[Coluna] NaNoWriMo 2015: Eu sobrevivi

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No final de Outubro, precisamente no dia 29, dando uma olhada no Facebook, me deparei com algumas pessoas confirmando presença no NaNoWriMo 2015.  Não pensei duas vezes, cliquei em confirmar, depois procurei pelo site no google e me cadastrei. Beleza. Dali a dois dias eu começaria uma nova história e a teria completa dentro de 30 dias. Seria fácil? Claro que não. Resolvi arriscar e ousei não pensar (coisa difícil) nas dificuldades que teria pela frente. Chamei o chefe, o Sr. Lucien, e me expliquei, iria ficar ausente do Leitor Cabuloso, o mês de Novembro seria uma espécie de Agora ou Nunca, o que ficou mais para o “Se Vira nos 30”.

Começando do começo, o que é esse tal de NaNoWriMo? Sei que muita gente ainda não conhece essa espécie de desafio anual que acontece desde 1999, o projeto é bem antigo, né? Quando eu atualizava a mente e mostrava um print no Facebook, chegaram a me perguntar se era um aplicativo. Não estranhei o desconhecimento. Eu somente tomei conhecimento do projeto há uns dois anos, não sei precisar muito bem. Meu conhecimento superficial era de que pessoas do mundo inteiro se desafiam a escrever um romance de 50 mil palavras em 30 dias durante o mês de Novembro. NaNoWriMo é a abreviação de National Novel Writing Month, o que seria como Mês Nacional Escrevendo Romance (ou quase isso, perdoem minha tradução tosca).

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No NaNoWriMo autores amadores e profissionais, marinheiros de primeira viagem, aventureiros, aqueles que esquematizam sua história do começo ao final, cena por cena, ou aqueles que fazem um esforço quase mediúnico (tipo eu, a louca) participam da guerra diária que é vencer a procrastinação, insegurança e autocrítica durante esses, que podem ser longos  30 dias de maratona de escrita.  O grande lance é desligar o seu editor interno e mandar ver. E sim, colocar a escrita como prioridade durante esses dias, eu acabei negligenciando forçadamente algumas coisas, mas foi por um bem maior, no dia 30 eu tinha alcançado a meta de 50 mil palavras do meu primeiro ano de NaNoWriMo, o que foi uma grande vitória já que eu estava bastante desestimulada com a escrita e desgastada também. Antes eu havia tentando progredir com o segundo volume de uma série, esquematizei toda estrutura, fiz leituras de pesquisa, mas a coisa literalmente não andava. Daí eu ficava me perguntando, será que consigo fazer de novo? Escrever outro livro? Para quem trabalha com a literatura sabe como ela precisa de atenção e dedicação, e meu cérebro simplesmente desativou a área “foco”. Depois que publiquei o primeiro livro passei por uma angustiosa fase em branco, somasse aí 1 ano. Além de tudo a divulgação dele acabou me tirando o gás e eu fui murchando inconscientemente. Eu me culpava por minha ininteligência, falta de disciplina, eu não conseguia seguir uma receita, sabe aquelas dicas que lemos por aí? Escreva 5 mil palavras por dia, esquematize a estrutura da sua história, planeje as cenas, tem que crie até o mapa astral do personagem. Regras e mais regras. Elas podem dar certo? Para uns sim, outros não. Desculpem, mas eu sou  porra louca na escrita. Fiz tanto planejamento para o segundo livro e não deu em nada, acabei chutando o pau da barraca e tirando todo esquema que tinha colado na parede. Agora, ele está bem escondido debaixo do meu colchão.

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Quando eu comecei a história no dia 1, eu só tinha três coisas para ela: o nome do protagonista, uma característica física e o cenário onde o enredo se passaria estava mais ou menos criado na minha imaginação, mal tinha notas sobre ele, apenas coisas avulsas. Penso que Meninos do Ocaso, o livro da fantasia urbana gótica que escrevi no NaNo, nasceu do cenário, uma ideia que eu já vinha amadurecendo há 2 anos mais ou menos. Sei que não é muito recomendável começar um desafio desses do zero, mas dei a cara a tapa. E confesso, foi bem complicado. A primeira se passou tranquila, eu consegui bater as metas diárias com determinado esforço, mas a segunda semana foi o terror para mim, a história tinha simplesmente me abandonado e eu estava sofrendo as consequências do esforço da primeira semana, sim, eu fiquei cansada, é incrível como o trabalho que demanda a criatividade, principalmente a escrita, me cansa, se eu fizer rotineiramente entro em colapso. Resultado: fiquei 3 dias sem escrever, às vezes me dava ao luxo de fazer uma frase. Ah, é incrível como eu me distraio com qualquer bobagem, até uma formiga por ser como um circo, meus olhos ficam perdidos de repente, meu cérebro desliza, hiberno por cinco segundos, acordo sem saber o que realmente estava fazendo.

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Um dos fatores que não me fizeram desistir foi o grupo criado no Facebook lá os participantes compartilhavam suas angústias, dificuldades, e sucessos, sim, havia pessoas que conseguiam bater a meta em menos de 1 semana. Todos se apoiavam mutuamente, e cada um seguia no seu ritmo. Também tivemos um recado de apoio de Neil Gaiman, li que o autor participou do primeiro NaNoWriMo. É veterano de guerra.

No final da segunda semana pensei em desistir de verdade, fiquei atrasada em 8 ou 10 mil palavras, mas daí pensei, ainda faltavam 10 dias, dava para recuperar, cheguei até a matar aula para correr atrás do prejuízo e na madrugada do dia 30 cheguei nas longínquas 50 mil palavras. A gente escreve em qualquer editor de texto e coloca no contador do site, lá ele conta as palavras, quando fiz isso pela primeira vez, ele me deu mil palavras a mais, isso também contribuiu para que eu continuasse, pois o contador do Word me indicava que eu estava muito, muito atrasada.

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Eu sempre preferi escrever de madrugada e com o NaNo não foi diferente, mas tive de me habituar em estender as horas para consegui bater as metas diárias, na última semana consegui ultrapassá-las e já vislumbrava o final, tive um misto de satisfação e pesar. Primeiro, eu estaria finalmente terminando a primeira versão do meu segundo livro que veio num momento inesperado e cheio de dúvidas. Segundo, o meu pesar em dar fim àquela história, ao novo mundo sombrio e cinza, e seus personagens sedutores, perigosos, melancólicos e ainda sim cheios de vida, mesmo que frágil. O mundo de Ocaso me fará falta, é a brisa fria que entra sorrateira pela porta entreaberta na madrugada.

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A proposta do Nano é fazer com que o trabalho continue, assim que o terminamos a primeira versão, logo ela precisa ser reescrita e revisada durante o mês de Dezembro. Ao final, ganhamos até um certificado para congratular nosso esforço, que deve ser sempre contínuo, esse é o grande ensinamento. Eu vou deixar a minha nova história de molho por um tempo indeterminado e continuar as outras pendentes. Desde o dia 1 estou sentindo um completo vazio, parece que está faltando alguma coisa, daí percebi que o NaNo despertou algo em mim que eu achei que tinha perdido: a minha vontade e prazer em contar histórias.

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