[Coluna] Bowie, o mais versátil artista

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Fala Galera!

Hoje é dia de Bowie, o camaleão do rock e todas as suas personas que eu conseguir mencionar nesse texto.

 

No fim…

Por motivos mBowieEnduito tristes, a coluna Tirando da Letra de hoje não podia ser sobre outro assunto que não esse. David Bowie foi um dos maiores heróis da minha juventude. Caso você, como ele, tenha vindo de outro planeta e ainda não saiba – Bowie está morto. Após uma luta discreta, e que nós sabemos agora heróica, David Bowie nos deixou no dia 11 de Janeiro de 2016, dois dias depois de seu aniversário de 69 anos e do lançamento de sua obra final Blackstar. Essa é uma foto do dia do lançamento, uma das últimas tiradas do artista.

Se você como muitos outros não conhecia muito bem o artista, saiba que eu não tenho o menor problema com isso, e acredito que ninguém deveria ter.

Seja bem vindo à jornada para pegar sua carteirinha e  se tornar um novo fã (a maior parte das pessoas o faz)! Aqui pretendo dividir lembranças, predileções e dicas para quem está entrando agora na apreciação desse artista único.

No início…

Para evitar confusões com o homônimo David Jone do Monkees, David adotou o nome Bowie de uma marca de facas. A senha para que uma lenda se formasse com relação ao seu olho esquerdo e como ele teria sido perdido para uma faca Bowie.

Com uma carreira iniciada em 1962, o cantor nascido em 1947 teve pouca exposição em seu início. O primeiro grande momento de sua carreira pelo que sei foi o lançamento de Space Oddity como um single em Julho de 69, enquanto o homem pousava na Lua. A música foi incluída na cobertura do evento realizada pela BBC junto com uma música inédita do Pink Floyd, entre outras.

“Though I’m past one hundred thousand miles / I’m feeling very still / And I think my spaceship knows which way to go / Tell my wife I love her very much, she knows / Ground Control to Major Tom / Your circuit’s dead, there’s something wrong / Can you hear me, Major Tom?”

Space Oddity

Ainda nessa época, um dos meus álbuns favoritos, Hunky Dory foi lançado. Músicas especiais como Changes e Life on Mars saíram desse disco para permanecerem presentes por toda a carreira do cantor.

“Take a look at the Lawman / Beating up the wrong guy / Oh man! Wonder if he’ll ever know / He’s in the best selling show / Is there life on Mars?”

Life on Mars

Então as aranhas…

Criando a persona de Ziggy Stardust, reunião a banda Spiders from Mars (Aranhas de Marte), ele cometeu o que deve ser o melhor disco de sua carreira. O disco Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars composto como se pelo fictíico Rockstar Ziggy Stardust traz vários clássicos. Ziggy seria um alienígena rockstar bisssexual, o que rende muitas histórias para o compositor criar e cantar.

 

“Ziggy played guitar, jamming good with Wierd and Gilly, / And The Spiders from Mars. / He played it left hand, but made it too far, / Became the special man, / Then we were Ziggy’s Band.”

Ziggy Stardust

Se seguiu a esse álbum Alladin Sane e Pin Ups, sendo esse um álbum só de covers muito antes disso ser tendência. Ressalto See Emily Play do Pink Floyd, mas todas as versões são boas.  Se seguindo a essas duas obras, temos um outro álbum que eu gosto muito, e com um significado especial para nós leitores. O álbum Diamond Dogs traz, além das clássicas faixa título e Rebel, Rebel, as faixas 1984 e Big Brother. Como vocês podem imaginar o álbum é, em parte, inspirado na obra de Orwell e algumas músicas foram compostas para uma montagem, nunca realizada, da obra. Nesse disco, o personagem Halloween Jack foi criado, mas sem muita distância entre ele e seu predecessor.

Voltando às raízes…

Para um retorno ao início trazendo um som mais calcado no Soul e R&B, Bowie começou a trazer convidados de peso como Luther Vandross para as gravações. Mas, para dar forma ao Plastic Soul, como ele se referia para definir o álbum, certamente o ponto alto é sua parceria com John Lennon em Fame e no cover dos Beatles Across the Universe.

Chegando o Duke…

Com a criação daquele que deve ser seu último personagem clássico, ainda que outros ainda irão surgir ao longo da sua carreira, Bowie nos trás o Thin White Duke. Esse álbum é considerado um álbum de transição navegando das raízes do músico na música mais tradicional americana até a música eletrônica.

E então Berlim…

A famosa trilogia de Berlim chega em 1976 durando até 1979.  Os álbuns Low, Heroes e Lodger são mais herméticos e fechados. Produzido por um de seus mais relevantes parceiros Brian Eno e contando com Robert Fripp na guitarra, Bowie grava álbuns memoráveis. A relação com a cidade rende a Bowie um reconhecimento de sua colaboração para a queda do muro e a identidade da cidade pelo departamento de Relações Exteriores da Alemanha em um tweet de condolências pela morte do cantor.

“I, I can remember / Standing, by the wall / And the guns shot above our heads / And we kissed, as though nothing could fall / And the shame was on the other side / Oh we can beat them, for ever and ever  / Then we could be Heroes, just for one day”

Heroes

Chegamos ao Pop…

A fase mais pop de Bowie consiste da sequência Scary Monsters (and Super creeps), Let’s Dance (contando com um desconhecido Steve Ray Vaughan na guitarra durante as gravações, mas sem acompanhá-lo na turnê), Tonight (trazendo uma parceria com a Tina Turner) e Never Let me Down.  Nessa época também é lançado o single de Under Pressure, sua famosa parceria com o Queen e de Dancing in the Streets com Mick Jagger a fim de levantar dinheiro para o Live Aid.

 

 

“It’s the terror of knowing / What this world is about / Watching some good friends / Screaming, “Let me out!” / Tomorrow gets me higher / Pressure on people – people on streets”

Under Pressure

Quero ser mais um…

O excesso de exposição dessa fase leva Bowie a tomar uma decisão inesperada.  Ele monta uma banda: no Tin Machine, a idéia é que ele seja mais um integrante da banda. O guitarrista que o acompanha na empreitada é Reeves Gabriels. Após um disco e uma turnê bem sucedidos temos o público abandonando a iniciativa. Singles não chegam as paradas, shows mais frios e vazios levam a interrupção do trabalho no segundo disco da banda. Em seu lugar Bowie sai na turnê mundial Sound + Vision tocando suas músicas mais populares do início da carreira.

A retomada do trabalho com o Tin Machine não resiste ao fracasso do segundo disco e de um posterior disco ao vivo.

And Vision? 

Como vimos no nome da turnê Sound + Vision a preocupação do artista é com ambas as faces de sua obra. Bowie foi muito além de videoclipes extravagantes e geniais. Bowie se tornou um ator respeitado. Nessa seção quero mencionar algumas de suas obras mais relevantes no cinema assim como o motivo pelo qual descobri Bowie ainda criança.

Bowie interpretou personalidades reais como Tesla em The Prestige, Andy Warhol em Basquiat, Pôncio Pilatos em A Última Tentação de Cristo e a si mesmo em Zoolander.

Foi o alienígena em O Homem que caiu na Terra, um agente federal em Twin Peaks, um vampiro em The Hunger.

Bowie fez muitos papéis, mas provavelemente ele será lembrado principalemente como o Príncipe Jareth, o Rei Goblin. Ainda criança assisti no cinema o filme, fiquei maravilhado com a história, a música e aquele vilão com uma proposta intrigante… “Eu peço tão pouco.  Apenas me tema, me ame… Faça o que eu mandar e eu serei seu escravo“.

Saindo do cinema fui direto para uma loja de discos atrás da trilha sonora e consegui convencer meus pais a me darem a fita cassete original da obra. Músicas como Underground, Magic Dance e em especial As the World Falls Down fizeram parte da minha infância e me levaram muito cedo ao restante da obra do compositor.

“There’s such a sad love / Deep in your eyes. / A kind of pale jewel / Open and closed / Within your eyes. / I’ll place the sky / Within your eyes.”

As the World Falls Down

Fase Eletrônica…

Durante a década de 90, seus trabalhos começam a se voltar para a música eletrônica nos discos. Black Tie White Noise é o primeiro exemplar dessa fase. Casado novamente e morando nos Estados Unidos, o álbum trás o retorno à carreira solo juntando elementos eletrônicos, soul, hip hop e rock alternativo.

Seguido pelo quase Industrial Outside, e apoiado na turnê por um dos maiores representantes do gênero Trent reznor e seu Nine inch Nails, o disco é conceitual e baseado em um conto escrito por Bowie. Não encontrei ainda esse material, mas estou procurando. Hallo Spaceboy, teoricamente, traz o retorno do Major Tom e lembro de comprar esse álbum no lançamento em uma ida na mitológica Galeria do Rock. Minha favorita de longe… The Hearts Filthy Lesson.

Earthling é um disco de Drum’n’Bass e esse período ainda traz uma colaboração com o Placebo lançada de maneira limitada.

O álbum seguinte Hours… é um marco para a Internet e foi o primeiro álbum de um cantor de um grande selo disponível para download na íntegra, tendo sido lançado nesse formato 2 semanas antes do formato físico. Apesar de estar longe de ser um fracasso, o experimento acaba resultando no primeiro álbum de Bowie fora do Top 40 desde Ziggy Stardust em 72, quase 30 anos antes.

O álbum seguinte Heathen lançado em 2002 é fortemente influenciado pelos acontecimentos do 11/setembro do ano anterior.  Apesar das músicas já estarem compostas quando do evento, o clima acabou afetando o processo de produção / pós produção do álbum. Entre outros, David Grohl, Pete Towshend e Jordan Rudess (Dream Theater) participam das gravações do álbum como convidados.

Em 2003 Bowie lança reality por seu próprio selo. Elogiado pela crítica foi lançado em uma multitude de versões como SACD, com faixas bônus, com DVD ao vivo bônus em estojo normal e em Digipack.

Voltando ao fim…

Apenas em 2013 Bowie volta a lançar um álbum.  O esperado retorno vem com o excelente The Next day após a ausência de 10 anos dos estúdios. O álbum foi transmitido por streaming no itunes dias antes do seu lançamento formal. Apesar de ser um excelente disco, nada poderia nos preparar para o que viria a seguir.

FIM?

Início de 2016, marcado para o dia de seu aniversário de 69 anos, o lançamento de Blackstar está sendo aguardado ansiosamente pelos fãs. Fora das páginas de jornais e revistas o único assunto que vejo na imprensa é o material sendo lançado por áudio em serviços de streaming como singles e o clipe de Blackstar (possivelmente a despedida do Major Tom).

Junto com o lançamento é liberado mais um videoclipe magistral entitulado Lazarus. Tudo isso em uma sexta feira e ainda estamos começando o ano. Escuto o álbum na estrada sábado de manhã. Excelente álbum. Boas linhas de baixo e bateria. Na segunda feira acordo e vejo a mensagem de um amigo perguntando “O Bowie morreu?’. Me primeiro pensamento é “claro que não! Ele deve estar estranhando a quantidade de notícias, mas não deve estar sabendo do lançamento…” e então eu entrei no Twitter.

O choque, a frustração, as citações por todos os lados e o filho dele Duncan Jones (o cara que fez Moon) dizendo “É verdade” trouxeram naquele instante uma verdade irrefutável, eu perdia um dos maiores heróis da minha juventude. Milhares de pessoas ao redor do mundo se tornaram piores ao mesmo tempo por terem perdido umaBlackstar inspiração. Um artista completo, controverso, ousado e ao mesmo tempo popular. Bowie trazia o que existe de melhor em cada um de nós que produz arte quando mostrava que é possível ser inovador e popular ao mesmo tempo.

Naquele instante começavam a aparecer as análises e teorias sobre seu álbum de despedida. Tudo nele é um memorial e uma vela. Vi uma definição imbatível dada por Leonel Caldela no Twitter: “David Bowie criou sabendo que ia morrer. Incorporou a morte à arte e vice-versa. Resignificou a morte. Isso é gigantesco.” Não tenho como dizer nada tão conciso e claro quanto isso. Acho que ainda vou levar meses para entender o que aconteceu… mas ainda vou acreditar que essa frase é verdade. Em seu último adeus, o artistas mais inovador e completo que eu acompanhei ousou mais uma vez e nos deu algo único. Bowie ainda tinha muito que podia fazer, mas o que posso dizer é: vai em paz você nunca será esquecido… sua arte permanece para sempre.

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Rodrigo Fernandes