda consegue nos trazer personagens humanizados e questões existencialistas. Tudo salpicado por generosas doses de humor e ambientando em um Inferno burtonesco: O Rio de Saliva Quente, o Lago de Vômito, o Pântano dos Abortos Semiformados, o Mar dos Insetos, entre outros lugares, me recordaram o filme Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice).

Madison é uma adolescente em formação, com traumas que ela claramente consegue identificar, embora seja incapaz de resolver. O estereótipo da “garota-gordinha-inteligente” está ali, pairando sobre Maddy, mas a ele se acrescenta uma acidez crua. Talvez um dos pontos-chave de Condenada seja sua rápida adaptação ao Inferno. Mais do que apenas aceitar a estranheza do lugar, ela se sente em casa.
Nossa heroína não busca redenção. Não tem o menor interesse em sair do Inferno (pelo menos, não muito). Maddy já aceitou que tem bons motivos para estar lá (assim como 99% da população tem, é sério, leia o livro e descubra em qual pecado você melhor se encaixa). A saga de Madison no Inferno e para chamar a atenção de Satã. É isso aí, meus queridos: o maior desejo de Maddy é bater um papo com o próprio Diabo. Porque não há nada mais interessante para fazer por ali. E porque ela precisa desesperadamente de atenção.
Sim, você pode estar vivo e ser gay, ou velho ou mexicano, e mandar essa pra cima de mim, mas considere que tive de fato a experiência de acordar no meu primeiro dia no Inferno, e vai ter de aceitar minha palavra sobre o que ele é.

Maddy é fruto do meio. Então, por favor, não se ofenda com algumas coisas que ela faz ou diz. Estamos diante de uma menina de treze anos criada por pais ausentes dentro de uma educação falsamente liberal, que pouco a preparou para entender sobre suas próprias emoções – quiçá sobre as emoções alheias. E embora tudo seja dito de formal casual e divertida, há uma crítica séria nas entrelinhas. Não apenas ao nosso atual modelo de sociedade, tão desprovido de raízes e referências mas – em uma esfera mais específica, à maneira como criamos nossas meninas. Se uma experiência de sufocamento e quase morte é o ápice da felicidade para uma adolescente, há algo muito errado acontecendo.
A leitura de Condenada vale pela diversão e pela reflexão. Enquanto derrota Hitler e marcha com seu exército ao encontro de Satã, Maddy nos faz refletir sobre os pequenos atos que são verdadeiramente condenáveis e os milagres que mal percebemos ao nosso redor. Sobre pressões sociais, os limites da ansiedade e suas consequências – principalmente para jovens em formação e, bem… Que, na dúvida, é melhor lavar as mãos sempre que usar o banheiro.
“Além do seu corpo, seus sonhos têm de morrer. Depois suas expectativas. E sua raiva em investir a vida toda em aprender merda e amar pessoas e juntar dinheiro, só para toda essa merda acabar em praticamente nada.”


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