Daniel Galera, Michel Laub, Paulo Coelho e Paulo Scott são os autores brasileiros que estão concorrendo ao prêmio de 75 mil euros no International Dublin Literary Award. No total, foram indicados 160 livros de 44 países, escritos originalmente em 19 línguas.
O prêmio, organizado pela cidade de Dublin, tem por objetivo promover a excelência na literatura mundial e reconhece um único romance escrito originalmente em inglês ou que já tenha tradução feita para a língua inglesa (que é o caso dos nossos autores).
Veja abaixo por qual obra cada autor foi indicado e confira suas sinopses:
Daniel Galera foi indicado pelo livro Barba Ensopada de Sangue, publicado pela Companhia das Letras.
Um professor de educação física busca refúgio em Garopaba, um pequeno balneário de Santa Catarina, após a morte do pai.
O protagonista (cujo nome não se conhece) se afasta da relação conturbada com os outros membros da família e mergulha em um isolamento geográfico e psicológico. Ao mesmo tempo, ele empreende a busca pela verdade no caso da morte do avô, Gaudério, que teria sido assassinado décadas antes na mesma Garopaba, na época apenas uma vila de pescadores. Sempre acompanhado por Beta, cadela do falecido pai, o professor mergulha na investigação sobre o misterioso Gaudério, esquadrinhando as lacunas do pouco que lhe é revelado, a contragosto, pelos moradores mais antigos da cidade.
Portador de uma condição neurológica congênita que o obriga a interagir com as outras pessoas de um modo peculiar, o professor estabelece relações com alguns moradores – uma garçonete e seu filho pequeno, os alunos da natação, um budista histriônico, a secretária de uma agência turística de passeios. Aos poucos, ele vai reunindo as peças que talvez lhe permitirão entender melhor a própria história.
É também com lacunas e peças aparentemente díspares que Galera constrói sua narrativa alternando descrições sutis e detalhamento com diálogos ágeis e de rara verossimilhança, que dão vida a um elenco de personagens. Barba Ensopada de Sangue se propõe a resgatar e levar às últimas consequências temas e conflitos tais como: a construção da identidade e, nesse processo, as dificuldades que se enfrenta para entender e reconhecer os outros; a necessidade inconfessa de uma reparação talvez inviável; a busca pela unidade entre mente e corpo; o consolo afetivo que o contato com a natureza e os animais é capaz de proporcionar; e os diversos tipos de violência que podem irromper em meio a uma existência domesticada.
Michel Laub concorre com o livro Diário da Queda, também publicado pela Companhia das Letras.
Um garoto de treze anos se machuca numa festa de aniversário. Quando adulto, um de seus colegas narra o episódio. A partir das motivações do que se revela mais que um acidente, cujas consequências se projetam em diversos fatos de sua vida nas décadas seguintes – a adolescência conturbada, uma mudança de cidade, um casamento em crise -, ele constrói uma reflexão corajosa sobre identidade, afeto e perda.
Dessa reflexão fazem parte também as trajetórias de seu pai, com quem o protagonista tem uma relação difícil, e de seu avô, sobrevivente de Auschwitz que passou anos escrevendo um diário secreto e bizarro. São três gerações, cuja história parece ser uma só; são lembranças que se juntam de maneira fragmentada, como numa lista em que os fatos carregam em si tanto inocência quanto brutalidade.
Numa prosa que oscila entre violência, lirismo e ironia, com pausas para uma neutralidade quase documental na descrição de cheiros, gostos, sons, fatos e sentimentos, Diário da Queda é uma viagem inusitada pela memória de um homem no momento em que ele precisa fazer a escolha que mudará sua vida.
Paulo Coelho está participando com Adultério, publicado pela editora Sextante.
Linda tem 31 anos e, aos olhos de todos, sua vida é perfeita: ela mora na Suíça, um dos países mais seguros do mundo, tem um casamento sólido e estável, um marido amoroso, filhos doces e bem-comportados e um emprego como jornalista do qual não pode se queixar.
No entanto, ela começa a questionar a rotina e a previsibilidade de seus dias. Já não consegue suportar o esforço que precisa fazer para fingir estar feliz quando na verdade o que sente pela vida é uma enorme apatia.
Tudo isso muda quando ela encontra um ex-namorado da adolescência. Jacob agora é um político bem-sucedido e, durante uma entrevista, acaba despertando algo que havia muito ela não sentia: paixão.
Agora ela fará de tudo para conquistar esse amor impossível e terá que descer até o fundo do poço das emoções humanas para enfim encontrar sua redenção.
E Paulo Scott foi indicado pelo livro Habitante Irreal, publicado pela editora Alfaguara.
Após ter vivido a euforia e as promessas da abertura política no Brasil, Paulo encontra-se desiludido com os rumos que seu partido, um partido de esquerda, começa a tomar. Estagiário em um escritório de advocacia, o jovem se sente oprimido no trabalho e a dificuldade em manter relacionamentos estáveis, além de uma gastrite crônica cujos sintomas só pioram, o fazem levar uma vida infeliz, sem expectativas de um futuro de grandes mudanças como havia sonhado. Certo dia, voltando de um encontro político clandestino no interior do estado, Paulo se depara com uma indiazinha de 14 anos, com jornais e revistas apertados contra o corpo, parada na estrada sob uma forte chuva. Intrigado e sentindo-se no dever de ajudar, resolve lhe dar uma carona. A partir deste encontro, Paulo descobre, ou inventa para si, uma nova causa, um novo espaço para transgredir, sobretudo ao tomar conhecimento do que é de fato a vida da menina, Maína, condenada a viver com a família em um assentamento à beira da estrada, quase em estado de mendicância. O envolvimento de Paulo com os índios leva-o a estreitar os laços com a menina, de uma maneira profunda, o que acaba gerando uma grande transformação em ambos.
A lista de finalistas do International Dublin Literary Award será divulgada no dia 12 de abril de 2016, e o vencedor será conhecido no dia 9 de junho.
Via Publishnews