Fazer uma retrospectiva é sempre algo maçante. Enumerar fatos – sejam bons ou ruins – acabam na maioria das vezes nos fazendo perceber que as memórias mais fáceis de evocar são aqueles que desejamos esquecer. Por isso, acho importante recordar, para buscarmos o que aconteceu de bom. Nossa vida não é uma linha reta, já que durante o ano somos muitos “eus”. Existem o “eu” familiar, o “eu” profissional”, o “eu” para os amigos”, o “eu” virtual (porque não?) e cada eu desses contém mais subdivisões, logo resumir um ano como péssimo ou maravilhoso é simplificar algo que está longe de ser simples: uma vida.
Há exceções, claro que há. Nós passamos por diversas situações que estão além do nosso controle, contudo não quero focar nesse aspecto, pois como disse mais acima se iniciarmos uma lista não faltaram itens para ela. Eu sei que nem tudo foram flores neste ano que finda. Sei, no entanto, que várias coisas que aconteceram de ruim me serviram como aprendizado (é clichê, dizer isso! Tá tá tá, eu sei, eu sei, mas pare para pensar: quando realmente aprendemos algo? Quando podemos dizer que somos experientes em algum assunto?). Em educação o conhecimento novo se dá quando um saber antigo é derrubado mediante apresentação do novo saber, porém é fundamental que o conhecimento que antes considerava-se como verdadeiro seja exposto e desmistificado para só então o novo poder se fixar na mente do aluno. E isso é aprender. Um momento ruim que é vivido nos ensina, nos educa, nos prepara. O momento bom, apenas é.
Talvez por isso lembremos mais daquilo que não queríamos lembrar do que daquilo que julgamos que devêssemos emoldurar como algo para nunca ser esquecido. Mesmo a perda de alguém que amamos muito ou o conhecimento de uma doença danosa em nós ou em alguém muito próximo nos ensina. Eu perdi, meu pai há alguns anos e aquele momento me fez questionar o quanto eu havia sido um bom filho para ele. O luto veio e passou quando me dei conta de que eu o amei como ele me amo e nossa relação foi construída como tinha que ser. Fomos pai e filho. Ainda hoje, lembro suas frases e sempre dou um grande sorriso quando alguém diz: “Nossa, mas você lembra muito seu pai”. Ele vive em mim.
Atualmente diversas pessoas – próximas a mim – estão passando por uma situação financeira delicada. Algumas perderam emprego, outras estão endividadas e a culpa vem rápido exigindo que eu faça algo, mas nem sempre é possível. Onde está a aprendizagem? Existem várias. Primeiro que você apoiar alguém nem sempre significar dar algo que ela precisa. Dar dinheiro nem sempre ajuda (e falo de casos bem particulares de pessoas que estariam mais endividadas caso houvesse um suporte financeiro, já vi isso acontecer). E ouvir alguém, coisa que está se tornando rara hoje em dia, não resolve problemas, mas acalenta. Deixar que o outro ouça sua própria voz ecoada de você é muito precioso, acredite! Também revi minhas contas e passei a ser cuidadoso com meus gastos. Ir ao supermercado? Lista na mão e o pensamento de comprar aquilo é estritamente necessário. Saídas ao shopping? Cartão de crédito fica em casa. Não posso comprar à vista? Então talvez isso possa esperar um pouco mais. E por ai vai.
E 2016? O que será desse ano? Não sei. Não sei mesmo. E se parar para pensar é melhor assim. Isso é viver. É não saber como será o dia seguinte. Será igual ao anterior? Haverá surpresas? Eu tenho meus próprios objetivos para o próximo ano, tenho meus planos, meus desejos, meus sonhos… estou vivo e espero conseguir tocar vários deles em 2016. Espero cometer vários erros e que possa aprender com eles. Que use as situações mais desagradáveis com um forma de crescer, ser humilde e perceber que assumindo o erro o mais rápido possível já ajuda e muito no processo. Será que consigo? Espero não magoar ninguém, porém sei que vai acontecer. Quero pedir desculpas, não para esquecer, mas para mostrar que sou grato por aquela lição.
Eu sei que este texto é bem pessoal. Não faço ideia quem é você que lê neste momento esse devaneio. Minha palavras podem não se aplicar a você, contudo acredite eu lhe desejo o melhor. Que você tenha boas festas de fim de ano. E que possamos errar mais e, portanto, aprender mais, crescer mais em 2016. Que os momentos bons existam, mas que não trabalhemos em busca deles, já que eles são o que são, não nos enriquecem, por isso talvez durante a leitura deste texto você tenha procurado afastar as lembranças ruim e caçando os pequenos momentos para que eles se sobreponham aqueles. Aceitar que os momentos ruim fazem parte de nossa vida e nos constituem não torna 2015 melhor, mesmo assim não nos faz lançar sobre o que ano que vai nascer a responsabilidade de superar seu antecessor.