Quando comecei a escrever esse artigo já estava pensando em mandar um e-mail para o meu querido editor Lucien, dois dias após o prazo de entrega, alegando ter sido abduzida por vacas alienígenas ou qualquer coisa que o valha, por isso não tinha conseguido entregar a quantidade de artigos solicitados. Claro, por conta dos experimentos sofridos por mim durante a abdução eu precisaria de um tempinho para me recuperar de, talvez, uma semana! Aí olhei para a minha estante, vi uma menina de cabelos coloridos e sorriso atraente me encarando, e enxerguei ali a salvação do meu trabalho como colunista aqui no Leitor Cabuloso.
A diva de hoje não saiu de um livro, mas de uma graphic novel. Ramona Flowers, de Scott Pilgrim, é uma das personagens mais cativantes e irreverentes que já conheci. Para quem não conhece a HQ, eu recomendo. São três volumes super divertidos de autoria de Bryan Lee que narram as aventuras do herói Scott Pilgrim contra os sete ex namorados do mal de Ramona.
Já vi muitas pessoas declarando que “simplesmente odeiam a Ramona” e, em geral, os argumentos param em “como ela faz o pobre Scott sofrer por causa de todos os caras com que já ficou, essa v…”. Da minha parte, não tive como não amar uma americana que se muda para o Canadá, é entregadora da Amazon e usa rodovias subespaciais para se locomover, além de pintar o cabelo com cores inusitadas sempre que dá vontade.
Flowers incomoda porque é livre. Porque é espontânea e verdadeira. Porque se arrepende das coisas que fez e, por mais que fuja, tem sempre um fantasma do passado em seu pé. É, ao mesmo tempo, uma figura trágica e engraçada. Ela funciona como um divisor de águas na vida de um Scott distraído e desregrado, não porque torna a existência dele mais simples e cômoda – vocês sabem, o padrão das mocinhas em algumas histórias por aí – mas porque vira tudo de pernas pro ar. Scott Pilgrim é uma graphic novel divertida e, ao mesmo tempo, carregada de peso emocional. Ramona carrega boa parte desse peso.
E, acredite, não é difícil achar Ramonas por aí. As amigas divertidas e solitárias. As irmãs meio maluquinhas e de bom coração. As mulheres que passam por nossas vidas, mesmo que rapidamente, e que causam aquele tumulto, aquela mudança de chave. Que fazem surgir pensamentos do tipo “Há algo de estranho aí mas… Caramba! Eu quero saber mais!” Identificou alguém? Pois é! Ramonas são sempre grandes achados na vida de alguém. Então, da próxima vez que uma cruzar o seu caminho, em lugar de armar a costumeira e preconceituosa defensiva, que tal ceder a ela um espacinho para sentar ao seu lado? Que tal oferecer flores para Ramona? Você não vai se arrepender!
(Em tempo! Há um filme baseado na obra que é simplesmente adorável! Não deixe de assistir!).