James Joyce é um destes autores estranhos, porém, atemporais, eternos. É aquele homem que permanece marcado em seu país como uma espécie de sétimo selo de seu país. Uma bela porta de entrada para a Irlanda, diga-se de passagem. Sei que isso parece até algo muito simples, mas, ao final deste texto, talvez possamos compreender o quão majestoso é o ar que este autor, por meio da literatura, faz respirar.

Joyce nasceu em 02 de fevereiro de 1882 e faleceu em 13 de janeiro de 1941, um dia antes da data do meu aniversário. Autor do livro que por vezes é considerado um dos mais difíceis da literatura, Ulisses, Joyce foi rejeitado muitas vezes por editoras. Talvez também por isso, me faça pensar no que acabei de falar: o escritor como porta de entrada de seu país. E se ele divide, junto com uma gama de personalidades, a leitura das potências de Dublin, é a sua complexidade que o destaca no panteão de artistas desse país. Sem nunca deixar de apontar para o problema político do país, o conflito com os ingleses e a divisão entre protestantes e católicos, o imaginário do homem esguio desafia os linguistas de toda parte. Joyce é o único escritor a ter um de seus personagens como inspiração para uma data comemorativa: o Bloomsday, em referência ao personagem Leonard Bloom, de Ulisses. A data, comemora justamente o dia 16 de junho de 1904, localização etérea desse homem no famoso calhamaço de Joyce. Para muitos, como alguns amigos meus, J.J. (gosto de chamá-lo assim) é um dos autores mais chatos do mundo. E precisamos discordar veementemente disso.

Na recente história da Irlanda no século XX (e de Dublin), observamos grandes nomes questionadores, pessoas nos remetem ao heroísmo de cada país, o heroísmo de cada homem e de cada cidade. Para quem não conhece ou conhece pouco a história do Rock, recomendo altamente que escute a música do Thin Lizzy, banda do grande vocalista Phil Lynott, gênio viciado em heroína, filho de irlandesa com brasileiro, homem que viu muito e que sucumbiu às forças aterradoras que só a arte expressa. E aí é que Joyce não me sai da mente. Joyce, este filho da Irlanda, testemunha do herói, o Stephen Hero que se tornou Stephen Dedalus em O Retrato do Artista como Jovem, figura que retorna brilhantemente em Ulisses.

É exatamente este ser universal que a literatura frequentemente busca. Seja Lynott, o rockstar bêbado (e clone do Tiririca), filho de brasileiros e equilibrista (como Elis Regina) ou o artista que aflora no Retrato, todos eles tem no sangue o heroísmo do qual não podemos parar de falar, o herói que Freud diz todo homem é em seus sonhos. Quem descreveu tão belamente os fios dos postes vistos da cabine de um trem, linhas que daquele ponto de vista, não se diferenciavam em nada de uma partitura musical? Joyce, absolutamente, Joyce.
E se você pensa que Ulisses é um livro extremamente difícil, a pintura de um único dia constantemente incompreensível e inútil que se lê em uma semana (eu já ouvi isso de alguém!), é preciso que busque na filosofia de Gilles Deleuze algum alento.

Segundo este pensador francês, a obra de Joyce é a obra da diferença e da repetição, pois, de um modo geral, livros gigantescos como Finnegans Wake expressam uma peculiar paixão entre o caos e o cosmos:
Joyce apresenta o vicus of recirculation como aquilo que faz girar um caosmos; e Nietzsche já dizia que o caos e o eterno retorno não eram duas coisas distintas, mas uma mesma afirmação. O mundo não é finito, nem infinito, como na representação: ele é acabado e ilimitado.
Por isso, meus amigos, faço que questão de deixar claro que Joyce não é um autor fácil, muito menos difícil. Joyce é o canto “tralalá traladona” artista quando jovem, assim como o diabo e todos os seus neologismos que enroscam as partes da existência umas nas outras. Joyce é uma Música de Câmara, é um acoplar-desacoplar de palavras, que é, enfim, nada mais que o mundo, nu e cru mundo.

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